sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Livro Fechado de Oswaldo Cabral - Alcides Buss e sobre a revista Pantanal, e a Biblioteca Nacional

Livro Fechado de Oswaldo Cabral

A velha Desterro emerge
nas ruas da nova cidade.

Hercílio Luz,
Gama D'eça,
Dias Velho...
A vida recomeça!

Ninguém a vê (mas
eretas figuras se aguçam
à espreita de antigos navios
ancorados na tarde.

Furtivos, trocam olhares.

Depois, sob o manto
da noite, algo cansados,
penetram em silêncio
nas linhas da história).
Alcides Buss

Professor da Ufsc, e poeta.

Tirado da última pagina da revista Pantanal.
Ano VII – Nº 16
Agosto de 1987

Estou também, na verdade folheando e tirando coisas de meu interesse, não necessariamente lendo, o livro, A Nossa Senhora do Desterro 2: Memória, de Oswaldo Rodrigues Cabral. Do qual, pelo pouco que folheei, encontrei verdadeiras preciosidades sobre a história dessa ilha, personagens e casos que dariam boas histórias, além dos casos clássicos conhecidos.

Sobre essa revista Pantanal, pois bem, eu estava trabalhando como voluntário na Biblioteca Livre do Campeche, Bilica. Apareceu lá um homem que disse que ia fazer uma doação, logo fora aceito, é claro, e ele apenas deixou lá, sem dar tempo de ser identificado, como deveria, para o nome dele ficar lá... Acredito eu, ou fora dito o nome... Na verdade acho que fora dito o nome. Ou fora outro?Foram duas doações no dia...

Essa revista, pela data e pelo conteúdo achei deveras interessante, mais por mostrar uma parte da nossa história e nomes que talvez eu visse em livros ou não. Fiquei com medo dele ir para a reciclagem, e pedi se podia ficar com ele, de uma forma de dizer meio travada, é claro, porém acabei ficando.

Eu li a maioria dos contos nessa revista e nenhum deles eu reprovaria, muito bons aliás, fora dos chavões convencionais. Dentre eles o primeiro que eu li me causou maior impacto, que fora “Não foi bem assim...” de Ademir Neves, fantástico, Trabalho Premiado no 20º concurso internacional de Los Angeles.

Essas revistas, por desconhecimento, muitas vezes acabam parando na reciclagem ou em gavetas esquecidas. Mas elas, para mim, apontam com mais precisão um período de nossa história e memória do que muitos livros sobre o assunto.

É fantástico imaginar, que muitas dessas revistas ou folhetos independentes possam estar em algum sebo ou biblioteca, assim, desavisado em meio a tanto livros, fora dos registros... Talvez um daqueles folhetos à atriz Julieta dos Santos, escrito pelos principais nomes do Simbolismo de Desterro, talvez quem sabe, esteja em alguma gaveta perdida por ae, embaixo do assoalho de uns daqueles casarões... É de certa forma reconfortante imaginar isso... Como os tesouros e seres sobrenaturais nos livros que eu lia quando pequeno.
Mas medo eu tenho, de que muitos profissionais despreparados ou preconceituosos acabem se desfazendo desses exemplares, enquanto invejam um grupo de bibliotecários na Inglaterra que acharam manuscritos de Byron em um livro...

Foi fantástico também quando eu soube por meio de minha ex-namorada da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e dessa “sobrenatural” lei federal do ano de 1907, até hoje em vigor, que criou a obrigatoriedade de se remeter a BN um exemplar de qualquer publicação feita no Brasil. Lei do Depósito Legal... Esse tesouro deve ser desconhecido por uma enorme parcela da população, sendo, no fim das contas, um dos maiores tesouros de nosso povo. De nós. É a garantia, de todo escritor desse pais, de deixar um legado, mesmo que singelo, para o futuro. Talvez, se Deus quiser, um exemplar de meus futuros livros, dentre eles As Legiões, e Carrossel, acabem lá, assim, pelo menos alguma coisa valeu apena. Mesmo no meio de um numero gigantesco de outros autores...

Pelo menos,
em algum lugar,
eu tenho um pouco de esperança de que sejam guardados...

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