sábado, 7 de janeiro de 2017

Definhar



Definhar

Eu vi nos retratos que andam nas ruas,
nessas impressões rotineiras, sem rostos,
eu vi que os teus modos diziam os desgostos
d’uma periódica morte em mãos nuas.

Como a correnteza correndo pro esgoto,
na vermelhidão que tão quente situa
todo o limiar de sua vida, sua lua
desaparecendo num gesto indisposto.

- É a vermelhidão de seu sangue e seu impulso
numa periódica morte, no tempo
feito em rotineiro mofo e apatia.

- Eras um carneiro tão forte e convulso
todo em desejo em brasa no vento.

Vi nos seus retratos; seu sangue ebulia.

(soneto antigo, mas muito bom)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Poema

Essa mulher sussurra em meu ouvido :
Personagem mortos com o tempo
Raivas à muito diluídas e o medo
um fleuma negro e bile amarga.
O meu medo criado entre violências.
Danos físico e psicológicos

É o que torna fantasmas vivos
como lanternas.  Para um grito
 tormento e meu inferno.
Como um feto parasita
em relação  doentia.

Soube que Hades tem os olhos dela.
Aquele que matou o próprio amor
numa lógica retorcida
também.
Ou aquele que está morto e trabalha.
Aqueles restos de faces costuradas
escrevendo cartas em esmalte vermelho.
Aqueles que sussurram restos de memórias.
Raivas e estímulos viciados. Como fantasmas.
Também
Como aqueles que devoraram a própria carne.
Mente são e corpo são...

Ela tem os olhos dela.
 Como uma jóia.
 Numa caixa de alianças.
Num laço um presente.

Velha infeliz, rubra e cega.
Inchada como um enforcado.
Seca como um fruto de displicência.
Sussurra palavras mofadas.
Viciadas como um vício de linguagem.
Como uma larva solitária endurecendo no cérebro hospedeiro.

Sorri um sorriso morno entorpecido. O horror na verdade e o  medo compulsivo da realidade.
A trava e o bloqueio numa frase repetida.
Repetição de um comportamento.
Fuga como alternativa. Como autopiedade.

Um coral de pólipos louvando sua presença.
Prostrados frente ao abismo.
Sob o  gemido indefinido.

Seu nome.