A luz do teu apartamento
é como um velho farol
nas noites mais solitárias,
ou quando falta-me um sol...
link da imagem
é algo muito simples e singelo, mas eu gostei desta trova, assim, do jeito como ela é...
1. Xique Xique, do Tom Zé é para mim a melhor música para representar uma cidade grande à noite.
2. Realizar um capricho infantil é algo deliciosamente divertido.
3. Nem todo exagero meu é figura de linguagem.
4. Melancolia está para mim assim como o mar está para um barco.
5. Nem tudo que é triste é para ser evitado mas muito do que é considerado alegre eu evito.
6. Estar alegre não é ser feliz e ser feliz não é ser alegre.
7. Eu nunca farei parte da matilha não importa se ela me acolha ou não.
8. E as vezes é mais seguro fugir do farol.
9. Os coadjuvantes são os personagens mais interessantes.
10. Ser um passageiro não é ser efêmero.
11. Tomar sorvete de casquinha azul num dia de chuva enquanto espero o ônibus é a melhor coisa do mundo.
12. A sanidade está para o homem assim como as janelas estão para o apartamento.
13. Observar uma cidade se movimentando à noite, com suas casas e suas janelas é o mesmo que olhar as estrelas.
14. As vezes estar sozinho é mais fácil quando se está acompanhado.
15. Infeliz é o homem que não se diverte ao pisar em uma poça.
16. Estou para um dia ensolarado de praia assim como um peixe está para o forno.
17. Meus dias felizes são os nublados.
18. Um homem considerado pelos outros como adulto é sem sombra de dúvida uma criança infeliz.
19. Me sinto mais seguro estando do lado de fora da caverna, e dormindo mais longe da fogueira.
20. Perfeita será a menina que conseguir entender o que realmente o mar me esconde.
21. Perfeita será a menina que conseguir entender o porque de ser uma atrocidade comer uvas passas.
22. E eu prefiro ser uma traça do que uma cigarra.
23. Um relógio de bolso mostra às horas como elas realmente devem ser.
Noturno
Um teto sem estrelas, perdido nos faróis, nas luzes das janelas e em tantos outros sóis... Um tempo sem estrelas e tantos holofotes, que tentam surpreende-las com luzes e tão fortes são olhos tão famintos que espreitam as cidades, em cada labirinto com toda a liberdade. E os homens no negrume se perdem em seus mundos, num vago e frio perfume de um gozo moribundo. N'um mundo moribundo...
Passagem
Eu não mais enxergo aquele meu rosto... Todo o meu falar calou e foi perdido lá nos vendavais de velhos desgostos, folhas de um futuro estranho e vencido.
Traços de um amor ao ontem retido todo num sonhar, ferrugem é o seu gosto... Traços de um homem viajante estranho e esquecido, homem que voltou n'um fim decomposto.
Já não mais enxergo aquilo que escrevo, esta má melodia de tempos amigos, este manuscrito de vis tatuagens.
Nem sei se me lembro além do que não devo: linhas que carrego in-derme e comigo numa confusão de mil maquiagens!
Aflição
Os girassóis se desmancharam nos carroceis das estações e as estações já se apagaram lá nos broquéis das gerações que desmembraram e se afogaram nas mais cruéis das aflições.
Nas mais cruéis das aflições!
Resistência
Eu escrevo um Soneto ultrapassado,
n’um tempo perdido do presente
querendo envolver-me de repente
em todos os dias abandonados.
Em rimas ruins e comoventes
eu escrevo um soneto amarrotado
na Fome de tudo e do Passado,
prendendo a torrente d’entre os dentes.
Montando meu Forte em metro e rima,
enfrento a ferrugem e o bolor
que o tempo me guarda com seu cerco.
Suas tropas são vagas assassinas
com mares e mares de um pavor
n’um mar de relógios... E me perco.