Como ler os versos...

O Grande Sonho

Sonho profundo, ó Sonho doloroso,
Doloroso e profundo Sentimento!
Vai, vai nas harpas trêmula do vento
Chorar o teu mistério tenebroso.

Sobe dos astros ao clarão radioso,
Aos leves fluidos do luar nevoento,
Às urnas de cristal do firmamento,
Ó velho Sonho amargo e majestoso!

Sobe às estrelas rútilas e frias,
Brancas e virginais eucaristias
De onde uma luz de eterna paz escorre.

Nessa Amplidão das Amplidões austeras
Chora o Sonho profundo das Esferas
Que nas azuis Melancolias morre...

Cruz e Souza


Afinal, qual é a função da métrica?

Em primeiro lugar, leia aquele soneto em voz alta. Não se reprima, faça sua língua deslizar por cada palavra. Depois, leia este texto que o senhor está lendo agora, só que em voz alta.

Perceberá amigo leitor, a melodia que se encontra no soneto e não neste texto. Esta sonoridade e leveza de nosso saudoso poeta catarinense provém da simples simetria (assim como o ritmo, a melodia e o tempo para um musicista). São justamente estes elementos que dão graça e leveza ao trovador menestrel, ao repentista e também ardilosidade aos mestres da embolada e aos rappers. Cada qual com seus elementos, estilos e até técnicas diferentes.

Então, pelo fato de soar tão bem aos ouvidos o que quê isso tem de ruim?

Diferentemente dos gêneros mais modernos de poesia, esta, por um tempo tornou-se rigorosa demais dentro de certos grupos da sociedade. Onde, para ser um “bom poeta” bastava saber rimar cisne com tisne e principalmente preocupar-se com a métrica de uma forma mais formal.

E esta formalidade acabou por suprimir o fator Poesia. Isso NÃO significa, porém, que aquele menestrel, ou cordelista ou repentista ou tantos outros não tiveram Poesia em sua Arte. Justamente o contrário, foi a mentalidade progressista, racionalista e elitista que tirou a Poesia do Poema. Tendo como movimento contrário o Simbolismo e depois tantos outros dentro do Modernismo. Falávamos do Parnasianismo, embora, não devemos esquecer que dentro deste movimento existiram poetas que de certa forma não seguiram estritamente esta linha de pensamento, aliás, muitos poetas transitaram entre o romantismo, o parnasianismo, o simbolismo e o modernismo. Entra aqui o caso, por exemplo, dos poetas Luiz Delfino, Manuel Bandeira e Vitor Hugo, d’entre outros.

Pois é sensato admitir que o Artista como pessoa tem poder de transitar dentre vários períodos, e mudar assim como muda a época em que se encontra.

O métro, o ritmo e a rima são utensílios que sendo usados com parcimônia, garantem ainda mais a liberdade criativa do Poeta, afinal, “a praga é sempre mais devastadora na cultura única”.

VIVA A LIBERDADE DE CRIAÇÃO