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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Frase “Não foi o leitor que abandonou a poesia. Foi o poeta que abandonou o leitor”


Por que não se lê poesia?

Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea.

por Fabrício Carpinejar

Já pensou em escrever um romance?” A pergunta, em tom levemente depreciativo, é despejada sobre a cabeça do poeta a cada novo livro. A resposta negativa gera no in....terlocutor do poeta uma tosse ou um constrangido balançar de rosto – ainda mais porque aquele que perguntou provavelmente nem leu a obra em questão. O engasgo soa algo como encontrar uma amiga, olhar para seu ventre, cumprimentar pelo bebê que irá nascer e receber de troco a afirmação seca, cruel: não, eu não estou grávida.
Há o julgamento informal de que poesia é perda de tempo. Tendo lançado até agora dois livros, não cheguei ao ponto de receber os pêsames, mas não falta muito para isso. Até porque o poeta é identificado como um defunto comercial e nunca será de bom tom dar as condolências ao próprio falecido. Mas, afinal, por que todo esse preconceito quando o assunto é poesia?
A resposta mais fácil estaria na baixíssima taxa de compra de livros no Brasil. O índice é de 0,8 livro não-didático por habitante/ano. Como ninguém leva um livro pela metade, não se chega a adquirir um volume inteiro, ficando longe de países como os Estados Unidos (sete livros por habitante/ano). Sobrariam para os versos as migalhas. O Prêmio Jabuti de Literatura, o mais importante do país, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, seria outra prova desse desinteresse. Nesse ano, apenas 63 livros foram inscritos na categoria poesia, 40 a menos dos 103 inscritos no ano passado. Nas livrarias, a seção de poesia dorme em algum canto obscuro, longe do alcance da visão dos leitores.
Todos esses dados seriam suficientes para indicar que o brasileiro não gosta de poesia. Será? O curioso é que boa parte das pessoas costuma iniciar-se na literatura por meio da poesia, seja em cartas, seja em cantadas extra-literárias para conquistar alguém. Mas o adolescente que se empenha em comover seu par é o mesmo que acha difícil a interpretação poética. Esse é o paradoxo: os poemas são considerados fáceis de fazer e complicados de ler. Como isso? Para muitos jovens, ainda vigora uma idéia romântica de criação. Poesia é pura inspiração, acessório para colocar em cabeçalhos de agenda. Faz parte do kit básico de sedução, ao lado das flores e do ursinho de pelúcia dado para a namorada.
Esse adolescente é o mesmo que tem horror à obrigatoriedade de ler os chamados poetas clássicos nas aulas de literatura – tudo para conseguir passar no vestibular. Aprende datas, o nome dos movimentos, mas não se inspira na leitura dos autores. O conjunto é resumido nos esquemas das escolas literárias e o texto em si termina relegado a um papel secundário. Toda trajetória de um escritor é abreviada a uma fria questão de vestibular. Sobretudo, o sujeito aprende que todos os bons poetas fazem parte do passado, culminando com a geração modernista de 1922 e uns poucos da primeira metade do século XX. Você já percebeu que não há praticamente nenhum poeta consagrado desde então, conhecido e lido como Drummond ou João Cabral?
Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar? Como foi que os leitores perderam o interesse pela poesia? Desconfio que a resposta esteja no fato de que os próprios poetas tenham perdido o interesse pelos leitores. A poesia como um exercício de linguagem, fria, escrita para agradar os professores de semiótica, torna-a cada vez mais distante do interesse dos leitores. Enquanto a poesia narrava uma história, era capaz de ser atraente, compreensível e proporcionar entretenimento, os poetas eram populares. E isso não era sinônimo de sentimentalismo barato, como o ato de despejar emoções no papel sem uma preocupação com a estrutura. O poeta era o equivalente a um músico, que tocava palavras como cordas de um violão.
Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea. Fora daí, ela passou a ser encarada de duas formas: a sentimentalista, à base de trocadilhos fracos, ou a acadêmica, difícil, culta, que atende a interesses universitários e não chega aos ouvidos da gente. Para sair desse impasse, talvez seja a hora de os poetas voltarem a contar histórias. É preciso fugir da armadilha que impõe que a boa poesia seja um exercício de linguagem e que qualquer poeta disposto a narrar a vida das pessoas seja etiquetado como menor. Não foi o público de poesia que desapareceu, como querem alguns teóricos da literatura. O que desapareceu foi a poesia em contato com a vida das pessoas. Talvez ela esteja adormecida, esperando que alguém traga de volta o simples prazer de ler um poema.

Fabrício Carpinejar é jornalista e poeta, autor de Terceira Sede e Um Terno de Pássaros ao Sul, ambos pela editora Escrituras.

Os artigos publicados nesta seção não traduzem necessariamente a opinião da Super.

Frase

“Não foi o leitor que abandonou a poesia. Foi o poeta que abandonou o leitor”

Sobre poesia




Isso foi para um grupo de poesia no facebook. Palavreado e umas discussões que tavam tendo lá. Mas enfim isso expõe um pouco a minha visão sobre as discussões sobre o que se tem escrito ultimamente. Temos muita coisa boa mas temos enxurrada de coisas ruins, e uma idéia de poesia que na minha opinião é mais desconhecimento do que é poesia do que qualquer outra coisa.



Vamos lá, como ta todo mundo dando pitaco eu vou também dar o meu.

1 - Tudo bem escrever poesia e ela não ser boa. Tem de mostrar mesmo, se não tem pessoas que vão ler então na minha opinião não vale a pena escrever. Poesia é comunicação. Ninguém nasce escrevendo que nem um Cruz e Sousa ou um Leminski. Temos o direito de escrever poesias ruins se nos comprometermos em melhorar, aprender.
2 - Pra escrever poesia tem também de ler poesia, e não existe uma estética ruim ou estilo ruim, o que existe são poemas e poesias sem algo mais, sem originalidade. Podes ser o campeão dos trocadilhos ou das rimas mas isso não te faz um poeta.
3 - Todo poema tem o dever e o prazer de ser criticado. Não é algo sublime e subjetivo que o torna intocável, bem pelo contrário, e as criticas tem o dever de serem construtivas, apresentar os lados bons e os aspectos ruins.
4 - Qualquer coisa não é arte, se fosse assim então anularíamos os estudo, a prática e a inspiração.
5 - Eu não vejo diferença de valor entre um poema concreto e um poema de cordel, cada qual é bom em sua maneira.
6 - Apenas causar asco ou choque qualquer um faz, mas comunicar apenas isso além de batido é um tanto quanto de mal gosto. Se não feito de forma adequada parece apenas uma pessoa preguiçosa querendo seguir um caminho fácil. Tanto o grotesco quanto o agradável possuem valor, e o que vai definir é como se trabalhar com eles.
7 - Grande parte das poesias aqui parecem gente chutando cachorro morto. Tentam ser marginais mas não são muito diferentes de um "punk" que vive no bob's. Não quebram nada, não questionam nada e não falam nada além do óbvio.
8 - Antes de escrever temos de ler poesia, outras autores, conhecer sobre. Da marginal até a parnasiana, sem juízo de valor, quanto mais diversidade melhor.
9 - Antes de definirem o que é poesia, para não cair num senso comum que não é nada mais do que encher linguiça, vale a pena ler o que já fora escrito sobre poesia. O que é poesia, de Fernando Paixão é um bom começo, mas vale a pena considerar também a poesia popular, repentistas, cordel, etc.
10 - Falar e falar e não dizer nada, se colocar ou ficar escrevendo sobre escrever poesia éo que mais tem. Tá saturado, tem gente que escreve só sobre isso, poemas assim tão que nem zumbi no facebook, no gargalo.

Tem uma carta do Alexei Bueno que apesar de meio exagerada é uma critica muito interessante, e do carpinejar também. Um segundo.

http://super.abril.com.br/cultura/nao-se-le-poesia-442564.shtml <- br="" l="" n="" o="" poesia="" por="" que="" se="">
http://observatoriodacritica.com.br/polemicas/1998-polemica-do-poeta-alexei-bueno/carta-aberta-aos-poetas-brasileiros-do-poeta-alexei-bueno-no-listas-de-poesia-versao-expandida/ Carta aberta aos poetas brasileiros do Alexei Bueno

Desmoronando Pasárgada - Raescla Oliveira

link da imagem

Desmoronando Pasárgada - Raescla Oliveira

Desmoronando a Pasárgada
do pernambucano Bandeira
desmoronando os muros
da ilusão de Bandeira
ou de qualquer poeta, qualquer homem
que ainda não despertou do devaneio
do “Campo dos Persas”
não há rei!
Não há cama!
Nem há mulher alguma
Que queira deitar contigo
Mata-te, pois não há Pasárgada
Mata-te, pois aqui não é Pasárgada
Desconstrói esse sonho machista
Anda, quebra as paredes de Pasárgada
e mata-te, pois aqui não há recanto para os teus sonhos
não há banho de mar e nem bicicleta
As prostitutas não querem te namorar
Se são bonitas como dizes, que te importa
Porquê ainda permanece a sonhar?
Não há cama!
Não há rei!
Mata-te, pois Pasárgada não nasceu
Morreu nos teus sonhos e dos poetas
Dos falsos poetas jamais conhecedores das mulheres, mas
que estão sempre a descrevê-las
e continuam a esperá-las em camas e em reinos
como o de Pasárgada
Sempre na descrição desses homens
Foram as amantes, as esposas ou as prostitutas bonitas
Morram todos, pois aqui não é Pasárgada
Morram no desabamento da Pasárgada dos seus sonhos
Contracepção e aborto
Zaratustra, os persas, a religião
Proibição
Contraditória Pasárgada, morre nos teus sonhos bobos
Morram todos, pois aqui não é Pasárgada
Morram no desabamento da Pasárgada dos seus sonhos.

Raescla Oliveira

domingo, 6 de setembro de 2009

Othon Gama D'eça e Araújo Figueredo


Algo aqui: Othon D’eça, escritor importantíssimo de Santa Catarina, textos retirados do livro “Cinza e Bruma e Poemas Dispersos”; Araújo Figueredo, poeta do qual muito já escrevi sobre, de poesia e vida muito além do natural.

Essa não é uma Desterro que inventei ou que eu quero que seja, é uma Desterro presente na memória da cidade, uma imagem contrária á cidade onde as loiras do interior vem tomar sol para assim serem parte da propaganda de turismo. (Não tenho nada contra o interior de Santa Catarina deixo claro). Mas é que não podemos viver numa cidade que se vê de acordo com os preconceitos que recebe, e sim numa cidade que se vê de acordo com um passado e um presente, e não uma maquilagem neo-liberalista de gente que tenta esconder e apagar para criar um ontem que jamais existiu, que melhor funcione para circular capital.

Por mais que as pessoas pensem ser fascismo divulgar uma imagem contrária ao “PARAÌSO TROPICAL LOIRO”, ou, a ”FLORIPA: CIDADE DA MACONHA E DO SOL E SURF”, eu prefiro tentar passar a Desterro do Mar e da Saudade, e a Desterro das Bruxas e das Brumas. Desterro é uma cidade que poderia ser outra, mas na verdade sofre um verdadeiro etnocídio, um culturicídio ou seja lá que raios, causado por um governo racista que quer tornar aqui uma Maiami, que considera o artista como estorvo do estado.

Peço desculpas por não falar aqui de Mário Quintana e Drummond e de todos os poetas obrigatórios, por mais que eu os leia, prefiro falar, por mais absurdo que seja, de poetas que simplesmente não existem dentro do coletivo, e que merecem sim, um pouco de divulgação, porque são bons, e só não são conhecidos hoje porque simplesmente escreveram e deixaram aquilo que tanto nos perturba nesse admirável mundo novo, eles no deixaram uma identidade.


Caso eu tenha ofendido alguém, espero que me diga, poste aqui um comentário falando o porquê.

Bom acho que é só isso,
Abraços, Marcel Angelo.


Desterro, Alma do Mar e da Saudade...
A Laércio Caldeira

Desterro é o poema de pedra da tranqüilidade...
Nos lentos crepúsculos de agonias cinzentas, parece um lavor antigo num retábulo de opala...
E, sobre a sombra do céu, a sua sombra nas águas, recorda um fresco flamengo num muro de porcelana...
Ao longo do seu cais onde os saveiros, inquietos, suplicando bonança, erguem para Deus os braços vincados pelas driças, a tristeza da Penumbra e da Umidade estira-se como um grande gemido de Melancolia...
Desterro tem a expressão de Santa Tereza de Jesus!...
Pelas manhãs engessadas do Inverno, quando as brumas encanecem as Horas e fazem pensar na doçura sem orlas da Renúncia, ela ensimesma-se num Sonho de vitral e fica absorta, de joelhos, enevoadamente a relembrar...
Então, para alegrá-la, as muretas ondulam, em versos de guipure, ao ritmo do vento, as Canções que vieram rimando do mar alto!...
E as músicas dos sinos evadem-se dos cárceres de bronze, e palpitam entre as neblinas, e elargem-se vibrantes, sobre os telhados e sobre a paisagem, em grandes enciclias brancas e sonoras!...
No entanto é vã essa alegria das águas e das torres...
Desterro é a Tristeza que parou à beira do mar!...
Do Mar sempre enamorado de sua Sombra... vaga... contemplativa... feita das sete dores da Saudade...

Minha Ilha

Bendita sejas pelo tempo afora,
Ilha do meu Amor! Meu verde altar,
Com a contrição de quem vai comungar.

Em ti exalto a imagem de meu lar;
O casarão em que a saudade vela,
A contemplar além, beijando o mar,
A silhueta azul do Cambirela.

E canto as formas túmidas, redondas,
Dos teus morros bordados de esplendores!
A cidade que sonha, ouvindo as ondas,
E os meus velhos amigos pescadores!

Ilha do meu Amor! Bendita sejas,
No que tu mostras e no que sugeres!
Na serena postura das igrejas,
E nos olhos castanhos das mulheres!

E bendito o teu céu cor de safira
e o teu agreste corpo de esmeralda!
E o mar, que em torno a ti de amor suspira,
E lábaros d’espumas ao sol desfralda!

E bendito o teu povo de praieiros,
Que constrói ele mesmo o seu casal;
E fala a velha língua dos troveiros,
Como falava o avô de Portugal!

Cerro os olhos e vejo na lembrança,
O que tu tens de belo e de lendário:
Um regaço de praia onde um barco descansa,
Sob as ramas de um cedro solitário!

Ou então uma fonte, um caminho, um telhado,
Docemente a surgir nos braços do arvoredo.
E refolhos de mato abobadado,
Com chilreios, e sombra, e perfume, e segredo!

OFERENDA

Ilha do meu Amor! Por ti palpita
O mais apaixonado coração!
Tu és a minha verde Sulamita,
A luz do meu olhar e a minha devoção!

(“República” – 09/12/1923)

A Lua e a Ponte

Dorme a cidade junto ao mar tranqüilo,
Onde nadam reflexos em cardumes
E ondeiam sombras efêmeras e estranhas.
Em torno oscilam os longos fios de lumes
Como os festões de um vago peristilo.

É tarde. A noite busca o abrigo das montanhas;
E o vento arisco espalha e amadurece
As maresias verdes do canal.

Passa um grande barco de altas vergas em cruz.

E enorme, redonda, a lua cheia parece,
Entre as duas torres da Ponte Hercílio Luz,
Um luminoso gongo de cristal.
(“O Estado” – 09/07/19577)

Misteriosa

A Tito Carvalho

Ela era esquia e fina, e parecia
Um vaso italiano de cristal.
Toda a gente, na rua, quando a via,
Gostava do seu vulto original.

Era a graça, o perfume que inebria
Dum modo estranho e sobrenatural.
E essa gente, encantada, nem sabia
Se no mundo nascera uma outra igual!

- Donde veio, diziam, flor tão rara?
Qual canto da terra? Que cidade
O seu berço de plumas embalara?

Mas ninguém nunca soube a verdade:
Que essa flor de volúpia desatara
Num humilde casebre da Trindade!

(“República – 27/09/1923)

Trindade é um bairro daqui...



Araújo Figueredo

Em redor da fogueira

Rodam na cana verde as filhas da Vicência,
Vindas do Ribeirão, das últimas Costeiras...
Belas almas febris, de rica florescência,
De seios rebentando em botões de roseiras.

Do diamantino luar na espiritual diluência,
Rodam como visões, graciosas e ligeiras,
Rondam de par em par, em célere cadência,
Em vertigem feliz, alegres e brejeiras.

Fêz –se então um rumor de remos nos toletes...
É que chegam do mar uns rapazes. Foguetes
Esfuziam no espaço... E vozeiam cantigas.

No terreiro do engenho a fogueira crepita...
E, ao vermelho clarão que, em derredor, se agita,
Mais feiticeiras são, agora, as raparigas.



Ilusão

Sopra rijo o nordeste. Anselmo vem à popa
De um leve batelão. Vem, contente, a cantar...
Nem se lembra que está sobre as ondas do mar:
E, destemido, d'água o largo pano ensopa.

A leve embarcação embaraços não topa,
Metida a quilha ao vento... É um pássaro a voar...
Rumo da praia irá, num seio descansar,
De bôjo para cima, embutido de estôpa.

Mas , junto ao Cambirela, onde há um precipício,
Que a tanta gente dá o eterno sacrifício
Da morte, ei-la emborcada, a leve embarcação.

E nunca mais ninguém viu o pobre Anselmo:
Menos quem o tanto amou, e, na luz do santelmo,
Parece vê-lo sempre... E crê nessa ilusão!

Posteriormente vou procurar por Oscar Rosas, vou postar uns poemas de Rodrigo de Haro e tentar achar um bom material sobre o período Ultra Romântico aqui da Ilha.

sábado, 2 de maio de 2009

Enxame


"Mas as floras nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,

Quem têm elas, que assim nos endoidecem,
Têm o que mais as almas apetecem...
Têm o aroma irritante e acre do vício!"
Antero de Quental

Enxame

Nas tempestades as bruxas altivagas
rasgam o céu vão nas nuvens legionárias
elas são aves de breu e de perdição
fatais delícias do inferno missionárias.

Nas tempestades devastam gerações
vão derrubando famílias aos abismos.
Moças, meninas de inveja e de apatia,
rosas de asfalto de podre mecanismo.

Nas tempestades, rasantes pelos nimbos,
vão se espalhando por entre multidões,
formas de vícios, num trago um dissabor,
degenerando emoções em ilusões.

Nas tempestades, nas noites tais criaturas
vão se espalhando num vírus formidável,
elas são tantas, são filhas infelizes
de nossos frutos, óh "mundo admirável".
oh "Admirável Mundo Novo".

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Varios Simbolistas


Alguns poetas da fase simbolista, ou que participaram dela. O simbolismo fora uma resposta ao parnasianismo, assim como o parnasianismo fora um resposta ao romantismo, apesar de que estes três em muitos autores andam juntos, como em Cruz e Sousa, parnaso-simbolista por exemplo, ou Luiz Delfino que passou pelas três fases. Olavo Bilac que muitas vezes andou pelo romantismo e pelo simbolismo também. Dizer que um escritor, por exemplo Cruz e Sousa é apenas Simbolista ou Parnaso, ou cuspir em toda a obra de Olavo Bilac (como muitos fazem) por causa dele ter feito parte do movimento parnasiano é digamos, estupidez! O que vale é a obra em si do autor e classificar alguém só pelo movimento que fez parte é bobagem. No simbolismo se vê muita tendencia ao modernismo, além do quê, o verso livre começou foi no simbolismo. E muitos modernistas como Drummond e Manuel Bandeira fizeram sonetos com um rigor técnico muito equivalente aos parnasos.

O meu concelho é, estudar a literatura indo além dos preconceitos que se aprende na cartilha do MAC. E ler mais a literatura inclusive a poesia nacional, pois na poesia não se lê o poeta estrangeiro em português, se lê o poeta tradutor escrevendo uma versão da idéia do poeta. Logo eu prefiro as edições bilíngües... Acho que todos preferem.

Mas bem voltando ao assunto, poetas nacionais da fase simbolista, sendo que se pode ver: Idéias em comum mas eles não são as mesmas coisas. Pois cada escritor é único.

Castro Meneses (1883 - 1920)

Cruz e Sousa

Vieste como o cansim dos areais africanos,
Ébrio ainda do sol que requeima o deserto,
Tentar, em pleno espaço, os vôos sôbre-humanos
Dos anjos e lutar de peito descoberto.

Vieste da solidão dos tormentos insanos
À procura da luz de um grande sonho incerto,
Tendo por voz amiga o clamor dos ocenaos
E por tenta o alto céu sôbre tua fronte aberto.

Rebramiu sôbre ti um anátema eterno.
Mas, indômito e só, velho titã glorioso,
Transpuseste, sorrindo, os círculos do Inferno...

E, esboçando na sombra um ríctus mais tristonho,
Ficaste, como um deus, vencido e silencioso,
Emparedado, enfim, dentro do próprio sonho...

José de Abreu Albano (1882 - 1923)

Cantiga 1

Nestes sombrios recantos,
Nestes saudosos retiros
Desliza um rio de prantos
E corre um ar de suspiros.

Volta

Tenho na alma dois moinhos,
Um é de agua, outro é de vento;
Ambos juntos e vizinhos,
Estão sempre em movimento.
E giros tantos e tantos
E tantos e tantos giros
Dão ao primeiro os meus prantos
E ao segundo os meus suspiros.

Álvaro Moreyra (1888-1964)

Lenda

"Não colhas essas rosas.
As rosas,
Irmãs na terra das estrêlas,
São mais lindas nos olhos que na mão,
Contenta-te com vê-las,

Deixa-as na haste,
Côr de púrpura e ouro,
Se as colhêres, as rosas morrerão"

Não quis ouvir o teu agouro.
Colhi tôdas as rosas que nasceram
Nos caminhos por onde me levaste.
E as rosas não morreram...

Epitáfio

Acreditei na vida. E a vida em mim. Depois
Desandamos a rir de nós ambos os dois...

Eduardo Guimaraens (1892 - 1928)

Embalo Fúnebre

Sob os ciprestes,
Dormem os mortos.

Dormem os mortos
À luz da lua.

Pálida lua,
Gélida lua!

Soluça a bôca
Do que ainda vive.

Oram mãos postas
Pelos que dormem
(Silêncio!) o sono
Da terra, eterno.

De bôca em bôca,
Lúgubremente,
Passam os réquiens
Pelos que dormem
Sob os ciprestes.

Vaga a saudade
Pelo siêncio
Da noite fria.

Oram mãos postas
Por quem não vive.
Pálida lua,
Gélida lua!

Vê: Também morto,
Sinto o meu sonho!

Ora por êle,
Pede por êle.

Noite sem astros,
Ora por êle.

Inocência

Inocência das cousas. Pura
Suavidade
Da alva que surge. Paz, frescura,
Símplicidade!
Nitidez do orvalho. Profundo
Céu. Ri-se a aurora...
Milagre. Dir-se-ia que o mundo
Nasceu agora!

Marcelo Gama (1878-1915)

Chuva de Estrelas

Li uma vez em páginas antigas
Que se uma estrêla cai do céu clemente,
Concede tudo o que lhe pede a gente.
Como as estrêlas são nossas amigas!

Por isso agora, insone e sem fadigas,
Fito os céus tôda a noite atentamente.
Chovem estrêlas... E eu: - "Astro fulgente,
Que que eterno o nosso amor predigas!

- Faze-me bom! Conserva-lhe a doçura!
- Estrêla, dá-nos paz! serenidade!
- Que a nossa filha seja linda e pura!"

Doiradas ambições! Como dize-las,
Se elas são tantas?! Deus, por pieade,
Manda que caiam tôdas as estrêlas!

Onestaldo de Pennafort (1902 - ?)

Chuva

A chuva entorna na paisagem calma
Uma indolência de abandono e sono
Paisagem triste como a de minha alma...
A chuva é um longo sono de abandono...

Olho atravéz do espelho da vidraça.
Dorme o jardim sob soluços d'água.
Na rua, alguém cantarolando passa,
Cantarolando a minha própria mágoa.

Quem será êsse vulto que se apossa
Da firme dor que em minha vida existe,
Para cantá-la assim num ar de troça,
De uma maneira que me põe mais triste?

E olho através do espelho da vidraça:
Dorme o jadrim sob os soluços d'água.
Na rua adormecida ninguém passa.
A chuva canta a minha própria mágoa.

Araújo Figueredo

Num Sonho

- Lá vai, velas ao vento, o brique Flor das Águas;
Lá vai, garbosamente, em procura do Norte.
E alegre chegara? Quem sabe lá das magoas
Da sua gente? E quem já lhe notou a sorte?

"Mágoas! Quem nunca as teve? Eu, pelo menos, trago-as
Desde o dia fatal em que, olhando a morte,
O meu noivo vagara aflito, envolvido nas fráguas,
Dos bruscos vagalhões em terrivel coorte:

Assim falava Rosa às queridas amigas...
E dentre o lindo rol de meigas raparigas,
Rita pôs-se a cismar na vida do Lourenço.

Vira-o no mar profundo e revôlto de um sonho,
Nas angústias fatais de um naufrágio medonho,
A gritar e a acenar convulsamente um lenço.

domingo, 8 de março de 2009

Estudo sobre os Rondós de Silva Alvarenga

Espero que isso ajude um pouco...

Vendo agora, eu falei mais sobre o rondó de Silva Alvarenga, vou estudar mais as “outras formas dessa forma”, e postarei posteriormente.

O rondó, forma poética medieval francesa, tem sua notabilidade com Guillaume de Machaut, Eustache Dechamps, Charles d'Orleans, devendo, originalmente, ser destinado ao canto e consistindo de três estrofes, com um total de doze e quatorze versos e o esquema das rimas recorrentes. Variando o números de versos e o esquema das rimas, o verdadeiro apoio fonético que em breve o caracterizaria passou a ser a repetição do primeiro verso ao fim da segunda estrofe e ao fim da terceira estrofe, isto é, do rondó. Variação subseqüente, que se pode chamar rondel, consistiu em repetir, em numero maior de versos, o primeiro verso pela altura do oitavo ou de um dos seguintes versos e no fim do poema.
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Os rondós de Silva Alvarenga representam um fim de evolução da forma, com estrutura sensivelmente diferente. Consistem, quase todos, em quatro grupos de três quadras, sendo repetida a primeira quadra, em forma de estribílho, no início de cada grupo assim como no fim do poema – o que totaliza, por conseguinte, quinze quadras ou 52 versos. Discrepam dessa estrutura estrófica o rondó XLIII, que consiste de sete grupos de três quadras, terminando cada grupo pela mesma quadra, em forma de estribilho; o rondó XLIV, com uma quadra inicial, seguida de um estribilho em forma de dístico, ao fim, num total de doze quadras, com o dístico repetido sete vezes; e os rondós XLV, XLVI e XLVII, que consistem de duas quadras, seguidas de dístico, mais duas quadras, seguidas do dístico.
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O verso, na grande maioria dos rondós, é heptassilibado, redondilho maior, salvo os do rondó XVLIII, que são pentassilibados, redondilhos menores, e os do rondó XLIV, hexassilibados.
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(quero saber que tipo de antologia é essa que não pôe os poemas que ela cita!)
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Esquema rimático,

Sobre o feno recostado(a)
Descansado(a') afino a lira(b)
Que respira(b') com ternura(c)
Na doçura((c') do prazer(d)
Amo a simples Natureza:(e)
Busquem outros a vaidade(f)
Nos tumultos da cidade(f)
na riqueza(e') e no poder(d)

Acredito eu que fica de melhor só a rima principal no rondó(e), venha a ser aguda, e as demais em sua maioria graves, isso dá mais relevância e destaque ao efeito do rondó, ou talvez o contrário, sendo ela grave e as demais agudas, mas ele teria de ser mais curto.


O Amor
Rondó XLIII

Meu peito se inflama,
Ó ninfa, socorro,
Piedade, que eu morro
Na chama de amor.

Se os dias serenas
Com doces vitórias,
Serão sempre glórias
As penas de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Triunfe a ternura
Nas cordas da lira,
Que branda me inspira
Doçura de Amor.

Dá fim aos desgostos
Que nutre o receio,
E anima em teu seio
Os gostos de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Por ver, que te agrava
Meu terno gemido,
O tinha escondido
Na aljava do amor.

Mas entres pesares
Suspira, e te roga
Confôrto, e se afoga
Nos mares de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Cantou passarinho,
Com voz lisonjeira,
Que viu na mangueira
O ninho de Amor.

Alegra os rochedos,
E aprende desta ave
No canto suave,
Segredos de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

O monte me escuta
Respondem as brenhas,
Que busque nas penas
As grutas de Amor.

As mágoas contemplo
E a dor, que me cansa:
Envio a Esperança
Ao templo de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Vem ver nestes vales
Os mimos de Flora,
E o trsite, que chora
Os males de Amor.

Respire a minha alma,
Que geme, que espera:
A ganhe em Citera
A palma de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Se amante anuncias
Prazeres ditosos;
Serão preciosos
Os dias de Amor.

Ah deixa os rigores,
Dar-te-ei, Glaura bela,
Em nova capela
Mil flôres de Amor.

Enxuga meu prato,
que fráguas acende:
O Céu já se ofende
De tanto rigor.

Sei que pelo fato de Silva Alvarenga seja parnasiano que eu falar sobre ele ou estudar a poesia dele é um tanto inadequado, como a maioria das pessoas veem. Mas a forma de seu rondó me agrada e é a que eu uso, que possivelmente farei algumas modificações ao meu ver, de melhor maneira, tornando-a mais elástica. Mas em suma isso fora sobre a forma do rondó do Sr. Alvarenga, isso não significa que você vá ficar escrevendo sobre a Glaura em uma inspiração psicótica sobre uma vida que não é sua. O rondó não tem limitação de tema, pois ele pode ser até mesmo um epitáfio(se caber na lápide...), logo o Epitáfio tem limitação pois ele é classificado de acordo com o tema e ocasião.


Fonte pega (90% copiada) do livro
Nossos Clássicos
-----Nº 24-------
Silva Alvarenga
------Poesia-----
--------por-------
Antônio Houaiss
----2ª Edição---
----1968---
**
*

sexta-feira, 6 de março de 2009

Metro Part.1

Minha intenção não é um trabalho acadêmico nem realmente demonstrar alguma habilidade pessoal, apenas esclarecer algumas dúvidas e expor algumas opiniões. Esta é a parte 1, coisas mais complexas ao meu ver eu vou colocar na segunda parte, no porvir de tempos mais distantes, onde talvez, alguns tenham aprendido ou entendido algo disso tudo. Espero ajudar em algo com isso... Não sou um bom professor.

Em suma, isso não é algo realmente sério, apesar de ter um embasamento didático.

Fontes, livro:

  1. Nossa Gramática, Teoria e Prática de Luiz Antonio Sacconi.
  2. Fotocópias que tirei a muito tempo e não me lembro o nome do livro.
  3. Minha mãe.
  4. Experiências Pessoais, Sistema Nervoso de Geleiras.

O Verso Clássico

A base de tudo, na criação do universo, para que as cadeias de eventos existam, originou-se o tempo.
No dicionário: sm 1. A sucessão de anos, dias, horas, etc., que envolve a noção do presente, passado e futuro. 2.Momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize. 3. Época, estação. 4. As condições meteriológicas. 5. Gram. Flexão indicativa do momento a que se refere a ação ou estado verbal. 5. Mús. Cada uma das partes, em andamentos diferentes, em que se dividem certas peças musicais, como, p.Ex. A sonata.

Pois bem usaremos o tempo na poesia, em todas as formas ali. Porém, um dos elementos que vai ser realmente o tempo da poesia é o metro e o ritmo. O metro(ou “pés”) é o numero de silabas no verso, para que aja assim o ritmo que posteriormente vamos estudar. Eu não vou me ater a nomes bonitinhos pois para mim isso só vai ser útil mais tarde. Antes você deve saber fazer para depois meter banca.

Métro, ou Pés

Começaremos com o mais simples, ao contrário das silabas que aprendemos na escola, ou não, no meu caso. Elas são contadas /as/sim/ al/go/ e/nor/me/men/te/ o/pos/to/ ao que seria o metro poético, /as/sim/ al/go e/nor/me/men/te o/pos/to ao/ ou/tro.

A contagem das silabas métricas se faz auditivamente e obedece certos princípios.

Quando houver vogal no fim de uma palavra e outra no início da palavra seguinte, formando ditongo(sorvete amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado; ou crase: minha alma = minhalma; santo orvalho = santorvalho), conta-se apenas uma silaba.

No verso se faz até a silaba tônica da última palavra, digamos: hi/po//tamo (no caso um esdrúxulo); sau/da/de (grave); es/ta/ções que é então, o agudo. A variação dessas rimas no poema, quando não forçadas, pode dar uma sonoridade um pouco mais rica, mas repito, quando não forçada. Esperimente e veja que tipo de impacto que elas dão.

Em casos de ditongos, em geral formam apenas uma sílaba metrica: Pá/tria/; quei/xu/me/; a/cor/dou.

No caso dos hiatos, se forma o contrário, pois a tônica se encontra depois, logo se sente uma quebra por assim dizer: sa/bi/á, hi/a/to, ru/í/do.

Vamos encandear essa trova:

Es/tu/dan/te/, dei/xe os/ li/vros,
e/ vol/te/-se/ pa/ra/ mim/;
mais/ va/le um/ di/a/ de a/mo/res
que/ dez/ a/nos/ de/ la/tim.

(popular)

Note que são todos sete sílabas métricas, heis ai um heptassílibado, ou rendondilha maior. No terceiro verso, pelo que se dá a entender, no di/a, se encontra uma diérese: que é a transformação de um ditongo em hiato. Esse processo fonético é algo que vamos estudar a seguir. Antes eu recomendo um pouco mais de treino, escrevendo ou encandeando, que é isso que acabamos de fazer com a trova.

  1. A crase; É a fusão de duas vogais numa só. Ex:(mi-nhal-ma = Minha alma; santo orvalho = san/tor/va/lho).
  2. A conhecida elisão(ou sinafela): É a queda da vogal átona final de uma palavra, por exemplo: Canta um = Cantum; minha infância = minhinfância. Quando o poeta não quer usar isso, geralmente costuma-se usar um “-” entre as palavras (canta-um), isso recebe o nome de diálise.
  3. Ditongação: é a junção de uma vogal átona final com uma seguinte, formando ditongo: soverte amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado.
  4. Sinérese: é a transformação de um hiato em ditongo, ex: Crueldade = cruel-da-de, violeta = vio-le-ta.
  5. Diérese: é justamente o oposto, vide a trova.
  6. Ectlipse(!!): é a queda de um fonema nasal, para que haja crase ou ditongação. Como dizia camões: (“ Mas co saber se vence que co braço.”) Outro ex: com os = cos; com a = coa; com as = coas.
  7. Aferese: é a queda de sílabas ou de fonemas iniciais, Ex: inda(em vez de ainda), 'stamos (em vez de estamos).
  8. A Símcope: é a queda de um fonema no meio da palavra. Ex: Espr'ança por esperança ou dev'ria por deveria.
  9. Apócope: é a queda de um fonema no final da palavra, Ex: mármor por mármore ou cárcer por cárcere.
  10. Prótese: é a colocação de um fonema no início de uma palavra: Alevantar por exemplo, no lugar de levantar.
  11. Paragoge; é o acréscimo de um fonema no final de uma palavra, Ex: Mártir por mártire, ou cantare por cantar.
  12. Diástole: é a deslocação de um acento para a silaba seguinte: Artifices por arfices, alacre em vez de álacre.
  13. Sístole: é o inverso da diástole; deslocação do acento para a sílaba antérior, Ex:rio ao invéz de Dario, calria ao invés de calmaria.
  14. Métatese: é a transposição de um fonema na própria palavra, Ex: vairo ao invez de rio, cousa por coisa, rosairo por rorio. Usado em maioria apenas por exigências de rima.

O uso desses recurso pode dar uma graça ao seu trabalho, porém, devemos admitir que o exagero pode levar o poema ao inteligível, ou ao excêntrico... Talvez, seja essa a intenção do autor, logo, bom proveito.

Ritmo

O ritmo é a graça da poesia, é dela que se sai o som, podendo lidar com a velocidade o peso e muitas outras cocitas más que o autor-poeta irá descobrir ao longo das eras...

Não vou me ater a coisas como regras na colocação das tônicas ao longo do verso e coisas do tipo, que fique isso ao seu encargo e curiosidade. O que eu irei fazer é apenas dar o empurrãozinho inicial, como à quem monta numa bicicleta pela primeira vez.

“Tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonta...
Meu pai sem ter uma nora!”(popular)

Tan-to -li-mão, - tan-ta – li-ma,(1ª, 4ª, 7ª)
tan-ta- sil-va, -tan-ta a-mo-ra,(1ª, 3ª, 5ª, 7ª)
tan-ta -me-ni-na- bo-ni-ta...(1ª, 4ª, 7ª)
Meu- pai- sem- ter- u-ma – no-ra.(4ª,7ª)

“Já serena desce a tarde,
Já não arde o sol formoso:
Vem saudoso o brando vento
doce alento respirar.”

(Silva Alvarenga, Rondó XX, A Tarde)

- se-re-na- des-ce a -tar-de,(1ª,3ª,5ª,7ª)
- não- ar-de o -sol- for-mo-so:(1ª,3ª,5ª,7ª)
Vem -sau-do-so o -bran-do -ven-to(1ª,3ª,5ª,7ª)
do-ce a-len-to -res-pi-rar.(1ª,3ª,7ª)

Nota-se, se você der ênfase nas tônicas sentirás a sonoridade, o ritmo. Antigamente a música e a poesia eram uma só, dizem, ou talvez, era como os repentistas de hoje, do sul ao norte do país. Justamente as provas vivas de que a poesia não é algo pessoal para ser lido no livro apenas.

Mas, dizem, fora essa mescla separada pelos romanos, como se pode ver, tudo que é ruim veio dos romanos, como o mercado automobilístico por exemplo.

Pois bêm, são as tônicas da palavra e sua colocação ao longo do verso, e sua repetição aos demais, a mudança de ordem, no decorrer do poema, pode gerar uma quebra, boa ou não, dez que devidamente feito. Podendo mudar a velocidade acelerando, ou não.

Lembre-se que na música um dos elementos que a faz ser ela mesma é a repetição, é o que dá a simetria e a perfeição, mas uma musica muito repetida pode vir a ser monótona. Logo um poema muito extenso sem variação no ritmo e no metro pode gerar algo cansativo. A questão é, estude escrevendo e lendo em voz alta, as diferentes possibilidades e misturas e veja a que mais lhe agrada para determinado poema. E muitas outros elementos você pode usar alem, é o que veremos a seguir.

Rimas

As rimas, ao contrário do que a maioria pensa, não é a parte mais importante da poesia. Ela também se resume a repetição. Essa obrigatoriedade de rimas perfeitas aos olhos, está mais para uma histeria parnasiana do que realmente para uma obrigação. Dês que elas não sejam, digamos, fracas como verbos no infinitivo, ou sempre de uma classe gramatical. Mas isso não significa que você não deva usá-las. Mas use-as com moderação. Nimbos, e lindos tem a mesma sonoridade, nisso, elas podem vir a rimar. A mesma coisa que cisne e tisne, que são rimas raras, mas isso não significa que devas usá-las sempre que possível.

A rimas podem estar nas mais variadas localizações possíveis.

Tudo enfim, cabe a criatividade e ao som.

Mas vamos seguir alguns exemplos.

Toantes, Sonantes e aliteradas.

  1. As toantes apresentam identidades somente nas vogais tônicas: lúcido e dilúcido, árvore e pálido, boca e boa.

“Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos pálidas
molho-as. Assim eu as quero levar à boca,
em espírito de humildade, como um cálice
de penitência em que a minha alma se faz boa...” (Manuel Bandeira)

  1. As consoantes são as que rimam de igualdade total a partir da vogal tônica: Menino, tino, albino; casa, asa, brasa; percevejo, desejo e por assim vai.

  1. Aliteradas são as formas que dizem como rudimentar, são as que rimam na primeira consoante. Pode-se encontrar na poesia mais famosa, (Depois do hino nacional e o hino da bandeira.) de nosso pais: A “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.


“Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá;
sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.”

Masculinas e femininas.

  • São as rimas oxítonas as masculinas, e as de palavras paroxítonas são as femininas. Tais denominações, são da poética medieval, dos trovadores galaico-portugueses. As esdrúxulas não tem denominação. A alternância das rimas masculinas e femininas é de rigor na poesia francesa, e como é de se esperar, já fora usada por muitos poetas brasileiros, na belle época, que na época era a classe alta imitar a francesada, hoje todo mundo quer é ser inglês, até mesmo os argentinos.

Pobres, Ricas, Raras e Preciosas

  • As rimas pobres são as rimas provenientes da mesma classe gramatical, ou de palavras comuns. Ex: Pobremente, deprimente. Coração, irmão. Criado, matado. Sonhador, dor. Mar, voltar. E assim por diante.
  • As ricas já são justamente o contrário, com palavras de classes gramaticais diversas, ou as de uso inusitado. Ex: Vibra e libra, fosco e tosco, sonha e fronha, assumes e lumes, dele e aquele.
  • Raras são aquelas de poucas possibilidades de rimas, como tisne e cisne, turco e murco, furco, urco e algumas formas verbais.
  • Preciosas são as rimas artificiais, forjadas com palavras combinadas, tais como múmia com resume-a, pântanos e quebranta-nos, lâmpada e “estampa da”, “lírios e delir e os”. Com criatividade e moderação, é claro.

Localização:

Darei ênfase apenas no momento, às rimas encadeadas e as rimas Iteradas. São as rimas encadeadas as quando a ultima palavra de um verso rima com outra no verso seguinte.

Ex:

“Ouve, ó Glaura, o som da lira,
Que suspira lacrimosa,
Amorosa em noite escura,
Sem ventura, nem prazer.”

Silva Alvarenga

Já as Iteradas são as que se repetem no mesmo verso:

Donzela bela, quem me inspira a lira
um canto santo de fremente amor,
ao bardo o cardo da tremenda senda

estanca arranca-lhe a terrível dor!”

Castro Alves.

Outras Cocitas Mas

Heis aqui alguns exemplos que podem lhe gerar idéias, qualquer elemento usado, se bem usado, tanto figuras de linguagem como qualquer outro meio, pode dar uma graça ao seu poema, como um tempero exótico ou até mesmo como uma cobertura de um bolo.

Calvagamento: Recurso do qual o sentido do verso não finda nesse próprio, como nesses versos de Olavo Bilac: “Pátria, lateja em ti, no teu lenho por onde
Circulo! E sou perfume, e sombra, e sol e orvalho!”

Serve tanto para dar ênfase á uma determinada como também para evitar um certo cansaço em poemas longos, apesar de que sua utilidade pode ter inúmeros fins.

Aliteração: É a repetição de tônicas ou de uma letra.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias de violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas vãs, vulcanizadas” Cruz e Souza.

Nota-se aqui a aliteração com sentido de sugerir o sussurro do vento.


“Sou um mulato nato do litoral” Caetano

Caso das tônicas.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Antero de Quental

Poeta, simbolista português, da Ilha de S. Miguel, Açores.

Oceano Nox
(A A. de Azevedo Castelo Branco )

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das cousas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais? -

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

A Dor
(Do poeta húngaro Sandor Petöfi)

O que é a dor? Um mar. E a alegria?
Pérola oculta nesse mar fremente.
Quantas vezes a pérola encantada,
Entre as rochas profundas sepultada,
Se dissolve esquecida, lentamente,
E nunca chega a ver a luz do dia?

Tradução de Antero de Quental


Palavras D'um Certo Morto

Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...

Só o espiríto vive: vela absorto
Num fixo, inexoravel pensamento:
“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...

Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia,
Um dia só – no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me,

Como se eu fosse alguem! como se a Vida
Pudesse ser alguem! - logo em seguida
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!

Quinze Anos

Eu amo a vasta sombra das montanhas,
Que estendem sobre os largos continentes
Os seus Braços de rocha negra, ingentes,
Bem como braços colossais de aranhas.

Dalí o nosso olhar vê tão estranhas
Cousas, por esse céu! e tão ardentes
Visões, lá nesse mar de ondas trementes!
E ás estrelas, dalí, vê-as tamanhas!

Amo a grandeza misteriosa e vasta...
A grande idéia, como a flor e o viço
Da árvore colossal que nos domina...

Mas tu, criança, se tu boa... e basta:
Sabe amar e sorrir... é pouco isso?
Mas a ti só te quero pequenina!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Bruxas e Frances




As bruxas daqui, são bruxas versões mais fantásticas e monstruosas, diferente da convencional anglo saxã, que insistem colocar como a nossa. Um amigo me contou, pois eu sou de fora da cidade, natural de São Paulo mas criado aqui, de que as bruxas, foram assimiladas também as prostitutas do local, que andavam seminuas berrando descaradamente os seus preços enquanto andavam de cavalo em certas regiões, a noite. Além de muitas histórias sobrenaturais, como risos no meio da noite, risos animalescos, e pessoas metamorfas, mariposas que sugam o sangue de crianças e coisas do gênero.

Rodrigo de Haro – Amigo da Labareda – 1991 – Pag. 19

Bruxas

Tormenta das bruxas na cozinha
cozinha das bruxas
na tormenta...

Quem as deslinda?

Ao carnaval do píncaro
na sombra
acodem enlaçadas
mas sozinhas
as filhas pressurosas
do absinto.

Que sementes esmagam
silenciosas? Que naufrágios
programam soleares?

Dedos cantantes on-
dulantes sábias vão
cozendo de verbenas sangues
na mesa corcunda
que fogareiros
cavalgam.

Quem sozinho as deslinda?
Que enumera tríplice
as alimárias
e os vestígios nas cinzas?
São as bruxas da cozinha
na tormenta.


Vinte Luas

Sobre a saga de Isomerick
primeiro carijó a visitar a frança, tendo por promessa ir ao local para aprender coisas como a escrita e a pólvora, porém goneville não conseguiu cumprir a promessa e levar ele de volta, dando apara ele então uma vida digna, títulos e um casamento. é o segundo relato das terras brasileiras, quem tiver interesse dêem uma lida no livro homônimo "vinte luas".

Vinte Luas

São vinte luas o prometido,
nem sei se estão mais me esperando
não sei se caso eu cá, voltando
pra lá, serei reconhecido.

Nem sei se estão se relembrando,
de mim ou estão já falecidos,
são vinte luas o prometido,
nem sei se estão mais me esperando

Minha missão, tudo aprendido,
e as vezes sonho recordando,
a minha infância, mas cá retido
nos anos tantos, vão passando
das vinte luas, o prometido...

Marcel Angelo



Resenha do livro:
Em 1503, o comerciante francês Paulmier de Gonneville parte numa viagem em busca das "belas riquezas das Índias". Após zarpar do porto de Honfleur, na Normandia, sua nau desce o Atlântico ao largo da África e perde a rota. Em janeiro do ano seguinte, o comerciante aporta em terras desconhecidas: sabe-se hoje que ele se encontrava no litoral de Santa Catarina. Durante seis meses, Gonneville convive com os índios carijós. Ao voltar para a França, leva o filho do cacique, prometendo devolvê-lo no prazo de vinte luas. Se cumpre ou não a promessa, este é apenas um dos lances romanescos saborosamente narrados por Leyla Perrone-Moisés nesta particularíssima história de "descoberta" do Brasil.

Título: Livro - Vinte Luas

Subtítulo: VIAGEM DE PAULMIER DE GONNEVILLE AO BRASIL: 1503-
Autor: Leyla Perrone-Moises

domingo, 1 de março de 2009

Algumas Formas




Epitáfio para C.

Tu foste as cores dos planetas,
dos pendurados no meu quarto
tu foste as luzes, foste feita
de todas cores dos planetas
tu foste os mundos, a luneta
que mostra os mundos no qual parto,
tu foste as cores dos planetas,
dos pendurados no meu quarto.

Tempestades

No céu furioso, cinza e azul
rugiam estrondos incessantes
e desciam uivos sufocantes
pelas legiões que vem do sul.

De mares frios, de muito antes,
de olharmos para mundo algum
no céu furioso, cinza e azul
rugiam estrondos incessantes.

E se arrastando em vento sul,
vão por oceanos, retumbantes
por continentes e nenhum
pôde ver as almas fascinantes
no céu furioso, cinza e azul.

Miragem

Fachos de luzes cercam a lamparina,
em seus desejos dançam corrompidas,
ímpias seduzem, todas seduzidas,
as mariposas voam! Essas meninas...

Fadas singelas velam esmaecidas,
e crepitando soltam sua morfina
cá nos meus olhos podres! Me fascina,
a delicadeza opaca das perdidas.

Tais mariposas deixam suas escamas,
nos delicados toques de meus dedos,
como se fosse leve maquilagem...

Tais mariposas queimam em suas chamas,
apaixonadas perdem seus segredos,
para morrer na estúpida miragem!


Rondó

Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.

Em um berço, no balanço
dorme um anjo tão sozinho
muito frágil o garotinho
no descanso de algodão.

Dorme o anjo no enfadonho
do balanço, cobertores
nos ursinhos protetores
nos seus sonhos que se vão.

Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.

Essa bruxas almas levam
das criancinhas nas suas casas
dos quais dormem sob a brasa
que conservam no pulmão.

Essas brasa são os afagos
que suas mães lhe embalaram
para um sono que cavalgam
sob os lagos da ilusão.

Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.

Ninguém sabe o paradeiro
dos pequenos desalmados
são vendidos ou trocados
derradeiro de um leilão.

Ou são todos devorados
em feitiços carniceiros
ou talvez valem dinheiro
de endiabrada transação.

Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.

Elas rondam qualquer canto
de qualquer casa ou família
expiando com malícia
procurando refeição....

No Desterro e nestas noites
em que os tempos enterraram
tantos contos apagaram
nos açoites da razão.

Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.


Aqui estão uns poemas mais antigos... De tema semelhantes, mas algumas formas de poesias diferentes. Na verdade estas foram mais estudos.
Um triolé, que é uma oitava com o mote que são os dois primeiros versos, que se repetem num esquema AbaAabAB, que funciona melhor com versos curtos, é bastante sonoro, e mais intenso, é bom para coisas como epitáfios, versos apaixonados ou de qualquer sentimento intenso. Ao meu ver.
O Rondel, também vale da repetição, só que maior, tenho a impressão ao ler um rondel como pessoas duas talvez, dançando em roda. Ta, cega de viajar. Digamos, ele dá voltas, e é isso, e termina como começa, só que indo muito além, em um loop(acho que é isso). É uma forma bastante sonora mas pode se tornar apática se não souber usa-la... O esquema é assim ABba baAB ababA, de preferência com versos curtos.


O Soneto, é uma caixinha, daquelas em que você dá corda e sai uma surpresa, o que realmente importa no soneto é os dois últimos tercetos e a dia. A alma dele está no desenvolvimento da idéia. Ele está vivo até hoje mais pelo fato de que ele vive pela idéia, não em si por intensidade de sentimento ou coisas assim, apesar de que ele pode ser muito mais intenso se você assim o quiser e for capaz.

Rondó, muito confundido com o rondel, mas na verdade é bem diferente, o exemplo que uso é o rondó francês, geralmente composto de um verso inicial, de rimas intercaladas.
“Óh! Mãe tranque todas frestas,
pois as certas mariposas
nele pousam e sua alma
se deságua e a levarão.”

E de um seguimento geralmente composto de duas estrofes, do qual a ultima rima é a ultima rima do inicial, exemplo
“No Desterro e nestas noites
em que os tempos enterraram
tantos contos apagaram
nos açoites da razão.”

Sendo que o primeiro verso tem um rima interna com o ultimo verso da estrofe, no geral é isso, ele é mais uma forma musical do que qualquer outra coisa, muito bom de se pegar um ritmo e de cantar assim sem mais nem menos. A base dele é isso aliás, como se fosse uma letra de música, aliás, poesia é em si letra de música, pelo menos hoje em dia só mais na parte “popular/regional” como os repentistas, cantadores do sertão e o samba por exemplo. Procure por Chico Buarque e Elomar aliás.

Pois bem, qualquer coisa, siga os exemplos que fiz, e no caso do rondó leia Silva Alvarenga, soneto leia os parnasos e simbolistas, com Cruz e Souza e Olavo Bilac, aliás nesse você pode encontrar exemplos de rondels e triolés, e triolés em Cruz e Souza também.
Mas em geral pesquise e leia muito dos antigos, porque eles dão idéias do que inovar em cima deles.

Por hoje foi só... Boa noite.

Aliás, o link do blog de onde tirei a foto. (link) . E os poemas são mais antigos, possivelmente do Blog anterior antes de eu trancar ele e recomeçar outro.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

POR QUE NÃO SE LÊ POESIA?




Já pensou em escrever um romance?" A pergunta, em tom levemente depreciativo, é despejada sobre a cabeça do poeta a cada novo livro. A resposta negativa gera no in....terlocutor do poeta uma tosse ou um constrangido balançar de rosto - ainda mais porque aquele que perguntou provavelmente nem leu a obra em questão. O engasgo soa algo como encontrar uma amiga, olhar para seu ventre, cumprimentar pelo bebê que irá nascer e receber de troco a afirmação seca, cruel: não, eu não estou grávida.
Há o julgamento informal de que poesia é perda de tempo. Tendo lançado até agora dois livros, não cheguei ao ponto de receber os pêsames, mas não falta muito para isso. Até porque o poeta é identificado como um defunto comercial e nunca será de bom tom dar as condolências ao próprio falecido. Mas, afinal, por que todo esse preconceito quando o assunto é poesia?

A resposta mais fácil estaria na baixíssima taxa de compra de livros no Brasil. O índice é de 0,8 livro não-didático por habitante/ano. Como ninguém leva um livro pela metade, não se chega a adquirir um volume inteiro, ficando longe de países como os Estados Unidos (sete livros por habitante/ano). Sobrariam para os versos as migalhas. O Prêmio Jabuti de Literatura, o mais importante do país, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, seria outra prova desse desinteresse. Nesse ano, apenas 63 livros foram inscritos na categoria poesia, 40 a menos dos 103 inscritos no ano passado. Nas livrarias, a seção de poesia dorme em algum canto obscuro, longe do alcance da visão dos leitores.

Todos esses dados seriam suficientes para indicar que o brasileiro não gosta de poesia. Será? O curioso é que boa parte das pessoas costuma iniciar-se na literatura por meio da poesia, seja em cartas, seja em cantadas extra-literárias para conquistar alguém. Mas o adolescente que se empenha em comover seu par é o mesmo que acha difícil a interpretação poética. Esse é o paradoxo: os poemas são considerados fáceis de fazer e complicados de ler. Como isso? Para muitos jovens, ainda vigora uma idéia romântica de criação. Poesia é pura inspiração, acessório para colocar em cabeçalhos de agenda. Faz parte do kit básico de sedução, ao lado das flores e do ursinho de pelúcia dado para a namorada.

Esse adolescente é o mesmo que tem horror à obrigatoriedade de ler os chamados poetas clássicos nas aulas de literatura - tudo para conseguir passar no vestibular. Aprende datas, o nome dos movimentos, mas não se inspira na leitura dos autores. O conjunto é resumido nos esquemas das escolas literárias e o texto em si termina relegado a um papel secundário. Toda trajetória de um escritor é abreviada a uma fria questão de vestibular. Sobretudo, o sujeito aprende que todos os bons poetas fazem parte do passado, culminando com a geração modernista de 1922 e uns poucos da primeira metade do século XX. Você já percebeu que não há praticamente nenhum poeta consagrado desde então, conhecido e lido como Drummond ou João Cabral?

Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar? Como foi que os leitores perderam o interesse pela poesia? Desconfio que a resposta esteja no fato de que os próprios poetas tenham perdido o interesse pelos leitores. A poesia como um exercício de linguagem, fria, escrita para agradar os professores de semiótica, torna-a cada vez mais distante do interesse dos leitores. Enquanto a poesia narrava uma história, era capaz de ser atraente, compreensível e proporcionar entretenimento, os poetas eram populares. E isso não era sinônimo de sentimentalismo barato, como o ato de despejar emoções no papel sem uma preocupação com a estrutura. O poeta era o equivalente a um músico, que tocava palavras como cordas de um violão.

Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea. Fora daí, ela passou a ser encarada de duas formas: a sentimentalista, à base de trocadilhos fracos, ou a acadêmica, difícil, culta, que atende a interesses universitários e não chega aos ouvidos da gente. Para sair desse impasse, talvez seja a hora de os poetas voltarem a contar histórias. É preciso fugir da armadilha que impõe que a boa poesia seja um exercício de linguagem e que qualquer poeta disposto a narrar a vida das pessoas seja etiquetado como menor. Não foi o público de poesia que desapareceu, como querem alguns teóricos da literatura. O que desapareceu foi a poesia em contato com a vida das pessoas. Talvez ela esteja adormecida, esperando que alguém traga de volta o simples prazer de ler um poema.



Fabrício Carpinejar é jornalista e poeta, autor de Terceira Sede e Um Terno de Pássaros ao Sul, ambos pela editora Escrituras.


Texto retirado da revista super interessante, Janeiro de 2002