sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Enjoo




Enjoo

Todas as noites ondas vens sentindo,
ondulações na insõnia do café,
feito um balanço lento e repetido,
feito tal ondas todas das marés.

Nessas suas noites deitas revolvido,
pela sua insõnia, pela velha fé
de que o universo todo é regido
por documentos, tudo é o que é.

Bem acordado deitas na sua cama,
em seu terreno novo no cartório,
no seu dinheiro belo bom negócio.

Porém um fato: Tudo fora mar,
pedras provam, o mar também reclama.
E os movimentos são pra te lembrar.

Boêmio


Boêmio

Vives envolto de amigos, de vozes,
seja nos bares cercados de gente.
Festas infestas no vulto bem foges
da solidão, da verdade e sua mente.

Vives em grupos cercados de dentes,
todos falando e falando, são algozes
dos pensamentos que expurgascontente.
Temes o escuro e os tormentos atrozes.

Sorrindo e amando seguir multidões,
ou clãs seletos, quaisquer variações,
consomes só, meu boêmio estandarte.

E se o silêncio se assoma violento,
assomará os demônios, teus tormentos,
os teus pecados, e quêm se tornaste.

Soneto que escrevi, para um cara que cahoou de meu modo de ser, pois para ele a vida era a boêmia e tudo o mais, e fez criticas a respeito de meu modo de ser, como se eu fosse um rústico medievo que vive no meio do mato. As vezes eu passo por uma pessoa simples, as vezes rústica até. Me chamando de velho, apesar dele ser muitos anos mais velho que eu, ele anda fantasiado como um garoto de 15 anos e nem trabalha, bem, eu não trabalho mas eu também não ganho mesada...
Bem, pois bem, acabei fazendo esse soneto, uma hora ou outra ele tinha de vir não?

Livro Fechado de Oswaldo Cabral - Alcides Buss e sobre a revista Pantanal, e a Biblioteca Nacional

Livro Fechado de Oswaldo Cabral

A velha Desterro emerge
nas ruas da nova cidade.

Hercílio Luz,
Gama D'eça,
Dias Velho...
A vida recomeça!

Ninguém a vê (mas
eretas figuras se aguçam
à espreita de antigos navios
ancorados na tarde.

Furtivos, trocam olhares.

Depois, sob o manto
da noite, algo cansados,
penetram em silêncio
nas linhas da história).
Alcides Buss

Professor da Ufsc, e poeta.

Tirado da última pagina da revista Pantanal.
Ano VII – Nº 16
Agosto de 1987

Estou também, na verdade folheando e tirando coisas de meu interesse, não necessariamente lendo, o livro, A Nossa Senhora do Desterro 2: Memória, de Oswaldo Rodrigues Cabral. Do qual, pelo pouco que folheei, encontrei verdadeiras preciosidades sobre a história dessa ilha, personagens e casos que dariam boas histórias, além dos casos clássicos conhecidos.

Sobre essa revista Pantanal, pois bem, eu estava trabalhando como voluntário na Biblioteca Livre do Campeche, Bilica. Apareceu lá um homem que disse que ia fazer uma doação, logo fora aceito, é claro, e ele apenas deixou lá, sem dar tempo de ser identificado, como deveria, para o nome dele ficar lá... Acredito eu, ou fora dito o nome... Na verdade acho que fora dito o nome. Ou fora outro?Foram duas doações no dia...

Essa revista, pela data e pelo conteúdo achei deveras interessante, mais por mostrar uma parte da nossa história e nomes que talvez eu visse em livros ou não. Fiquei com medo dele ir para a reciclagem, e pedi se podia ficar com ele, de uma forma de dizer meio travada, é claro, porém acabei ficando.

Eu li a maioria dos contos nessa revista e nenhum deles eu reprovaria, muito bons aliás, fora dos chavões convencionais. Dentre eles o primeiro que eu li me causou maior impacto, que fora “Não foi bem assim...” de Ademir Neves, fantástico, Trabalho Premiado no 20º concurso internacional de Los Angeles.

Essas revistas, por desconhecimento, muitas vezes acabam parando na reciclagem ou em gavetas esquecidas. Mas elas, para mim, apontam com mais precisão um período de nossa história e memória do que muitos livros sobre o assunto.

É fantástico imaginar, que muitas dessas revistas ou folhetos independentes possam estar em algum sebo ou biblioteca, assim, desavisado em meio a tanto livros, fora dos registros... Talvez um daqueles folhetos à atriz Julieta dos Santos, escrito pelos principais nomes do Simbolismo de Desterro, talvez quem sabe, esteja em alguma gaveta perdida por ae, embaixo do assoalho de uns daqueles casarões... É de certa forma reconfortante imaginar isso... Como os tesouros e seres sobrenaturais nos livros que eu lia quando pequeno.
Mas medo eu tenho, de que muitos profissionais despreparados ou preconceituosos acabem se desfazendo desses exemplares, enquanto invejam um grupo de bibliotecários na Inglaterra que acharam manuscritos de Byron em um livro...

Foi fantástico também quando eu soube por meio de minha ex-namorada da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e dessa “sobrenatural” lei federal do ano de 1907, até hoje em vigor, que criou a obrigatoriedade de se remeter a BN um exemplar de qualquer publicação feita no Brasil. Lei do Depósito Legal... Esse tesouro deve ser desconhecido por uma enorme parcela da população, sendo, no fim das contas, um dos maiores tesouros de nosso povo. De nós. É a garantia, de todo escritor desse pais, de deixar um legado, mesmo que singelo, para o futuro. Talvez, se Deus quiser, um exemplar de meus futuros livros, dentre eles As Legiões, e Carrossel, acabem lá, assim, pelo menos alguma coisa valeu apena. Mesmo no meio de um numero gigantesco de outros autores...

Pelo menos,
em algum lugar,
eu tenho um pouco de esperança de que sejam guardados...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Estudo Com Verso Livre


Seus dedos são cinzas frias
que se despedaçam ao toque,
passou muito tempo no quarto
pensou muito tempo na morte,
agora és cinzas frias,

Frias no sobrenome.

E se despedaças ao vento
que sempre te quer bem,
barcos viram ao seu conforto,
tempestade para dormir,
depois de um café frio
como teu sobrenome,
feito de tempestades

para dormir,
em dias de frio.

Eis uma tentativa, de certa forma é útil, porém, ele está mais para a leitura que para a horação...

o órgão, Cruz e Souza


Cruz e Souza
O Livro Derradeiro

Ultima Página...

o órgão

um largo e lento vento dormente
taciturnas lágrimas sonâmbulas, sinfônicas
um esquecimento amargo
uma sombria clausura de almas
suspirando e gemendo solitárias harmonias
Vago luar de esquecimento e prece,
dessa melancolia que anda errando
no mar e nas estrelas ondulando,
pela minh'alma etereamente desce.

Na minh'alma, dos Sonhos anoitece
o Sentimento que ando transformando
em hóstia de ouro

Sombra e silêncio

Ninho de Vespas


Ninho de Vespas

Nas alavelas guspo, não me importo
co'as maquiavélicas maquinações.
Todos abutres, cheiro nem suporto
todos se nutrem d'outras sofridões.

Eu não me importo sigo meas razões,
n'um matadouro vivo, com os mortos
tenho descanso, volto em gerações,
subo caveiras, sóbrio me conforto.

Das alavelas pouco me lixando,
tantas pessoas vivendo se matando,
nessas intrigas, ninho de feridas.

E caminhando dentre a orla pútrida,
talvez estoure alguém! Me vem a dúvida,
que acabe alguém tirando minha vida...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Combustão



A vida é bela, feito uma menina com transtornos bipolares. Ela é bela!
E os sentimentos enfim é o que me mantém vivo; Caper Diem ou algo assim. As pessoas me evitam e o mundo gira de costas pra mim, mas eu tenho um mundo todo girando na minha cabeça, e eu posso confrontá-lo com isso, eu posso fazer guerra...
Talvez isso seja esquizophrenia, talvez seja fantasia do DDa. Talvez seja um mundo que há bem no fundo de minha cabeça, e nem pareça que eu seja um Deus, talvez seja.
Eu sós sei que meus sentidos são feitos no sentido de suprir esse universo, enchendo-o. Fazendo o disperso garoto cumprir um fado, talvez todos sejam assim e a mim só resta o lado dos derrotados, pois eu tenho tudo e só tenho um papel. Sei fazer um Rondel, sei por um soneto e nada mais...

Machado de Assis Velho Tema

Velho Tema

Esta ave trouxe de alguém
Algum recado
Talvez diga que aí vem
Um namorado.
Um namorado que tem
do peito ao lado.
Um coração que sustém
de apaixonado.

Se não acudir alguém
Ao ansiado
É, porventura, um grã bem...
Por um recado
Já vi morrer aquém e além,
por um recado...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Soneto

Soneto

Amanhã tem as tais aulas maçantes,
tem as aulas e os deveres e a turma...
Minha infância lá passando distante,
minha vida que ao viver nunca enturma.

E o desejo de viver numa estante,
esquecido dos problemas. Na espuma
dessas ondas que me embalam calmantes
feito um barco, pois que seja... Só uma.

Numa noite esquecido de todos,
e dormindo vou esquecendo o futuro,
vou dormir envelhecendo e é tudo.

Mas se a barba for para no meu rosto?
E se o mundo decidir me acordar,
e o meu nome, mais ninguém recordar?


Em periodos de melancolia não sai nunca coisas boas o suficiente...
Mas isso é o relato de uma fase no seu fim...

Solidão

As vezes o lápis empaca,
na frase imprecisa, que falta,
na rima pensada que estaca
na ponta da língua a peralta.

As vezes as mãos tão cansadas,
se queixam da frase de efeito,
clichê que resume-se em anda,
que risco tal faca no peito.

As vezes os olhos vermelhos
cansados das letras forçadas
reclamam e queimam do nada...
Talvez só alergia ao cabelo.

As vezes idéias apodrecem
sem nuca acabar no papel
em um melancólico fel
que se perdendo padecem.

E essas mesméricas queixas,
tem um só sentido a razão
é só mea rotina que deixa
sem ter o que mais ver... Solidão.

Início de ano, ilhado, sem ter o que fazer e torrando o pouco que me resta na lan.

Andrade, Carlos Drumond - Fraga e Sombra


Andrade, Carlos Drumond

Fraga e Sombra

A sombra azul da tarde nos confrange.
Baixa, severa, a luz crespucular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.

Música breve, noite longa. O Alfanje
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar.

Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.

E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.

Mãos Cansadas

Mãos Cansadas

As minhas mãos cansadas,
de descrever as coisas,
só querem ser mais reais.

As minhas mãos exaustas,
querem tocar sua boca,
querem ser mais... Normais.

Pois só descrevem coisas,
e letras não são reais,
são coisas fantasiadas.

As minhas mãos cansadas,
odeiam viver de histórias,
querem ser mais... Iguais.

A vida tão merencória,
daqueles que nas letras
morrem sem mais nem menos.

As minhas mãos, ao menos,
querem ter a notória,
sina de serem mais.

Querem tocar sua boca,
não descreverem coisas,
querem beijar... Seus dedos.

Espíritos das Águas, 1899





Este quadro, que é muito ao estilo de Jugendstil, foi pintado logo a seguir a Água em movimento e marca o ponto de partida do artista na representação ilusionista.
O simbolismo aquático experimentou uma renovação na arte e literatura simbolistas durante os anos 1890. Formas obscuras ou almas flutuam como a água que inspiraria em klimt no ano seguinte as suas paisaagens misteriososas. O tema negro da femme fatale entrou na obra de Klimt, como já acontecerá com Gustave Moreau e Fernand Khnopff, mas aqui ganha uma forma simultaneamente fria e lunar. As lendas nórdicas sobre deusas da água forneceram ao artista estes rostos cruéis aparentemente afogados no seu próprio cabelo. Estas deusas encantam e arrastam os viajantes imprudentes para as profundezas e a morte, mergulhando as suas almas nas águas sombrias. Então, de acordo com Maeterlink, as suas vitimas são aprisionadas por um sonho que as aterrorizará para sempre.

Espíritos das Águas, 1899
84X52 cm. Zentralsparkasse, Viena

Texto tirado do Livro Klimt - Françoise Ducros, Editora Estampa, Lisboa, 1995.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ismael -El - El

Ismael – El – El

É a primeira vez que Ismael dorme no seu quarto, sua mãe sempre dormirá com ele no colo, sentada, sua cabeça já não aquentava. Ele tinha pouco tempo de história, porém já sabia pronunciar certas palavras: Mamãe, Papai, Meu e por assim vai.

Ismael não gostava nem um pouco disso, ele nunca ficou sozinho antes. E ele não entendia muito bem o porquê disso tudo. As grades, eram o pior, pois o impediam de fugir... Não... Ele não gostava nem um pouco disso.

Sua mãe o beijou na testa e mexeu em seus cabelos, o que o fez cair no sono... Por pouco tempo, pois ele acordou em seguida, e era um breu. Porque que ela fez tudo isso? Porque o deixou assim? Ismael sentia aquela assustadora vastidão além as suas costas, fora do seu campo de visão. Ele sentia-se desprevenido, ele sentia pela primeira vez o medo e o abandono. Como as mães no tempo de Roma, que deixavam as meninas morrerem nas florestas, sem sentir culpa pois elas não viam a crianças morrerem. Muitas ainda acreditavam na possibilidade de talvez uma adoção, caso de Remulo e Romulo, caso de muitos meninos selvagens. Porém Ismael não sabia de nada disso, e nem pensava em ser encontrado, apenas se preocupava com o abandono feito por sua mãe. Ele tinha medo.

Ele ficou com os olhos abertos vendo o pouco o que se podia ver naquele lugar. Ele procurava algo e encontrou, seus olhos pararam em duas bolas vermelhas que piscavam e olhavam para ele. Ele sentiu a respiração, aquelas duas bolas, aqueles dois olhos se aproximavam e ele sentia algo se aproximar, uma umidade... Aquilo puxava o seu cobertor tão devagar, puxava e alguma coisa passava por debaixo dele... Devagar, duas mãos negras se aproximavam de seu rosto, algo branco luzia naquela escuridão, varias pontas, vários dentes...

Sua mãe escutou um chorar vindo do quarto de seu filho. Preocupada, levantou e foi direto correndo em direção ao quarto. Seu marido roncava, como sempre. Ela abriu a porta, ligou a luz, acalmou ele e levou-o para dormir com ela no seu quarto. Melhor assim, ela ainda não tinha tanta confiança dele fora de seu campo de ação. Melhor assim, bem melhor.

Ela viu a janela aberta, não se lembrava dela assim, se lembrava de vela fechada. Resolveu fechar com o trinco. E assim fora.