segunda-feira, 6 de abril de 2009

Varios Simbolistas


Alguns poetas da fase simbolista, ou que participaram dela. O simbolismo fora uma resposta ao parnasianismo, assim como o parnasianismo fora um resposta ao romantismo, apesar de que estes três em muitos autores andam juntos, como em Cruz e Sousa, parnaso-simbolista por exemplo, ou Luiz Delfino que passou pelas três fases. Olavo Bilac que muitas vezes andou pelo romantismo e pelo simbolismo também. Dizer que um escritor, por exemplo Cruz e Sousa é apenas Simbolista ou Parnaso, ou cuspir em toda a obra de Olavo Bilac (como muitos fazem) por causa dele ter feito parte do movimento parnasiano é digamos, estupidez! O que vale é a obra em si do autor e classificar alguém só pelo movimento que fez parte é bobagem. No simbolismo se vê muita tendencia ao modernismo, além do quê, o verso livre começou foi no simbolismo. E muitos modernistas como Drummond e Manuel Bandeira fizeram sonetos com um rigor técnico muito equivalente aos parnasos.

O meu concelho é, estudar a literatura indo além dos preconceitos que se aprende na cartilha do MAC. E ler mais a literatura inclusive a poesia nacional, pois na poesia não se lê o poeta estrangeiro em português, se lê o poeta tradutor escrevendo uma versão da idéia do poeta. Logo eu prefiro as edições bilíngües... Acho que todos preferem.

Mas bem voltando ao assunto, poetas nacionais da fase simbolista, sendo que se pode ver: Idéias em comum mas eles não são as mesmas coisas. Pois cada escritor é único.

Castro Meneses (1883 - 1920)

Cruz e Sousa

Vieste como o cansim dos areais africanos,
Ébrio ainda do sol que requeima o deserto,
Tentar, em pleno espaço, os vôos sôbre-humanos
Dos anjos e lutar de peito descoberto.

Vieste da solidão dos tormentos insanos
À procura da luz de um grande sonho incerto,
Tendo por voz amiga o clamor dos ocenaos
E por tenta o alto céu sôbre tua fronte aberto.

Rebramiu sôbre ti um anátema eterno.
Mas, indômito e só, velho titã glorioso,
Transpuseste, sorrindo, os círculos do Inferno...

E, esboçando na sombra um ríctus mais tristonho,
Ficaste, como um deus, vencido e silencioso,
Emparedado, enfim, dentro do próprio sonho...

José de Abreu Albano (1882 - 1923)

Cantiga 1

Nestes sombrios recantos,
Nestes saudosos retiros
Desliza um rio de prantos
E corre um ar de suspiros.

Volta

Tenho na alma dois moinhos,
Um é de agua, outro é de vento;
Ambos juntos e vizinhos,
Estão sempre em movimento.
E giros tantos e tantos
E tantos e tantos giros
Dão ao primeiro os meus prantos
E ao segundo os meus suspiros.

Álvaro Moreyra (1888-1964)

Lenda

"Não colhas essas rosas.
As rosas,
Irmãs na terra das estrêlas,
São mais lindas nos olhos que na mão,
Contenta-te com vê-las,

Deixa-as na haste,
Côr de púrpura e ouro,
Se as colhêres, as rosas morrerão"

Não quis ouvir o teu agouro.
Colhi tôdas as rosas que nasceram
Nos caminhos por onde me levaste.
E as rosas não morreram...

Epitáfio

Acreditei na vida. E a vida em mim. Depois
Desandamos a rir de nós ambos os dois...

Eduardo Guimaraens (1892 - 1928)

Embalo Fúnebre

Sob os ciprestes,
Dormem os mortos.

Dormem os mortos
À luz da lua.

Pálida lua,
Gélida lua!

Soluça a bôca
Do que ainda vive.

Oram mãos postas
Pelos que dormem
(Silêncio!) o sono
Da terra, eterno.

De bôca em bôca,
Lúgubremente,
Passam os réquiens
Pelos que dormem
Sob os ciprestes.

Vaga a saudade
Pelo siêncio
Da noite fria.

Oram mãos postas
Por quem não vive.
Pálida lua,
Gélida lua!

Vê: Também morto,
Sinto o meu sonho!

Ora por êle,
Pede por êle.

Noite sem astros,
Ora por êle.

Inocência

Inocência das cousas. Pura
Suavidade
Da alva que surge. Paz, frescura,
Símplicidade!
Nitidez do orvalho. Profundo
Céu. Ri-se a aurora...
Milagre. Dir-se-ia que o mundo
Nasceu agora!

Marcelo Gama (1878-1915)

Chuva de Estrelas

Li uma vez em páginas antigas
Que se uma estrêla cai do céu clemente,
Concede tudo o que lhe pede a gente.
Como as estrêlas são nossas amigas!

Por isso agora, insone e sem fadigas,
Fito os céus tôda a noite atentamente.
Chovem estrêlas... E eu: - "Astro fulgente,
Que que eterno o nosso amor predigas!

- Faze-me bom! Conserva-lhe a doçura!
- Estrêla, dá-nos paz! serenidade!
- Que a nossa filha seja linda e pura!"

Doiradas ambições! Como dize-las,
Se elas são tantas?! Deus, por pieade,
Manda que caiam tôdas as estrêlas!

Onestaldo de Pennafort (1902 - ?)

Chuva

A chuva entorna na paisagem calma
Uma indolência de abandono e sono
Paisagem triste como a de minha alma...
A chuva é um longo sono de abandono...

Olho atravéz do espelho da vidraça.
Dorme o jardim sob soluços d'água.
Na rua, alguém cantarolando passa,
Cantarolando a minha própria mágoa.

Quem será êsse vulto que se apossa
Da firme dor que em minha vida existe,
Para cantá-la assim num ar de troça,
De uma maneira que me põe mais triste?

E olho através do espelho da vidraça:
Dorme o jadrim sob os soluços d'água.
Na rua adormecida ninguém passa.
A chuva canta a minha própria mágoa.

Araújo Figueredo

Num Sonho

- Lá vai, velas ao vento, o brique Flor das Águas;
Lá vai, garbosamente, em procura do Norte.
E alegre chegara? Quem sabe lá das magoas
Da sua gente? E quem já lhe notou a sorte?

"Mágoas! Quem nunca as teve? Eu, pelo menos, trago-as
Desde o dia fatal em que, olhando a morte,
O meu noivo vagara aflito, envolvido nas fráguas,
Dos bruscos vagalhões em terrivel coorte:

Assim falava Rosa às queridas amigas...
E dentre o lindo rol de meigas raparigas,
Rita pôs-se a cismar na vida do Lourenço.

Vira-o no mar profundo e revôlto de um sonho,
Nas angústias fatais de um naufrágio medonho,
A gritar e a acenar convulsamente um lenço.

2 comentários:

  1. desculpe pela forma que me expressei, confirmei a pouco que seu poema é um soneto, mas o ultimo verso me confundiu da primeira vez que o li. Pensei ser uma variante, e não um soneto. mas como o bom poeta que és, a forma é quase irrelevante diante de tanto talento.

    sobre esta postagem, nossa, pergunto-me o que seria da poesia sem o simbolismo. tanta sonoridade e culto ao sonho... não poderiam ser mais nelos. abraços, e até a próxima postagem.

    http://misskidha.blogspot.com/

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  2. agora vc me pegou pelo "estômago"
    amigo... vc me assusta às vezes rsrs
    adorei este post, simbolistas são sem ser, são e querem não ser, são sem querer ser e desejando o fim de todo "ser"....
    nada q eu diga pode esclarecer o q são...
    mas a nivel de estudo vc ainda me assusta!
    até

    abraço

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