sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Palavras




Palavras

As palavras são almas que estão presas,
em um mundo sem forma, sem certezas,
seus mistérios são o nada, ton silente,
sem um peso que ao mundo se contente.

São uns inópios e informes e somente
vão existir esperando tão impotentes
um destino e um sentido, que a destreza
de um poeta as entregue a correnteza.

Correnteza das linguas infindáveis,
dos sentidos volúveis, dos viajantes
contadores de histórias e escritores.

Bem acabam se unindo as multidões,
tal criânças de inócuos corações,
vão se unir às belezas e aos horrores.

Feito para um amigo meu, talvez, vou mandar esse soneto para ele fazer uma sátira em resposta. Espero que gostem dele.
Abraços.

A idéia em si é brincar com as silabas nasais, as abertas e as fechadas... Mias sobre isso eu estou escrevendo sobre, logo logo eu posto uma matéria aqui.
Até.

POR QUE NÃO SE LÊ POESIA?




Já pensou em escrever um romance?" A pergunta, em tom levemente depreciativo, é despejada sobre a cabeça do poeta a cada novo livro. A resposta negativa gera no in....terlocutor do poeta uma tosse ou um constrangido balançar de rosto - ainda mais porque aquele que perguntou provavelmente nem leu a obra em questão. O engasgo soa algo como encontrar uma amiga, olhar para seu ventre, cumprimentar pelo bebê que irá nascer e receber de troco a afirmação seca, cruel: não, eu não estou grávida.
Há o julgamento informal de que poesia é perda de tempo. Tendo lançado até agora dois livros, não cheguei ao ponto de receber os pêsames, mas não falta muito para isso. Até porque o poeta é identificado como um defunto comercial e nunca será de bom tom dar as condolências ao próprio falecido. Mas, afinal, por que todo esse preconceito quando o assunto é poesia?

A resposta mais fácil estaria na baixíssima taxa de compra de livros no Brasil. O índice é de 0,8 livro não-didático por habitante/ano. Como ninguém leva um livro pela metade, não se chega a adquirir um volume inteiro, ficando longe de países como os Estados Unidos (sete livros por habitante/ano). Sobrariam para os versos as migalhas. O Prêmio Jabuti de Literatura, o mais importante do país, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, seria outra prova desse desinteresse. Nesse ano, apenas 63 livros foram inscritos na categoria poesia, 40 a menos dos 103 inscritos no ano passado. Nas livrarias, a seção de poesia dorme em algum canto obscuro, longe do alcance da visão dos leitores.

Todos esses dados seriam suficientes para indicar que o brasileiro não gosta de poesia. Será? O curioso é que boa parte das pessoas costuma iniciar-se na literatura por meio da poesia, seja em cartas, seja em cantadas extra-literárias para conquistar alguém. Mas o adolescente que se empenha em comover seu par é o mesmo que acha difícil a interpretação poética. Esse é o paradoxo: os poemas são considerados fáceis de fazer e complicados de ler. Como isso? Para muitos jovens, ainda vigora uma idéia romântica de criação. Poesia é pura inspiração, acessório para colocar em cabeçalhos de agenda. Faz parte do kit básico de sedução, ao lado das flores e do ursinho de pelúcia dado para a namorada.

Esse adolescente é o mesmo que tem horror à obrigatoriedade de ler os chamados poetas clássicos nas aulas de literatura - tudo para conseguir passar no vestibular. Aprende datas, o nome dos movimentos, mas não se inspira na leitura dos autores. O conjunto é resumido nos esquemas das escolas literárias e o texto em si termina relegado a um papel secundário. Toda trajetória de um escritor é abreviada a uma fria questão de vestibular. Sobretudo, o sujeito aprende que todos os bons poetas fazem parte do passado, culminando com a geração modernista de 1922 e uns poucos da primeira metade do século XX. Você já percebeu que não há praticamente nenhum poeta consagrado desde então, conhecido e lido como Drummond ou João Cabral?

Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar? Como foi que os leitores perderam o interesse pela poesia? Desconfio que a resposta esteja no fato de que os próprios poetas tenham perdido o interesse pelos leitores. A poesia como um exercício de linguagem, fria, escrita para agradar os professores de semiótica, torna-a cada vez mais distante do interesse dos leitores. Enquanto a poesia narrava uma história, era capaz de ser atraente, compreensível e proporcionar entretenimento, os poetas eram populares. E isso não era sinônimo de sentimentalismo barato, como o ato de despejar emoções no papel sem uma preocupação com a estrutura. O poeta era o equivalente a um músico, que tocava palavras como cordas de um violão.

Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea. Fora daí, ela passou a ser encarada de duas formas: a sentimentalista, à base de trocadilhos fracos, ou a acadêmica, difícil, culta, que atende a interesses universitários e não chega aos ouvidos da gente. Para sair desse impasse, talvez seja a hora de os poetas voltarem a contar histórias. É preciso fugir da armadilha que impõe que a boa poesia seja um exercício de linguagem e que qualquer poeta disposto a narrar a vida das pessoas seja etiquetado como menor. Não foi o público de poesia que desapareceu, como querem alguns teóricos da literatura. O que desapareceu foi a poesia em contato com a vida das pessoas. Talvez ela esteja adormecida, esperando que alguém traga de volta o simples prazer de ler um poema.



Fabrício Carpinejar é jornalista e poeta, autor de Terceira Sede e Um Terno de Pássaros ao Sul, ambos pela editora Escrituras.


Texto retirado da revista super interessante, Janeiro de 2002

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Corrente.... Acho que seja isso...

Meme:

Agarrar o livro mais próximo;
Abrir na página 161 ;
Procurar a quinta frase completa;
Colocar a frase no blog;
Repassar para seis pessoas:

Eis o meu caso:

“Quando se trata de “lei da natureza” como no século XVIII, ou de “astúcio da razão” em Hegel, por exemplo, de “princípio de ralidade” em Freud, da força das coisas nas observações populares, etc., não será o reconhecimento mais ou menos admitido de que há realizações que não são feitas de vontades precisas, de planificações harmonizadas?”
Violência Totalitária ensaio de Antropologia Política, de Michel Maffesoli, da Universidade de Estrasburgo.
Meme. Dado por. http://espiritodameia-noite.blogspot.com/

Passo para:http://peabiruta.blogspot.com/
http://tenhoduasteorias.blogspot.com/
http://petit-saumensch.blogspot.com/
http://poemaserealidades.blogspot.com/
http://maquinismo.wordpress.com/
http://cisnealvo.wordpress.com

Relento




Relento

Esses mundos internos, meu universo,
que desbravo adentrando pensamentos,
nesse mundo de etéreo sentimento
de memórias criadas que conservo.

Todo um mundo trancado vou fazendo,
feito um Deus em meu trono os observo,
e montando as histórias me disperso
ao moldá-las e velas se mexendo...

Nesses mundos internos eu sou Deus,
bem os crio sem tocar com dedos meus,
como um jóvem que inventa a sua paixão.

E por mais qu'eu recrie meus paraísos,
serão apenas uns fumos tão imprecisos
comparado à externa vastidão!

Milton Nascimento - Alunar

Alunar


Alunar, aterrar
Lá em casa minha mãe
Não parou de pensar
“Tudo em paz com nosso adeus”
Alunar, aterrar
”Assegure o amanhã”
E o sol vertical
Fogo solto na manhã
Alunar, ilusão
Ver Aquele Musical
Tudo em paz
Se eu morrer
Não me esqueço de você
Alunar, alunar
Fogaréu vertical
Aterrar, aterrar
Não preciso de seu medo, mamãe
Só morrer é seguro
Tudo em paz, tudo bem
Quero ver soluções
Boa noite, meu bem
Tudo em paz com nosso amor e depois
Só morrer é seguro
Anjos de cristal
Velharia lá de casa
Côres, corpos, casa
Alunar, aterrar
Assegure o amanhã
E o sol vertical
Velha estrela de latão
Ilusão, ilusão
Tudo bem com nosso amor
Alunar, aterrar
Lá em casa minha mãe
Não parou de pensar
Ver aquele musical
Tudo em paz, se eu morrer
Não me esqueço de vocês.

Alunar
Lõ Borges – Marcio Borges
Interprete Milton Nascimento em Álbum homônimo, uma melancolia muito forte aliás... Album de 1970.
Esses caras, Milton, Lo Borges, Beto Quedes e por ae vai... Eles tem muito do que acho eu só viria a aparecer mais tarde nos anos 80, com outro movimento artístico, que ignorou ao chegar a cá muito do que já fora feito....

Milton em especial (não é apenas um ponto de vista meu) parece ter alguma chama em comum com Cruz e Souza, uma melancolia que parece sendo apenas deles, apesar deles serem tão diferentes entre si, e em seus trabalhos. Seria magnífico ver um poema de Cruz e Souza musicado pelo Milton Nascimento... Posso ter certeza disso.

Bom, vale a pena sonhar.

Minha mãe colocava Clube da Esquina para mim escutar quando eu era pequeno, deve ser mais ou menos por isso que eu sou as vezes meio assim... Uma faixa em especial que faz de lembrar de meu berço acho, a faixa dez do Clube da Esquina. Outra música também é a Cravo e Canela, que me faz lembrar não sei porque de uma doceria que tinha em São Paulo, se não me engano, próximo a Praça do Por do Sol, dos meus primeiros seis anos de vida.

Fiquei anos sem escutar esse álbum e quando voltei me veio muitas lembranças de infância, mesmo que o sentido da letra não tenha relação, está ligado a determinadas memórias. Sendo outras em especial como, por exemplo, é a (faixa doze), sendo esse mais por uma identificação recente...
Misturado um pouco com o desejo de ter um quarto só meu... Bem, quem é TDA deve me entender de certo modo... Hoje em dia com o ouvido mais treinado e um pouco mais de noção para entender as letras, elas acabam ganhando muito mais peso do que quando pequeno, mas as vezes acho que as fantasias que eu tinha viajando naquelas composições inimagináveis fazia elas dentro de minha cabeça terem um tom ainda mais fantástico, muitas cores a mais... São dois albuns diferentes, cada qual com seus encantos... É a vida... Cada qual com uma relação com fases diferentes de minha vida... Como será o Clube da Esquina para mim quando eu for adulto? Ou quando velho? Como será todos os outros grandes álbuns de minha vida, como Quadrophonico de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, ou os dois Magníficos Cantoria?

Esses álbuns são como o primeiro beijo, a primeira namorada ou o primeiro dia de aula, a gente nunca esquece e todos os demais serão uma sombra daquilo que passou, poderão ser tão bons quanto os primeiros, e alguns ainda melhores, mas não terão aquela mágica e aquela força...

Nossa... Tanta coisa apenas pelo fato de eu ter posto uma letra de música no blog, grande comentário... Mas agora não vou mais incomodar vocês, tenham uma boa tarde e até.

Abraços.

Marcel Angelo

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Liberdade

Liberdade

Sentados abrigados do mau tempo,
um grupo de pessoas, em seus momentos
apenas veem o mar, acham bonito
bonito... Como quêm não mais entende,
um verso um quadro um sonho de conflitos,
“bonitos” os conflitos d'uma mente...

Sentados maldizendo a tempestade,
não veem o transpassar da eternidade
o ser tal personagem, majestade
olhando lá distante os passageiros
de vasto mundo eterno, foi primeiro
no mundo a concerber a nossa chama
a tempos esquecidos, bem reclama
no palco que compõem, por algo clama...

Sentados ofuscados em seus problemas,
não olham para o mar, seus horizontes
são nuvens empoeiradas por esquemas
jogos de dominar, vivem aos montes
felizes a jogar... Eu a peguntar...
Eu sou também um ser nesse dilema?
Sentado sou ofuscado nos meus problemas?
Não olho para o mar, meus horizontes
são nuvens empoeiradas por esquemas?
E nesse meu pensar enrugo a fronte
meu mundo por montar talvez desmonte..

Báh!

Olhando as tais pessoas, penso comigo:
“Se dane vou viver na tempestade,
bem vou me divertir, eu bem consigo,
a chuva vou tocar, vou com o vento
partir e pouco importa minha idade,
nas nuvens desmanchar-me em pensamentos.
Sentados abrigados do mau tempo,
sentado vou curtir a liberdade.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Iara

Iara

A Iara, também conhecida como Mãe D’Água, habita as águas do rio São Francisco e é personagem desta lenda indígena.

Segundo contam os barqueiros que viajam na região do rio São Francisco, quando chega a meia-noite, o rio adormece, é nessa hora que a Iara aparece.

À meia-noite em ponto, o rio fica paralizado: pára de correr e as cachoeiras deixam de cair. Os peixes param de nadar e deitam-se no fundo do rio, ficando imóveis até que o que está por vir se acabe. Os animais não ousam se aproximar da beira d’água e as cobras perdem o veneno. Não se ouve sequer um ruído na mata, e esse silêncio absoluto dura por aproximadamente dois minutos, tempo suficiente para que a Iara surja de dentro da água e suba a superfície, flutuando até encontrar uma canoa parada, onde possa se sentar e pentear os longos cabelos. A Iara é morena e tem cauda de peixe, além de ter os dedos ligados por membranas. Conta a lenda que é muito bonita, e nesse momento em que emerge das águas, todas as pessoas que morreram afogadas no rio sobem para as estrelas.

Os barqueiros que se acham no rio à meia-noite tomam todo o cuidado para não acordá-lo. Se um barqueiro precisar pegar água do rio, antes joga nele um pedacinho de madeira. Se o pedacinho de madeira ficar parado, o barqueiro espera, porque não convém acordar o rio. Se caso o barqueiro que estiver no rio continuar navegando e fizer barulho, será castigado pela Mãe D’Água, pelos peixes, pelas cobras e pelos afogados que não conseguiram alcançar as estrelas.

Um barqueiro muito moço certa vez disse não acreditar em nada do que se dizia sobre o rio, e ria muito de seus colegas, que o preveniam do perigo que havia em desafiar a Mãe D’Água.

Ainda assim, não acreditando no que lhe diziam, o barqueiro resolveu apostar que mergulharia no rio em plena meia-noite. E assim foi. Ao chegar à beira do rio, os outros barqueiros atiraram na água um pedacinho de madeira, que boiou, sem sair do lugar. O rio estava dormindo. Os barqueiros tentaram fazer o amigo desistir da aposta, mas apesar de estar com um pouco de medo e desconfiado, o jovem barqueiro não queria passar por covarde e foi em frente, mergulhando no rio.

Passou-se algum tempo, e como não voltou a superfície, os outros ficaram assustados. Porém, logo perceberam que o amigo estava aparecendo, saindo das águas. Então o trouxeram para a margem, mas o rapaz estava irreconhecível. Parecia abobado, e não reconheceu nem falou com nenhum dos amigos, que mesmo assim o acolheram e trataram dele.

Mas o jovem barqueiro não mais voltou a si, e certo dia, quando todos saíram juntos para o rio, ele pulou na água e afundou, inesperadamente, antes que alguém pudesse fazer qualquer coisa para socorrê-lo. E assim sumiu para sempre.

Conta a lenda que em uma noite, algum tempo depois do fato ocorrido, os barqueiros estavam à beira d’água, quando deu meia noite e o rio dormiu. Ficaram no mais absoluto silêncio, quando a Iara emergiu, sorrindo, sentando-se na canoa a se pondo a arrumar os cabelos. Então os afogados subiram para as estrelas, saindo de dentro d’água. E nessa hora os barqueiros viram o amigo, que ia com eles, para nunca mais voltar...
Este texto não é meu, foi tirado das revistas Aruanã, revistas de pesca de meu pai, que no fim das contas essa seçao de folklore acabou sendo uma das minhas principais influências na parte literária...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ave Sangria




Reza a lenda que o nome Ave Sangria surgiu da sugestão de uma cigana meio louca encontrada no interior da Paraíba pela banda, que na época se chamava Tamarineira Village. O vocalista Marco Polo explica: "Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho".

Os integrantes do Ave Sangria chegaram em 1974 ao estúdio de gravação Hawai, na Avenida Brasil, Rio de Janeiro, empunhando peixeiras, como uma forma de antecipar as piadas que viriam diante do fato de todos serem nordestinos, algo infelizmente comum na época e que ainda se pode ver hoje em dia. As gravaçoes foram cheias de problemas, o som saiu mais acústico e a banda esperava algo mais rockn'roll, o chamado "amaciado". Como se não bastasse a arte da capa sofreu um remendo, maneira que a gravadora encontrou para não pagar os direitos autorais ao ilustrador Laílson de Hollanda Cavalcanti.

Apesar dos contratempos, o disco consegue trazer um som original que mistura a psicodelia com as raízes da música nordestina. Um fundo musical para as viagens poetizadas contidas nas letras das belas canções que ilustram o trabalho.

Em 1975 o Ave Sangria se despediu com o show Perfumes & Baratchos mas deixaram sua marca viva na música brasileira e principalmente nordestina. Marco Polo (vocais), Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Juliano (percussão), o Ave Sangria, os Rolling Stones do Nordeste, apesar do falecimento precoce...brincaram de fazer música.

Fonte do BLOG

Músicas:
01. Dois Navegantes
02. Lá Fora
03. Três Margaridas
04. O Pirata
05. Momento na Praça
06. Cidade Grande
07. Seu Waldir
08. Hei! Man
09. Por Que?
10. Corpo em Chamas
11. Geórgia, a Carniceira
12. Sob o Sol de Satã

Corpo em Chamas
Ave Sangria


Quando eu botar fogo na roupa
Você vai se arrepender
De tudo o que me fez
Voce vai ver meu corpo em chamas
Pelas ruas... Ho, yeah

E o povo todo horrorizado
Iluminado pelo meu fulgor mortal
Eu vou dançar
Girando o corpo incendiado
Até cair no chão

yeh yehyeh yehyeh yeh

O grito agudo da sirene
Dos bombeiros
Alertando a multidão
Alguém falando que era um louco
No céu negro, a lua cheia a brilhar

Segure a mão de uma criança
Amão gelada
E a mãe gitando: "Não e não!"
E eu tão feliz
Guirando colorido
Sob as chamas do luar

yeh yeh yeh yehyeh yeh

Quando eu gritar não se arrepie
Lembre apenas
Das contrárias que me fez
Saia correndo e mergulha
Assim vesticda
Lá no mar... ho, yeah

Mas não vai ter mar que me salve
Da alegria deste salto
Em fogo e luz
Olhe pra mim
Essa é a peça de teatro
Mais bonita que eu já fiz

yeh yeh yeh yeh yeh yeh

Depois a noite há de descer gelada
Sobre os corações
De quem souber
E alguém dirá que foi
O primeiro a ver... oh, yeah

A presença selvagem
De um clarão vermelho
Rodopiando pelo chão
Esse sou eu
Dorido, dolorido
Colorido e sem razão
Ou não...

Alceu Valença


Ano de Lançamento:1974
Gênero:Udigrudi - Folck Rock Psicodélico
Tamanho do arquivo:37 MB


Faixas
01. Vou Danado Pra Catende
02. Borboleta
03. Punhal de Prata
04. Dia Branco
05. Cabelos Longos
06. Molhado de Suor
07. Mensageira dos Anjos
08. Papagaio do Futuro
09. Dente de Ocidente
10. Pedras de Sal
11. Chutando Pedras


Alceu Valença, com seus pés descalços e cabelos compridos, fez da irreverência o trunfo de sua carreira. Hoje é conhecido por misturar os ritmos nordestinos — como baião, frevo, xaxado e maracatu — ao rock, fado ou sons orientais. Em 75 foi para a rua, vestido de palhaço e com um megafone em punho, chamar o público para seu show Vou Danado Pra Catende. Quando tinha 4 anos, participou de um concurso de interpretação infantil. Cantou uma música de Capiba, mas não levou a caixa de sabonetes, troféu dado ao vencedor. Inconformado, começou a dar cambalhotas na hora da premiação. Ganhou a simpatia das pessoas e os sabonetes também.

Filho da classe média pernambucana, Alceu Paiva Valença nasceu no dia 1º de julho de 1946, em São Bento do Una. Na década de 50, mudou-se com os pais para Recife, onde chegou a se formar na Faculdade de Direito. Sua vida, porém, era participar de festivais de música.

Em 69 foi para a Universidade de Harvard, em Boston, mas, em vez de estudar, passava os dias tocando canções nordestinas em escolas e praças públicas da cidade. Na década de 70, de volta ao Brasil, Alceu viu sua carreira engrenar. Lançou, em 72, um disco em parceria com Geraldo Azevedo. Nesse mesmo ano, num dos momentos mais emocionantes de sua carreira, cantou Papagaio do Futuro com Jackson do Pandeiro no VII Festival Internacional da Canção. Em 74, gravou seu primeiro trabalho solo, Molhado de Suor, que abriu os olhos da crítica. Com o show Vou Danado Pra Catende, de 75, conquistou a admiração do grande público.


FONTE

Garranchos




Garranchos

Nas singelas mãos dos pequeninos,
delicados dedos mal se movem,
segurando crayons, na cartolina.

Concentrados olhos, esses meninos
bem laboram coisas que absorvem
misturando cores que os fascinam.

Rabiscam, rasgam, se lambuzam,
andam, perdem, quebram um giz,
quebram todos, comem alguns.

E das cores usam, bem abusam
com os olhos feito um aprendiz
fascinado em tudo e em qualquer um.

Desenhando linhas, vem desenhos,
vão montando mundos insondáveis
vão formando fundos pensamentos.

Giz de cera arranham com empenho
das infâncias findas e intocáveis,
como tantos anos derretendo....

Doze cores todas na caixinha
são mais belas juntas que sozinhas,
são mais belas novas que as usadas...

E o desenho em traços garranchosos
mesmo sendo estranhos e horrorosos
são as mais puras obras desenhadas!

Abismo

Ela tinha quinze invernos,
longos, ternos anos louros,
são tesouros frios perdidos
em sofrido naufragar.

Tantos cantos por nascer,
foi escolher nascer aqui,
nessa terra que por si
deixa-a morrer e se acabar.

Nessa terra de pessoas
que já mortas só respiram,
são insensíveis, não se inspiram.
Vivem atoa a definhar..

Ela tinha quinze invernos,
longos, ternos anos louros,
são tesouros frios perdidos
em sofrido naufragar.

Frágeis traumas bem costura
pelos panos que escolheu,
traspassando os sonhos teus,
que torturas por matar.

Em pessoas que por medo
são letargas, bem reclamam
perdem tudo que mais amam
sem um dedo levantar...

Ela tinha quinze invernos,
longos, ternos anos louros,
são tesouros frios perdidos
em sofrido naufragar.

Nesse mundo em que desleixam,
esse mundo que repleto
de grupinhos que seletos
nada deixam germinar.

Nesse canto de segredos ,
te escolheram pra brincar,
resolveram bem moldar
um brinquedo para usar.

Ela tinha quinze invernos,
longos, ternos anos louros,
são tesouros frios perdidos
em sofrido naufragar.

Como tola andorinha
foi no iferno ter alento?
Tola ingênua seu tormento,
chance tinha pra evitar!

Como escolhem tais abismos?
É mais fácil se iludir
crer num falso de existir...
Conformismo a anestesiar!

Ela tinha quinze invernos,
longos, ternos anos louros,
são tesouros frios perdidos
em sofrido naufragar.


Não que realmente seja para alguém, mas isso veio de algumas conversas com muitas pessoas, uma crise geral aliás. Espero que entendam.

Isso é um rondó.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Por Ali...


Por Ali...

Nessas estradas sinto a liberdade,
e vão passando envoltos de segredos.
Áh liberdade além dos arvoredos
áh gram histórias fora das cidades.

Esses caminhos pesam realidades,
que se passaram, fatos tal rochedos
ali fincaram, passam por meus dedos
feito memórias mortas pela idade.

Vou navegando o asfalto pela estrada,
ter aventura em carro... Não é nada,
se comparado pelo que se foi.

Lá nas janelas, veja aquelas serras,
cá navegaram barcos pelas terras,
barcos puxados na força dos bois.

Sonetos de “Praias de Minha Terra” - Araújo Figueredo

Sonetos de “Praias de Minha Terra” - Araújo Figueredo


Cena Real

Rita fora tirar mariscos ao mar-grosso,
Para dar de comer aos pequeinos filhos
Que eram, do seu amor, os mais fortes cadilhos
Numa pobreza atroz, de sombras de arcabouço.

Prendeu um samburá à curva do pescoço,
E buscou do rochedo os últimos rastilhos,
Temendo o grande mar que, em cada vaga, trilhos
Abre a cada momento. E cada vaga é um poço.

Mas uma vaga veio; e mais outras... Montanhas
De água vieram... E treme o seu peito de estranhas,
Profundas emoções! Ei-la, agora, rolando

Por êsse mar revolto! (Ah! Tristíssima cena!)
Com um trapo da saia ela, cheia de pena,
Diz aos filhos adeus, e êstes choram, gritando!...

Suicida

Do bordo do lanchão pôs-se a fitar o espaço,
Que tão cheio de luz se achava! Quantos astros,
Quantos mundos rolando, enlaçados em nastros,
Da eterna vibração, no infinito compasso!

Quis estender ao céu o seu pequeno braço,
Mas recuou porque, muito distante, os rastros
Dêsses mundos de luz lhe dariam cansaços;
E êles não são, por certo, os santelmos mastros...

-Quem pudesse morrer! (Disse êle) e, nesse instante,
Olha as águas do mar e vê um céu faiscante;
E dentro dêsse céu, a gôndola da lua...

Arroja-se de chofre, então, ao mar e morre,
mas, por tôda a enseada, uma lenda ainda corre:
Dizem que a alma do Zé nas ânsias continua...

Ilusão

Sopra rijo o nordeste. Anselmo vem à popa
De um leve batelão. Vem, contente, a cantar...
Nem se lembra que está sobre as ondas do mar:
E, destemido, d'água o largo pano ensopa.

A leve embarcação embaraços não topa,
Metida a quilha ao vento... É um passaro a voar...
Rumo da praia irá, num seio descançar,
De bôjo para cima, embutido de estôpa.

Mas , junto ao Cambirela, onde há um precipício,
Que a tanta gente dá o eterno sacrifício
Da morte, ei-la emborcada, a leve embarcação.

E nunca mais ninguém viu o pobre Anselmo:
Menos quem o tanto amou, e, na luz do santelmo,
Parece vê-lo sempre... E crê nessa ilusão!

A Rendeira

Que lindas rendas faz a saudosa rendeira,
Que horas passa sentada ao correr do portal,
De onde escuta a carriça a chilrear na lareira,
E o canário a chilrear no flóreo laranjal!

Aprecio-lhe o gôsto e a sublime maneira
Com que faz tanta renda, assim, para o enxoval,
Vai casar-se na ermida alegre da ladeira,
E fêz, duma camisa, um lírio original.

No momento em que a vi, a tarde feiticieira
Era uns veios de luz piedosa, espiritual...
E chegava da pesca uma leve baleeira.

Houve, então, um rumor de beijos no quintal...
E em cada humilde e bom olhar dessa rendeira
Cantava a rima azul de um sonho virginal.

Sonetos tirados do livro “Praias de Minha Terra” de Araújo Figueredo

Hoje se tem apenas, talvez uma rua acho... E alguns centros Espiritas com o nome dele, creio eu que além de poeta de vanguarda do simbolismo aqui em Desterro e no Brasil, amigo de Cruz e Souza, fora também um dos principais nome, na epoca, do Espiritismo aqui na ilha. Dizendo até que ele fora médiun, o que não posso dizer realmente, mas lendo alguns sonetos dele, pode-se levar-se a essa idéia.

Na epoca de Othon D'eça, de acordo com o livro”Homens e Algas” deste autor, não me lembro bem em qual cemitério em que fora enterrado, que seescuta ainda alguma voz a cantar no local, do qual ninguém sabe de onde veem, se mesclando com a paisagem, voz que atribuem ao poeta. O imortal Araújo Figueredo, uns dos maiores poetas da Ilha, que cantou sobre e para a Ilha, gravando então a memória de um tempo que já se fora em quase toda parte da ilha. Onde o mar não era um amiguinho de surfistas e turistas. De origem simples fora ele. Logo, como se pode ver, não é de se admirar que não se tenha edições novas dele, e que ele esteja se esvanecendo do conhecimento popular, pois, como tantos outros, ele mostra uma ilha que muita gente hoje em dia se preucupa em maquiar. Pois deve sobressair a imagem de uma ilha de veraneio bonita, com belos coqueiros e verão o ano inteiro. Não o que ela realmente é, uma Ilha de Mistérios, de História e de Tempestades.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Faróis

Essas lanternas sorrindo me afastam,
essas pessoas em seus grupos fechados
mundos diversos que dormem ao lado,
mesma cidade que ao encontro me arrastam.

Olhos abertos brilhando encostados
na luz do rosto meu, mundo escancaram
como se fossem lanternas devastam
as minhas sombras, meu mundo ofuscado.

Vulto de mundos de assuntos terceiros,
mundos de além dos assuntos que tenho,
longe das mãos e dos braços mantenho,
bem afastados dos fachos certeiros.

Vultos de luzes tão fortes são brancas
luzes que queimam em traumas, complexos
jogos pessoais de milhões de reflexos
que em cortes fincam e a dor nunca estanca!

Malditos rostos, lanternas que queimam,
na solidão os almejo e os desejo,
e se os alcanço os afasto em desprezo,
mesmo que os queira, mesmo que queiram.

Tal como um barco temendo atracar,
rodeio e contato os contatos precisos,
circulo a costa, mas sempre indeciso,
bem permaneço esquecido no mar.


Outro beeem pessoal...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cidade Modelo




Cidade Modelo

Folhas, papeis que mofam na humidade,
tempos perdidos, todos no bolor,
descasos sempre casos de rancor
e de apatia com tudo da Cidade.

Dizem os deuses:”Nada de verdade
desses registros tem agum valor.
Não dão dinheiro a história é um torpor
dos atrasados, vã futilidade...

… Meras mentiras mornas, tal besteira;
Se a tua cidade quer é ser moderna
tem que esquecer enfim dessas asneiras!”

Dizem em palcos belos, de finos mármores,
enquanto o povo imerso na baderna,
por uns espelhos, cortam as suas árvores.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tormenta



Tormenta

Pois bem senhor os seus demônios samam
cá em sua cabeça os seus pecados todos
pulsando culpa, por angustias clamam.
Pulsando medo em desespero rotos.

Pois bem senhor, os seus neurônios sangram
memórias presas. Os porões de engodos
abertos... Livres - descobertos - soltos!
Libertos traumas, descobertos dançam...

E a sua cabeça feita um gongorismo,
desesperada se dilata e treme,
e sua razão tal ilogismo teme.

Enfim acordas, em tal psiquismo,
em sua coberta. Racional e suando.
E o pandemônium, vai-se desmanchando.


Eu ia mandar para um concurso... Mas tava sem grana...
Foto de um trabalho de Dave Mackean, Preto e Branco, o nome deste é Nightmare.