quinta-feira, 26 de abril de 2012

Presságio

 

Presságio
Vi o diabo desembarcar na ilha,
e trazia nas suas costas a matilha
de pessoas que deformadas guincham,
em suas próprias mentiras relincham.

E repetem cruéis ladainhas,
nem enxergam por trás das suas rinhas
esplendores de vícios, torpores
“maravilhas” de acres horrores.

Pouco podem os tolos amigos,
venerando seus vastos castigos
co’as correntes cravadas nos carpos
tem seus nomes em farpo farrapos.

Há! O demônio desembarcou na ilha!
Trazem velhas modernas bandeiras
tão distantes em tantas maneiras
de seus nomes, se estão na matilha.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Trovas

Se neste mar tão tempesto
perde-se em si bem se teme,
o que me resta? Vontade.
Na minha mão tem um leme.

E este mundo sem tino,
arrasta tudo pra rua,
e nisso quero um caminho
e este leme o situa.

Sem leme, barco e nem vela,
me torno náufrago aceno
e nisso falta a vontade,
num tom de sem mais nem menos

E ao mar das horas perdidas
nenhum farol se insinua,
mas guia na tempestade
um leve traço de lua.

Na minha mão tem um leme,
e este leme situa,
num tom de sem mais nem menos
um leve traço de lua.

Pequena



Pequena

Flor,
flores amarela,
amarelos sois
com seus cachos
num gesto naif
cresces sem perspectiva
com o presente em mãos.

sábado, 21 de abril de 2012

Soneto

 Soneto

Ela tinha um trejeito amarelo,
era ela aquarela em seu gesto:
lembra a tarde um domingo singelo,
tenta o mundo n’azul manifesto.

Mostra ao tudo que o tudo é resto,
dentro disso meu jeito chinelo
(todo cinza dos cinzas que empesto,
teme as cores tão quentes que anelo.

Ela beija num tom caramelo,
feito folhas antigas d’outono
num amor que viaja sem  dono.

Ela torna o real tão, tão belo
toda grunge em si como se fosse
ser mais doce que a batata doce.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Inverno


Inverno

 Ventos frios vem libertar minha’lma,
 beijos doces de serena calma. 

Doce Vento dos distantes mundos,
vem limpar meu coração tão imundo…

 Ventos, ventos de distantes lábios
 versos sábios d’um etéreo alfarrábio. 

Ventos gélidos, correntes gélidas,
doces pálidas de sumo pálido.

 Vento ermo de visões sombrias
és o tudo qu’eu no fim queria…

 Vento traz enfim pra mim o inverno
noites claras para os d’alma enfermos!

 Ventos frios vem libertar minh’alma,
beijo doce que por fim me acalma!

Poema




Os olhos, os olhos, os olhos...
Dissolvem meus traços, meu rosto,
meus velhos faróis aos frangalhos,
retalho de um lar decomposto.


Confeito esquecido no lodo,
refletem mil vidas, um espelho
de velhas feridas abertas
com dentes de ferro vermelho.


Colônia imortal num inferno
c’os lábios luzentes n’abrolhos,
na gula perene da inveja
são olhos, os olhos, meus olhos...