Vendo agora, eu falei mais sobre o rondó de Silva Alvarenga, vou estudar mais as “outras formas dessa forma”, e postarei posteriormente.
O rondó, forma poética medieval francesa, tem sua notabilidade com Guillaume de Machaut, Eustache Dechamps, Charles d'Orleans, devendo, originalmente, ser destinado ao canto e consistindo de três estrofes, com um total de doze e quatorze versos e o esquema das rimas recorrentes. Variando o números de versos e o esquema das rimas, o verdadeiro apoio fonético que em breve o caracterizaria passou a ser a repetição do primeiro verso ao fim da segunda estrofe e ao fim da terceira estrofe, isto é, do rondó. Variação subseqüente, que se pode chamar rondel, consistiu em repetir, em numero maior de versos, o primeiro verso pela altura do oitavo ou de um dos seguintes versos e no fim do poema. ------------- Os rondós de Silva Alvarenga representam um fim de evolução da forma, com estrutura sensivelmente diferente. Consistem, quase todos, em quatro grupos de três quadras, sendo repetida a primeira quadra, em forma de estribílho, no início de cada grupo assim como no fim do poema – o que totaliza, por conseguinte, quinze quadras ou 52 versos. Discrepam dessa estrutura estrófica o rondó XLIII, que consiste de sete grupos de três quadras, terminando cada grupo pela mesma quadra, em forma de estribilho; o rondó XLIV, com uma quadra inicial, seguida de um estribilho em forma de dístico, ao fim, num total de doze quadras, com o dístico repetido sete vezes; e os rondós XLV, XLVI e XLVII, que consistem de duas quadras, seguidas de dístico, mais duas quadras, seguidas do dístico. ------------- O verso, na grande maioria dos rondós, é heptassilibado, redondilho maior, salvo os do rondó XVLIII, que são pentassilibados, redondilhos menores, e os do rondó XLIV, hexassilibados. -------------- (quero saber que tipo de antologia é essa que não pôe os poemas que ela cita!) ------------ Esquema rimático,
Sobre o feno recostado(a) Descansado(a') afino a lira(b) Que respira(b') com ternura(c) Na doçura((c') do prazer(d) Amo a simples Natureza:(e) Busquem outros a vaidade(f) Nos tumultos da cidade(f) na riqueza(e') e no poder(d)
Acredito eu que fica de melhor só a rima principal no rondó(e), venha a ser aguda, e as demais em sua maioria graves, isso dá mais relevância e destaque ao efeito do rondó, ou talvez o contrário, sendo ela grave e as demais agudas, mas ele teria de ser mais curto.
O Amor Rondó XLIII
Meu peito se inflama, Ó ninfa, socorro, Piedade, que eu morro Na chama de amor.
Se os dias serenas Com doces vitórias, Serão sempre glórias As penas de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Triunfe a ternura Nas cordas da lira, Que branda me inspira Doçura de Amor.
Dá fim aos desgostos Que nutre o receio, E anima em teu seio Os gostos de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Por ver, que te agrava Meu terno gemido, O tinha escondido Na aljava do amor.
Mas entres pesares Suspira, e te roga Confôrto, e se afoga Nos mares de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Cantou passarinho, Com voz lisonjeira, Que viu na mangueira O ninho de Amor.
Alegra os rochedos, E aprende desta ave No canto suave, Segredos de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
O monte me escuta Respondem as brenhas, Que busque nas penas As grutas de Amor.
As mágoas contemplo E a dor, que me cansa: Envio a Esperança Ao templo de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Vem ver nestes vales Os mimos de Flora, E o trsite, que chora Os males de Amor.
Respire a minha alma, Que geme, que espera: A ganhe em Citera A palma de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Se amante anuncias Prazeres ditosos; Serão preciosos Os dias de Amor.
Ah deixa os rigores, Dar-te-ei, Glaura bela, Em nova capela Mil flôres de Amor.
Enxuga meu prato, que fráguas acende: O Céu já se ofende De tanto rigor.
Sei que pelo fato de Silva Alvarenga seja parnasiano que eu falar sobre ele ou estudar a poesia dele é um tanto inadequado, como a maioria das pessoas veem. Mas a forma de seu rondó me agrada e é a que eu uso, que possivelmente farei algumas modificações ao meu ver, de melhor maneira, tornando-a mais elástica. Mas em suma isso fora sobre a forma do rondó do Sr. Alvarenga, isso não significa que você vá ficar escrevendo sobre a Glaura em uma inspiração psicótica sobre uma vida que não é sua. O rondó não tem limitação de tema, pois ele pode ser até mesmo um epitáfio(se caber na lápide...), logo o Epitáfio tem limitação pois ele é classificado de acordo com o tema e ocasião.
Minha intenção não é um trabalho acadêmico nem realmente demonstrar alguma habilidade pessoal, apenas esclarecer algumas dúvidas e expor algumas opiniões. Esta é a parte 1, coisas mais complexas ao meu ver eu vou colocar na segunda parte, no porvir de tempos mais distantes, onde talvez, alguns tenham aprendido ou entendido algo disso tudo. Espero ajudar em algo com isso... Não sou um bom professor.
Em suma, isso não é algo realmente sério, apesar de ter um embasamento didático.
Fontes, livro:
Nossa Gramática, Teoria e Prática de Luiz Antonio Sacconi.
Fotocópias que tirei a muito tempo e não me lembro o nome do livro.
Minha mãe.
Experiências Pessoais, Sistema Nervoso de Geleiras.
O Verso Clássico
A base de tudo, na criação do universo, para que as cadeias de eventos existam, originou-se o tempo.
No dicionário: sm 1. A sucessão de anos, dias, horas, etc., que envolve a noção do presente, passado e futuro. 2.Momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize. 3. Época, estação. 4. As condições meteriológicas. 5. Gram. Flexão indicativa do momento a que se refere a ação ou estado verbal. 5. Mús. Cada uma das partes, em andamentos diferentes, em que se dividem certas peças musicais, como, p.Ex. A sonata.
Pois bem usaremos o tempo na poesia, em todas as formas ali. Porém, um dos elementos que vai ser realmente o tempo da poesia é o metro e o ritmo. O metro(ou “pés”) é o numero de silabas no verso, para que aja assim o ritmo que posteriormente vamos estudar. Eu não vou me ater a nomes bonitinhos pois para mim isso só vai ser útil mais tarde. Antes você deve saber fazer para depoismeter banca.
Métro, ou Pés
Começaremos com o mais simples, ao contrário das silabas que aprendemos na escola, ou não, no meu caso. Elas são contadas /as/sim/ al/go/ e/nor/me/men/te/ o/pos/to/ ao que seria o metro poético,/as/sim/ al/go e/nor/me/men/te o/pos/to ao/ ou/tro.
A contagem das silabas métricas se faz auditivamente e obedece certos princípios.
Quando houver vogal no fim de uma palavra e outra no início da palavra seguinte, formando ditongo(sorvete amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado; ou crase: minha alma = minhalma; santo orvalho = santorvalho), conta-se apenas uma silaba.
No verso se faz até a silaba tônica da última palavra, digamos:hi/po/pó/tamo (no caso um esdrúxulo); sau/da/de (grave); es/ta/ções que é então,o agudo. A variação dessas rimas no poema, quando não forçadas, pode dar uma sonoridade um pouco mais rica, mas repito, quando não forçada. Esperimente e veja que tipo de impacto que elas dão.
Em casos de ditongos, em geral formam apenas uma sílaba metrica: Pá/tria/; quei/xu/me/; a/cor/dou.
No caso dos hiatos, se forma o contrário, pois a tônica se encontra depois, logo se sente uma quebra por assim dizer: sa/bi/á, hi/a/to, ru/í/do.
Note que são todos sete sílabas métricas, heis ai um heptassílibado, ou rendondilha maior. No terceiro verso, pelo que se dá a entender,no di/a, se encontra uma diérese: que é a transformação de um ditongo em hiato. Esse processo fonético é algo que vamos estudar a seguir. Antes eu recomendo um pouco mais de treino, escrevendo ou encandeando, que é isso que acabamos de fazer com a trova.
A crase; É a fusão de duas vogais numa só. Ex:(mi-nhal-ma = Minha alma; santo orvalho =san/tor/va/lho).
A conhecida elisão(ou sinafela): É a queda da vogal átona final de uma palavra, por exemplo: Canta um = Cantum; minha infância = minhinfância. Quando o poeta não quer usar isso, geralmentecostuma-se usar um “-” entre as palavras (canta-um), isso recebe o nome de diálise.
Ditongação: é a junção de uma vogal átona final com uma seguinte, formando ditongo: soverte amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado.
Sinérese: é a transformação de um hiato em ditongo, ex: Crueldade = cruel-da-de, violeta = vio-le-ta.
Diérese: é justamente o oposto, vide a trova.
Ectlipse(!!): é a queda de um fonema nasal, para que haja crase ou ditongação. Como dizia camões: (“ Mas co saber se vence que co braço.”) Outro ex: com os = cos; com a = coa; com as = coas.
Aferese:é a queda de sílabas ou de fonemas iniciais, Ex: inda(em vez de ainda), 'stamos (em vez de estamos).
A Símcope: é a queda de um fonema no meio da palavra. Ex: Espr'ança por esperança ou dev'ria por deveria.
Apócope: é a queda de um fonema no final da palavra, Ex: mármor por mármore ou cárcer por cárcere.
Prótese: é a colocação de um fonema no início de uma palavra: Alevantar por exemplo, no lugar de levantar.
Paragoge; é o acréscimo de um fonema no final de uma palavra, Ex: Mártir por mártire, ou cantare por cantar.
Diástole: é a deslocação de um acento para a silaba seguinte: Artifices por artífices, alacre em vez de álacre.
Sístole: é o inverso da diástole; deslocação do acento para a sílaba antérior, Ex:Dário ao invéz de Dario, calmária ao invés de calmaria.
Métatese: é a transposição de um fonema na própria palavra, Ex: vairo ao invez de vário, cousa por coisa, rosairo por rosário. Usado em maioria apenas por exigências de rima.
O uso desses recurso pode dar uma graça ao seu trabalho, porém, devemos admitir que o exagero pode levar o poema ao inteligível, ou ao excêntrico... Talvez, seja essa a intenção do autor, logo, bom proveito.
Ritmo
O ritmo é a graça da poesia, é dela que se sai o som, podendo lidar com a velocidade o peso e muitas outras cocitas más que o autor-poeta irá descobrir ao longo das eras...
Não vou me ater a coisas como regras na colocação das tônicas ao longo do verso e coisas do tipo, que fique isso ao seu encargo e curiosidade. O que eu irei fazer é apenas dar o empurrãozinho inicial, como à quem monta numa bicicleta pela primeira vez.
“Tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonta...
Meu pai sem ter uma nora!”(popular)
“Já serena desce a tarde,
Já não arde o sol formoso:
Vem saudoso o brando vento
doce alento respirar.”
(Silva Alvarenga, Rondó XX, A Tarde)
Já - se-re-na- des-ce a -tar-de,(1ª,3ª,5ª,7ª)
Já- não- ar-de o -sol- for-mo-so:(1ª,3ª,5ª,7ª)
Vem -sau-do-so o -bran-do -ven-to(1ª,3ª,5ª,7ª)
do-ce a-len-to -res-pi-rar.(1ª,3ª,7ª)
Nota-se, se você der ênfase nas tônicas sentirás a sonoridade, o ritmo. Antigamente a música e a poesia eram uma só, dizem, ou talvez, era como os repentistas de hoje, do sul ao norte do país. Justamente as provas vivas de que a poesia não é algo pessoal para ser lido no livro apenas.
Mas, dizem, fora essa mescla separada pelos romanos, como se pode ver, tudo que é ruim veio dos romanos, como o mercado automobilístico por exemplo.
Pois bêm, são as tônicas da palavra e sua colocação ao longo do verso, e sua repetição aos demais, a mudança de ordem, no decorrer do poema, pode gerar uma quebra, boa ou não, dez que devidamente feito. Podendo mudar a velocidade acelerando, ou não.
Lembre-se que na música um dos elementos que a faz ser ela mesma é a repetição, é o que dá a simetria e a perfeição, mas uma musica muito repetida pode vir a ser monótona. Logo um poema muito extenso sem variação no ritmo e no metro pode gerar algo cansativo. A questão é, estude escrevendo e lendo em voz alta, as diferentes possibilidades e misturas e veja a que mais lhe agrada para determinado poema. E muitas outros elementos você pode usar alem, é o que veremos a seguir.
Rimas
As rimas, ao contrário do que a maioria pensa, não é a parte mais importante da poesia. Ela também se resume a repetição. Essa obrigatoriedade de rimas perfeitas aos olhos,está mais para uma histeria parnasiana do que realmente para uma obrigação. Dês que elas não sejam, digamos, fracas como verbos no infinitivo, ou sempre de uma classe gramatical. Mas isso não significa que você não deva usá-las. Mas use-as com moderação. Nimbos, e lindos tem a mesma sonoridade, nisso, elas podem vir a rimar. A mesma coisa que cisne e tisne, que são rimas raras, mas isso não significa que devas usá-las sempre que possível.
A rimas podem estar nas mais variadas localizações possíveis.
Tudo enfim, cabe a criatividade e ao som.
Mas vamos seguir alguns exemplos.
Toantes, Sonantes e aliteradas.
As toantes apresentam identidades somente nas vogais tônicas: lúcido e dilúcido, árvore e pálido, boca e boa.
“Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos pálidas
molho-as. Assim eu as quero levar à boca,
em espírito de humildade, como um cálice
de penitência em que a minha alma se faz boa...” (Manuel Bandeira)
As consoantes são as que rimam de igualdade total a partir da vogal tônica: Menino, tino, albino; casa, asa, brasa; percevejo, desejo e por assim vai.
Aliteradas são as formas que dizem como rudimentar, são as que rimam na primeira consoante. Pode-se encontrar na poesia mais famosa, (Depois do hino nacional e o hino da bandeira.) de nosso pais: A “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.
“Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá;
sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.”
Masculinas e femininas.
São as rimas oxítonas as masculinas, e as de palavras paroxítonas são as femininas. Tais denominações, são da poética medieval, dos trovadores galaico-portugueses. As esdrúxulas não tem denominação. A alternância das rimas masculinas e femininas é de rigor na poesia francesa, e como é de se esperar, já fora usada por muitos poetas brasileiros, na belle época, que na época era a classe alta imitar a francesada, hoje todo mundo quer é ser inglês, até mesmo os argentinos.
Pobres, Ricas, Raras e Preciosas
As rimas pobres são as rimas provenientes da mesma classe gramatical, ou de palavras comuns. Ex: Pobremente, deprimente. Coração, irmão. Criado, matado. Sonhador, dor. Mar, voltar. E assim por diante.
As ricas já são justamente o contrário, com palavras de classes gramaticais diversas, ou as de uso inusitado. Ex: Vibra e libra, fosco e tosco, sonha e fronha, assumes e lumes, dele e aquele.
Raras são aquelas de poucas possibilidades de rimas, como tisne e cisne, turco e murco, furco, urco e algumas formas verbais.
Preciosas são as rimas artificiais, forjadas com palavras combinadas, tais como múmia com resume-a, pântanos e quebranta-nos, lâmpada e “estampa da”, “lírios e delir e os”. Com criatividade e moderação, é claro.
Localização:
Darei ênfase apenas no momento,às rimas encadeadas e as rimas Iteradas. São as rimas encadeadas as quando a ultima palavra de um verso rima com outra no verso seguinte.
Ex:
“Ouve, ó Glaura, o som da lira,
Que suspiralacrimosa,
Amorosa em noite escura,
Sem ventura, nem prazer.”
Silva Alvarenga
Já as Iteradas são as que se repetem no mesmo verso:
“Donzela bela, quem me inspira a lira um canto santo de fremente amor,
ao bardo o cardo da tremenda senda
estanca arranca-lhe a terrível dor!”
Castro Alves.
Outras Cocitas Mas
Heis aqui alguns exemplos que podem lhe gerar idéias, qualquer elemento usado, se bem usado, tanto figuras de linguagem como qualquer outro meio, pode dar uma graça ao seu poema, como um tempero exótico ou até mesmo como uma cobertura de um bolo.
Calvagamento: Recurso do qual o sentido do verso não finda nesse próprio, como nesses versos de Olavo Bilac: “Pátria, lateja em ti, no teu lenho por onde
Circulo! E sou perfume, e sombra, e sol e orvalho!”
Serve tanto para dar ênfase á uma determinada como também para evitar um certo cansaço em poemas longos, apesar de que sua utilidade pode ter inúmeros fins.
Aliteração: Éa repetição de tônicas ou de uma letra.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias de violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas vãs, vulcanizadas” Cruz e Souza.
Nota-se aqui a aliteração com sentido de sugerir o sussurro do vento.