domingo, 13 de outubro de 2019

Peter e Wendy


Peter Pan é uma peça que atravessa seu tempo.  Reverbera como uma teimosia infantil enquanto vislumbra futuros possíveis nas janelas dos quartos alheios. Sua paixão voyeur em observar vidas por ele inatingíveis é o sentimento de auto piedade. Auto piedade, é aquilo que verte e movimenta o corpo eterno daquele que não sabe brincar o jogo sem estar com o domínio das regras. Tudo é Pan! Peter TUDO, tudo é ele na terra do nunca. Em uma ilha onde tudo gira em torno dele, ele é a criança que tem a bola.  Olhando janelas das crianças que crescem, observa , fora do circulo, desejando compreender a brincadeira. Desejoso da sensação que o orgulho lhe nega, pois Peter Pan é criança... Uma criança sedutora como a infância, que estende a mão e promete te alienar de seu mundo.  O orgulho impede seu mundo simples de fragmentar-se, quando ele aprender a dançar no ritmo da dança Peter sairá da ilha. Mas ele é orgulho, ele é auto piedade, ele é uma ilha. Peter Pan não é Pan e só não o é enquanto for Peter, pois Peter é orgulho também, e não perdoa quando o seu berço fora levado pelo vento para o Parquinho.  Mas Peter dança em sua ilha, se enchendo de si, onde tudo é ele para ele, ele é o maravilhoso e pode entregar a receita para que se possa fugir de si nele, pois ele é tudo. Peter É e é a ilha seu parquinho e nela ficou.  Mas por mais que ele dance, por mais que ele recalque a ilha com seus pés, por mais que ele  grite, Peter observa Wendy crescer. Fascinado com tudo aquilo que ela se torna, Wendy cresce e se torna distante, Peter se torna memória para Wendy e um fantasma que torna ao seu quarto. O psicopompo já sem significado é outorgado para sua filha como um brinquedo antigo. Pois nós não podemos mais brincar. Wendy olha sua filha brincar como Peter a observa na janela de seu quarto, o desejo de sentir aquilo que não se pode sentir, a dança já sem a música pode-se imitar os paços mas não dançar. Essa paixão voyeur se contenta na empatia, na saudade, Wendy outorga Peter á sua filha para manter um laço distanciado com o passado.  Pois Wendy crescera e crescer é ceder, entrar na roda, sair da Ilha. Sair de sí.

Soneto


Soneto

“Escrevi uma carta e a deixei por ai
desfazendo na água d'algum momento,
com mensagens expostas no relento
de mortalha brasões em chãos que varri.

São palavras não ditas, fragmentos
de lembranças morrendo bem aqui
é um lugar, as memórias que exauri
formam frases composta no tormento.

É mortalha e Ulisses perdeu o destino
como a culpa em Morfeu, no desatino
de, quem sabe? Querer comemorar...

É papel que pensara em preservar
o troféu da carta morta e só,
meu silêncio selado torna ao pó.”

domingo, 6 de outubro de 2019

Vazio

Vazio
No vazio prolonga o choro mudo, desespero roto toca a tosse como a cria disforme que contorce esperando a dó d'um baque surdo. Fermentando apático e soturno, como um surto, como brio covarde corroendo a úlcera fulgura, um circense inferno sem alarde. Desespero que espelha e especula, vai parindo ratos pela casa, corroendo a cama enquanto durmo. Um silente ruído inoportuno, de quem vela um morto sob a asa, simulacro de mim que cá ulula.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Triolé - Arquétipo


Eu vi a mim mesmo, bem ali
com outro tu, todos iguais.
Contigo conversava sem ti!
Pois vi a mim mesmo bem ali
eu vi sim, juro cá que eu vi
velhos temas, rostos não mais
pois vi a mim mesmo bem alí
com outro tu, todos iguais.

Padrões

Eu vi padrões nas janelas,
que repetindo desbrotam
noutros temas, velhas telas
eu vi padrões nas janelas
novas telas, velhos temas,
roteiros nunca desbotam
eu vi padrões nas janelas
que repetindo desbrotam.


sábado, 16 de março de 2019

Perdidos - Triolé



Ah de dançar quem não sabe dançar
e se morremos havemos dançado,
já que se estamos co'o peito a queimar
ah de dançar quem não sabe dançar
com os açaimos lançados ao mar,
com os sapatos de alguém enforcado
ah de dançar quem não sabe dançar
e se morremos havemos dançado!

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Soneto




Soneto

Sei me virar na grama e no concreto
e sei fugir da aula p’ro parquinho,
no mundo cheio de bile e desafetos
aprendi á ficar melhor sozinho.

E no pátio escrevi nome e caminho, 
bucaneiro fui solto em mar aberto
sei me perder desde pequenininho,
jamais me achei debaixo de algum teto.

No meu orgulho infantil que bem me aprume,
 não entendi seus dialetos, seus  costumes
mas não me ative a coisas sem sentido.

Sem sentido por que me vi perdido
vendo na escola alunos conversando
de coisas que perdi , longe viajando...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Trioles - Tema "trilha"

 
São como trilhas numa mata
que o tempo cobre e distorce,
memória feita de folhas fartas
são como trilhas numa mata
que em velhos cantos desata
devora morde e contorce
tal como trilhas numa mata
que o tempo cobre e distorce.

Vertendo trilhas na floresta
memórias mancham as clareiras
vão coagulando  pelas frestas
vertendo trilhas na floresta
manchando o espaço que se infesta
ceifado pelas carpideiras
vertendo trilhas na floresta
memórias mancham as clareiras.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Tema: O vento varre a tarde inteira.


Triolé I

O sal do mar conserva e o vento
o vento varre a tarde inteira,
o sal do mar que parte ao alento
o sal do mar conserva o vento
e versa o ar no cal do tempo,
desfaz e traz nossa poeira.
O sal do mar conserva, e o vento?
Vento nos varre a tarde inteira.



Triolé II

O vento varre a tarde inteira
o pátio dentro dessa escola,
redemoinhos de sujeira
o vento varre a tarde inteira
o que restou, nossa poeira
memória nossa nos assola
e o vento varre a tarde inteira
o pátio dentro dessa escola.



Triolé III

Regurgita o mar o sal na areia,
e o que desenterra exterioriza
retornando outro, o que arpeia
regurgita o mar, o sal na areia
o vento o varre a tarde inteira
corrói, digere, pereniza,
regurgita. E o mar, o sal na areia
o que desenterra exterioriza.