Mostrando postagens com marcador Soneto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Soneto. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de abril de 2025

Para o centro de minha cidade

 


Para o centro de minha cidade-

Tempestade infesta esta cidade
vai descendo ao esgoto toda a fuligem
a fuligem minha, minha verdade,
minha capa e espada, rosto e origem.

Ninguém lembra nunca da vertigem
de quem cresce preso nesta umidade.
Memórias se torcem, eles constrigem
a razão p’ra caber na sanidade…

Mas cresci em fuligem e em ferrugem e eu
tornei-me denso e imenso e perigoso,
como quem lembra do que aconteceu.

Em cinza e bruma minha cobertura,
crescendo no verso mais orgulhoso...
Dentro do esgoto está a minha armadura.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Em Três Tempos

 


Em  Três Tempos

Eu beijei a loucura e troquei
o beijo que dei por um... DEDAL!
Dedal com um gosto infernal
um gesto que sempre sonhei.

O beijo de ferro usarei
co'a agulha de palha e o avental
tem farpas co'o guizos, eu sei
que nada se perde ao final.

Dedal é de cera mais quente
que o ferro carmim que traguei
foi quando em você me afoguei.

Mas Beijo é d'aço recente,
com o frio mais resistente...
que todos os sóis que matei!

Proposta

 Proposta


Sufoca em lua nova, sufoca a luz
 nenhuma fagulha fará a ti jus.
 Nenhuma esperança de ti fez rei,
 desastro seu rim, destino sem lei.

 Sufoca o tua fé tal qual sufoquei
 o breu que senti e em que cá me entronei,
 eu sei... Sei que disto o que me conduz
 é sem fé e sem lei, de rés serei pus...

 Isso sei, bem sei o gosto e o que se diz
 do que este rancor me tornará...
 Em algum demônio ou assombração.

 Mas vou poder te tornar infeliz!
                     ...Me vem cá!
 Nem que me custe minh'alma e razão

domingo, 4 de fevereiro de 2024

soneto: colo

Colo

Foi tão simples, como a definição 
d'uma charada infantil. E foi quando
te vi viva e me vi te segurando, 
me vi vivo como por solução.

Diluir-me em abrigo e envergando
 para dar-te colo na fundição 
de um mundo gongórico, na razão 
de que é assim, e assim vou andando.

Na loucura de querer estar vivo, 
nessa coisa estranha que me eterniza, 
destes humores novo sentimento.

E pensar que sempre fui tolo e esquivo,
que fugia para um fel que me amortiza
intrusivo como meus pensamentos.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Rancor

 Eu sinto o sal na saliva e nas lágrimas,
e engulo o mal, como devo engolir
o choro e escondo o meu rosto na vala
de medos rotos que tento polir.

Quero chorar, mas jamais tive prática
e falta-me ar, e a linguagem esqueci
tal se'eu esquece-se meu nome na mala
extraviada perde-se ao fugir.

Me falta algo, me falta meu mundo,
e estranho, galgo, vago e vagamundo
não vou chorar sem mar, sem ter o sal.

Perdi meu laço, tal perde-se o nome,
dispar do mundo, sou morto sem fome
muda estátua de cinzas, eu sou o mal.

sábado, 1 de agosto de 2020

Ut pictura poesis

Link da imagem

Ut pictura poesis

O estranhamento pela própria ausência
é a realidade pura que se evade
sob nojenta forma. Sua aparência
rege-se em infinita adversidade. 

Numa apresentação que nos invade,
eis um cadáver, pleno com sua essência.
Corpo intersticial pura outridade,
em um joguete em nossa consciência.

É a apenas carcaça sem seus espólios,
como um comensal nu, sua verdade
é seu regalo conspurcado e imundo:

Sua luz da razão olhando meus olhos,
essa alegoria da monstruosidade,
Um vazio, vazio sem astros, nem fundo....


domingo, 13 de outubro de 2019

Soneto


Soneto

“Escrevi uma carta e a deixei por ai
desfazendo na água d'algum momento,
com mensagens expostas no relento
de mortalha brasões em chãos que varri.

São palavras não ditas, fragmentos
de lembranças morrendo bem aqui
é um lugar, as memórias que exauri
formam frases composta no tormento.

É mortalha e Ulisses perdeu o destino
como a culpa em Morfeu, no desatino
de, quem sabe? Querer comemorar...

É papel que pensara em preservar
o troféu da carta morta e só,
meu silêncio selado torna ao pó.”

domingo, 6 de outubro de 2019

Vazio

Vazio
No vazio prolonga o choro mudo, desespero roto toca a tosse como a cria disforme que contorce esperando a dó d'um baque surdo. Fermentando apático e soturno, como um surto, como brio covarde corroendo a úlcera fulgura, um circense inferno sem alarde. Desespero que espelha e especula, vai parindo ratos pela casa, corroendo a cama enquanto durmo. Um silente ruído inoportuno, de quem vela um morto sob a asa, simulacro de mim que cá ulula.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Soneto




Soneto

Sei me virar na grama e no concreto
e sei fugir da aula p’ro parquinho,
no mundo cheio de bile e desafetos
aprendi á ficar melhor sozinho.

E no pátio escrevi nome e caminho, 
bucaneiro fui solto em mar aberto
sei me perder desde pequenininho,
jamais me achei debaixo de algum teto.

No meu orgulho infantil que bem me aprume,
 não entendi seus dialetos, seus  costumes
mas não me ative a coisas sem sentido.

Sem sentido por que me vi perdido
vendo na escola alunos conversando
de coisas que perdi , longe viajando...

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Soneto Triste



Soneto Triste


A gente morre numa quinta-feira
e na semana temos compromisso,
em um horário vago do serviço
ninguém tem tempo para brincadeira.

A gente inda sonha por capricho.
Tempo profano perde-se em besteira,
trabalhamos... de qualquer maneira
a vida morre de um jeito omisso...

O tempo afoga e some pelo fundo
e a gente afunda pleno pelo engodo
de achar que pode sair daqui...

Todo mundo quer fugir desse mundo,
e matar-se em sonho e estar de modo
algum… estar de modo algum aqui.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Sol Vermelho



Sol Vermelho

A cabeça dói pois meus olhos cansam,
se nem tudo vejo não sei se vivo.
Com meus olhos sãos eu não sou passivo
pois d'olhos abertos os meus dias andam.


Um vermelho arde em tom compulsivo,
meus cansados olhos eles flamam,
eles queimam fracos e recessivos.
Vibram para a luz que tanto amam.


E se vedo eles o tempo grita
e me perco enfim na ordem dos fatos.
Da ordem das coisas me perco enfim.


A cabeça dói na loucura aflita
dos meus míopes olhos, jugos de pathos,
arrancá-los-ia para além de mim.


Feito ano passado, dezembro.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Águas Turvas





Águas Turvas

São  sonhos sempre e sempre serão  sonhos,
e todos eles vertem mesmo rio,
naquele barco  deito e o remo desponho
e em cada braço um leito ali  emergiu.

Da perda a dor letarga em pleno  frio,
de plena pena leve açaimo exponho
na face a pele trinca o falso brio,
se em sonho encontro o monstro que  componho.


No rio se encontra o duplo  ali oposto,
na água turva  espelha a fauna rébria,
à treva o ensejo almeja e ao pulo impele.

São sonhos sempre e sempre terão  todos
o mesmo tom confesso de tez ébria,
os mesmos vermes transpassando a pele.


Enfim, um soneto descente depois  de tanto tempo....

segunda-feira, 27 de março de 2017

Soneto N.º IV - Renata Pallottini



 Soneto N.º IV

Se há dias de alforria, é pelo mar
que a gente vive os dias de alforria.
Nada é mais  livre do que navegar;
um barco é como  um pássaro em franquia.

Roda a roda do leme, mas as rotas
são tantas, pelo mar, em sul e norte,
quantas riscam no céu as gaivotas.
Ah, eu já resolvi da minha sorte:

pulo, num dia desses, pra "Doçura",
solto as amarras, deixo do que  era,
e  me parto pra terra da aventura

-- a que eu nunca hei de ver e que me espera --,
e fico a navegar por toda  a vida,
que água do mar tem gosto de partida.

Renata Pallottini

sábado, 7 de janeiro de 2017

Definhar



Definhar

Eu vi nos retratos que andam nas ruas,
nessas impressões rotineiras, sem rostos,
eu vi que os teus modos diziam os desgostos
d’uma periódica morte em mãos nuas.

Como a correnteza correndo pro esgoto,
na vermelhidão que tão quente situa
todo o limiar de sua vida, sua lua
desaparecendo num gesto indisposto.

- É a vermelhidão de seu sangue e seu impulso
numa periódica morte, no tempo
feito em rotineiro mofo e apatia.

- Eras um carneiro tão forte e convulso
todo em desejo em brasa no vento.

Vi nos seus retratos; seu sangue ebulia.

(soneto antigo, mas muito bom)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Prece



Prece

Eu não quero morrer, por favor, não
ser feliz não me fora algum  presente
e se estive contente infelizmente
nisso  não bastará a recordação.

O passado borbulha penitente,
num fervente derrame a frustração,
qualquer erro demonstra-me a intenção
de findar-me um eterno incompetente.

Eu não quero perder, por favor, não
eu não quero perder-me sem razão
na loucura dos outros e suas chagas.

Eu não quero morrer e nem perder-me
sem histórias inscritas na epiderme
sem livrar-me do medo e de suas pragas!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Resilir


Resilir 

 Eu morri e não lembro de ter sonhado,
eu perdi no mar os meus documentos.
 Fui deixar morrer na praia pelo vento
os papéis diários de meu passado.

 Eu morri e não lembro d’algum momento
 que colhi um sentido que compassado
poderia findar por mim registrado
que podia morrer... com este memento.

 E se desfizeram no mar envoltos
no sal de meus olhos deficitários
 partiram cortando-me as fantasias.

 Eu perdi no mar, no tempo revolto,
memórias que estão nos meus inventários
 e que estão em questão na bibliografia.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Choro


Choro
O choro a se ouvir, cobre cada canto
um misto de dor, dó e de compaixão
gemido de tom frio e de desencanto
sentido de cor fria e desilusão.


Todo espaço queima em vão no chão
todo o tempo queima em si no pranto,
esse grito teima a dor de um não,
essa cor se abre em flor de um canto.

O choro a se ouvir, torce e se farfalha.
Tem gosto de anis de azul  doce tom
que beija um batom neon tão colorido.

E abre num fio em fel, feito navalha
abrindo em minh'alma a dor num som,
no peito a emergir um pomo encardido.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pessoas Felizes

link da imagem

Pessoas Felizes

Felizes as pessoas, são todas felizes
janelas por brilhar nos prédios, que são vidas
distantes a luzir, são vidas refletidas,
são belas fantasias, são todas boas atrizes.

Mas neste mundo cinza imerso em pesticida,
as luzes por brilhar são todas meretrizes
perdidas se cortando escondem cicatrizes
fugindo do terror de serem percebidas.

É tudo propaganda entenda a brincadeira,
são proles ao cantar o fel mais hedonista,
sorriso de amarela estampa corriqueira.

As luzes a encantar são apenas... é só luz!
Que ainda vai apagar, sumir vai... Da vista!
Tal vidas que estão lá e no fim nada reluz .

poema antigo, da minha época que eu escrevia umas coisas beem tensas. muita coisa que agora eu joguei ou jogaria fora ou deixaria de lado. mas algumas coisas muito boas, como este poema, ao meu ver.

sábado, 9 de agosto de 2014

Soneto



Soneto

Eu não existo entre esta gente
na certeza insana da rotina.
Entre estes rostos cá presentes
a memória mesma me fulmina.

Mas existo sempre indiferente,
sou nas ondas luz que ilumina
por um barco estranho penitente
luz incerta. Luz em breu inquilina.

Neste mundo tenro e tão fecundo
sou coringa nesta brincadeira
no destino apenas vagabundo.

Um pequeno vício das fiandeiras
que tornou-se gente num segundo
e depois voltou pra prateleira.


Julho ficou meio vazio... E ando meio enferrujado.