quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Acalanto



Feito algum barco parece em deriva,
vaga por mares perdidos
segue embalando num verso esquecido
caso a criança  está viva.

Quando acordamos o mundo aprodece
emerge um mundo que insano
pelo balanço do berço parece
sonhos reais, não o profano.

Sob algum canto emudece seu pranto,
canta  o acalanto no ouvido.
Raia do seu mundo no berço aquecido,
tudo se encerra no manto.

Fluxo de consciência 2


Alto se percebe o som dos pecados humanos, um grito eterno e imensurável de um gutural escuro. As repetições de frases em meio à ferrugem de barcos que abrem a por ta do inferno. As pedras dizem em um silêncio apático, rostos nas pedras fincados esmeram o firmamento esperando um regalo da superfície.
Escadas se erguem e tombam, colidem levantadas por mãos profanas, presas ao solo acinzentado. Tudo reina em um silêncio ruidoso, refletindo o  estouro antecipado  ao  infinito, a eterna espera e o riso insolente do desespero. O  riso insolente do desespero tem as portas  cerradas, o riso soterra passagens em seu cinismo.
Como um pesadelo, como aquele que devora os frutos da fome, a gula e o ímpeto e a ânsia eterna sob o pensar demais.

A nuvem que baixa é neblina, como o sonho, o inferno e o vale dos suicidas. O desejo da estrela e do firmamento é a  grade sobre a égide do riso de Cérbero: Esta afirmação sem alma, o arquétipo do policialesco, a coleira e a ordem.  

domingo, 19 de novembro de 2017

Triolé-Café

Link da imagem

Café passado na tarde,
 em um apartamento
é da memória dessarte,
café. Passado na tarde,
sentido, sentir-se parte,
perfuma a tarde o momento,
café passado na tarde 
em um apartamento.

Triolé

Todos morrem, todos nascem
e só quero ir pra casa,
eles sabem o que fazem.
Todos morrem, todos nascem
sem que nem desconfiassem,
quem não joga abre as asas.
Todos morrem, eles nascem
e só quero ir pra casa.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Triolés




Nesse vento no meu quintal,
as folhas morrendo estão aqui.
Ele as trouxe, não foi por mal
esse vento no meu quintal.
 Ele trouxe tão natural
os restos de mim que perdi
 nesse tempo, no meu quintal
 as folhas morrendo estão aqui.

 (não sei se pode, mas mudei o penúltimo verso, apenas duas letras.)

 A vida despreparada
 no escuro ausente e eterno.
Emerge um brilho do nada,
 a vida despreparada
 tão breve a ser apagada
sem fé, nem céu, nem inferno
no escuro ausente e eterno
 a vida despreparada.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Trovas



Os outros brilham na rua,
suas vidas vertem sentido
pois são o que são para ser
no que é para ter sido.
ºººººº
Por que o quê possui sentido
se desmonta no final?
Se tem sentido é falso
e assim nada é real?

Fluxo de consciência 1 (tentativa)



Aquele olho, presente em mim, embrenhado entre inteligíveis fluxos de memórias. Como um pequeno caroço térreo em um cérebro formidável. Esse olho, consciente à parte, como uma caixa de Pandora, como um relicário infantil, um estojo da escola.
Como um estojo escolar esquecido pela profanação do cotidiano, sem que a torpe Apatia tenha recortado para algum outro símbolo, alguma outra função banal.
Eu tenho um olho embrenhado em meu cérebro, feito de uma imagem distorcida, como um retrato de meu arquétipo.
Eu sou um arquétipo. O tolo, o desajustado, o gênio excêntrico, o outsider que sempre estampei em meu peito e costurei meus traços com estampas azuis e retalhos escolhidos a dedo. Eu sou um arquétipo, um tolo! Um desajustado! Um gênio excêntrico e um outsider! Eu rasguei o meu peito e costurei meus traços com trapos azuis e retalhos espoliados do medo.  Abri meu peito achando liberar um enxame e as vespas fizeram um ninho ali .
Mas aquele olho, como um brasão arde ainda e versa coisas em minha imagem. Um pequeno talismã frente a ferrugem em minha alma. Um pequeno ponto.
Aquele olho representa a mim, azul e azul como a infância numa tarde de domingo. Sem alivio, luzindo, transparecendo aquele que não entende a brincadeira. Azul de medo e em versos feitos de medo, azul doente e frio como quem morre de medo. Azul de mar,convulso rugindo chamando meus nomes, engolindo e regurgitando a prole de minhas sombras. De Minha Sombra e todo o rastro que deixo na maré, abandonando  e esmerando achar na orla, pedaço  de mim... pedaços de mim..
E tenho um olho… Sem pálpebras, sem iris e aberto embrenhado entre inteligíveis fluxos de memórias, retendo, pulsando imagens, encarando a mim, essa pupila negra e infinda.  Essa pupila interna, portal como um espelho prenhe no humor vítreo.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Águas Turvas





Águas Turvas

São  sonhos sempre e sempre serão  sonhos,
e todos eles vertem mesmo rio,
naquele barco  deito e o remo desponho
e em cada braço um leito ali  emergiu.

Da perda a dor letarga em pleno  frio,
de plena pena leve açaimo exponho
na face a pele trinca o falso brio,
se em sonho encontro o monstro que  componho.


No rio se encontra o duplo  ali oposto,
na água turva  espelha a fauna rébria,
à treva o ensejo almeja e ao pulo impele.

São sonhos sempre e sempre terão  todos
o mesmo tom confesso de tez ébria,
os mesmos vermes transpassando a pele.


Enfim, um soneto descente depois  de tanto tempo....

segunda-feira, 27 de março de 2017

Cainho



Cainho

Eu sinto falta das estrelas
compassadas, no meu caminho,
as pontilhadas na janela.

O brilho rítmico em alinho,
dos postes presos na  rua
de meu destino  em desalinho.

Eu sinto falta e continua
o ensejo ausente de breu!
O asfalto em mim que me insinua...

O brilho em frenesi tão meu...
Anseia o beijo da rua a estrada.
Se anseia a alforria que pereceu...

Mas  sinto a falta que alastrada
conduz na ânsia a culpa e a fome
de encoleirada dor claustrada.

A dor de um cão! Vida que some
na raiva, os dentes cá se estorcem
e rasgam a tez de quem os dome!

Sentir as luzes que distorcem
a vida prenha por perdê la
em sonhos nômades  que sorvem-me!
Eu sinto falta das estrelas!

Soneto N.º IV - Renata Pallottini



 Soneto N.º IV

Se há dias de alforria, é pelo mar
que a gente vive os dias de alforria.
Nada é mais  livre do que navegar;
um barco é como  um pássaro em franquia.

Roda a roda do leme, mas as rotas
são tantas, pelo mar, em sul e norte,
quantas riscam no céu as gaivotas.
Ah, eu já resolvi da minha sorte:

pulo, num dia desses, pra "Doçura",
solto as amarras, deixo do que  era,
e  me parto pra terra da aventura

-- a que eu nunca hei de ver e que me espera --,
e fico a navegar por toda  a vida,
que água do mar tem gosto de partida.

Renata Pallottini

sábado, 11 de março de 2017

12/12/2005 foi a data da primeira postagem nesse blog.

12 anos de blog... quase, ou 11...

Trovas no meu blog


Trovas que selecionei e passei a limpo, que foram publicadas no meu blog..

O desamparo real
na agonia do travesseiro
É entupir os teus pulmões
com berros de desespero.

ºººº

A morte vem em seu tempo,
é o ver -se real co'a calma.
Morrer é ver a verdade
se não do corpo, da alma.

ºººº

Os sonhos são me impossíveis.
Impassíveis tal metais
nos dentes. Grade e aparelho
do açaimo de um incapaz.

ºººº

Os outros são tão legais,
normais, banais e mais nada...
Carregam em um segundo
infindas vidas agregadas.

ºººº

Um velho morreu no mar,
n’algum lugar dentre  as vagas,
o frio fisgou-lhe no peito
e aos peixes, dividas pagas.

ºººº

A cena se repetindo,
no tempo como algum trauma,
O Enforcado na estrada,
o sacrifício e sua alma...

ºººº

O varal cá balançando
o tempo está pra brincar,
co’as crianças no quintal
e a fé de que vão voltar...

ºººº

No mundo não tem destino,
não tem regras, nem tem dados,
no mundo não tem respostas,
nem segredos ocultados.

ºººº

O tempo rege com esmero
tudo que morre com ele
todas as perdas, as faltas
todo o vazio é só dele.

ºººº

Onde os destino convergem,
tudo teima um recomeço,
brilha um medo repentino
de ser aquilo que mereço.

ºººº

Sangue reflete o vermelho.
Sobre o sentido da cor.
Como algum cínico espelho.
Como um recado da dor.

ºººº

Este sonho acaba agora,
nada certo, tudo está errado,
quando acordo nesta cama
todo o mundo está trocado.

ºººº

A luz do teu apartamento
é como um velho farol
nas noites mais solitárias,
ou quando falta-me um sol...

ºººº

A luz do teu apartamento
é como um velho farol
nas noites mais solitárias,
ou quando falta-me um sol...

ºººº

A vida geme na forja
em golpes fortes e frios
e o rude ferro faísca,
faísca para o vazio...

ºººº

O rei no trono sentado
cercado pelos seus rostos
enxerga vago e distante
a falta de seus opostos..

ºººº

Um velho e amargo garoto,
no ódio em asco e no medo
perda por pedra cresceu
na torre virou segredo.

ºººº

Pois todo silêncio emerge
de algum latente estouro.
Silêncio de desespero
na espera num matadouro.

ºººº

E os sonhos morrem na praia
e brilham como de espuma
são como falsas promessas
carcaças de coisa alguma.

ºººº

E o Sol! Que ri lá de cima,
é um cínico psicopata,
pois mata tudo que cria
e os queimando os desidrata.

ºººº

E a luz do qual me ilumina
só mostra a nossa desgraça.
É como um sádico artista
que de tudo acha graça.

ºººº

Peter Pan, com meu passado
na Terra do Nunca vive,
em tempos descompassados,
memórias que nunca tive.

ºººº

Não tenhas medo menina,
que o tempo rege a razão,
e a cada vulto que esvai,
seu mundo volta p'ro chão.

ºººº

Coração barco a deriva,
vai nas ondas do desejo,
nas correntes de pessoas
nas tormentas que prevejo

ºººº

Vejo sonhos afogados
pelo asfalto e pelo afeto
retorcido e deformado
pelo gesto do  concreto.

ºººº

Eu vejo o mundo em céu aberto,
num gosto leve de alforria,
é ter um futuro descoberto
ao ser vivo por porfia.

ºººº

Sei que no mundo de estradas,
alguém vai ter por sua sina:
fechar as portas do palco,
luz apagar, fazer faxina..

ºººº

De toda a turba da rua,
escapas d'entre meus dedos,
quereria apenas ao lado
livrar-me destes meus medos.

ºººº

Trovões gritando no arrasto
pelas nuvens compelidos,
com a chuva que se arrama
pelo ar apodrecido.

ºººº

Pelos sapatos suspensos
sinos badalam toadas,
suicidas dançando ao vento
d’umas mentiras contadas.

ºººº

E o tempo esquece co’o tempo
os rostos outrora quentes,
calor de tempos retidos
nos rostos sobreviventes.

ºººº

Suicidas dançam ao vento,
co’as cordas, nós nos cadarços,
desamarrados sapatos,
e fadados no embaraço.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Morte


O desamparo real
na agonia do travesseiro 
É entupir os teus pulmões 
com berros de desespero.

A morte vem em seu tempo,
é o ver -se real co'a calma.
Morrer é ver a verdade
se não do corpo, da alma.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Trovas

liink da imagem
Eu tenho a morte comigo
nos ossos que foram meus.
Mementos dentro dos bolsos
relíquias de quem morreu.

...

Os sonhos são me impossíveis.
Impassíveis tal metais
nos dentes. Grade e aparelho
do açaimo de um incapaz.

...

Os outros são tão legais,
normais, banais e mais nada...
Carregam em um segundo
infindas vidas agregadas.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Definhar



Definhar

Eu vi nos retratos que andam nas ruas,
nessas impressões rotineiras, sem rostos,
eu vi que os teus modos diziam os desgostos
d’uma periódica morte em mãos nuas.

Como a correnteza correndo pro esgoto,
na vermelhidão que tão quente situa
todo o limiar de sua vida, sua lua
desaparecendo num gesto indisposto.

- É a vermelhidão de seu sangue e seu impulso
numa periódica morte, no tempo
feito em rotineiro mofo e apatia.

- Eras um carneiro tão forte e convulso
todo em desejo em brasa no vento.

Vi nos seus retratos; seu sangue ebulia.

(soneto antigo, mas muito bom)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Poema

Essa mulher sussurra em meu ouvido :
Personagem mortos com o tempo
Raivas à muito diluídas e o medo
um fleuma negro e bile amarga.
O meu medo criado entre violências.
Danos físico e psicológicos

É o que torna fantasmas vivos
como lanternas.  Para um grito
 tormento e meu inferno.
Como um feto parasita
em relação  doentia.

Soube que Hades tem os olhos dela.
Aquele que matou o próprio amor
numa lógica retorcida
também.
Ou aquele que está morto e trabalha.
Aqueles restos de faces costuradas
escrevendo cartas em esmalte vermelho.
Aqueles que sussurram restos de memórias.
Raivas e estímulos viciados. Como fantasmas.
Também
Como aqueles que devoraram a própria carne.
Mente são e corpo são...

Ela tem os olhos dela.
 Como uma jóia.
 Numa caixa de alianças.
Num laço um presente.

Velha infeliz, rubra e cega.
Inchada como um enforcado.
Seca como um fruto de displicência.
Sussurra palavras mofadas.
Viciadas como um vício de linguagem.
Como uma larva solitária endurecendo no cérebro hospedeiro.

Sorri um sorriso morno entorpecido. O horror na verdade e o  medo compulsivo da realidade.
A trava e o bloqueio numa frase repetida.
Repetição de um comportamento.
Fuga como alternativa. Como autopiedade.

Um coral de pólipos louvando sua presença.
Prostrados frente ao abismo.
Sob o  gemido indefinido.

Seu nome.