quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Frase “Não foi o leitor que abandonou a poesia. Foi o poeta que abandonou o leitor”


Por que não se lê poesia?

Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea.

por Fabrício Carpinejar

Já pensou em escrever um romance?” A pergunta, em tom levemente depreciativo, é despejada sobre a cabeça do poeta a cada novo livro. A resposta negativa gera no in....terlocutor do poeta uma tosse ou um constrangido balançar de rosto – ainda mais porque aquele que perguntou provavelmente nem leu a obra em questão. O engasgo soa algo como encontrar uma amiga, olhar para seu ventre, cumprimentar pelo bebê que irá nascer e receber de troco a afirmação seca, cruel: não, eu não estou grávida.
Há o julgamento informal de que poesia é perda de tempo. Tendo lançado até agora dois livros, não cheguei ao ponto de receber os pêsames, mas não falta muito para isso. Até porque o poeta é identificado como um defunto comercial e nunca será de bom tom dar as condolências ao próprio falecido. Mas, afinal, por que todo esse preconceito quando o assunto é poesia?
A resposta mais fácil estaria na baixíssima taxa de compra de livros no Brasil. O índice é de 0,8 livro não-didático por habitante/ano. Como ninguém leva um livro pela metade, não se chega a adquirir um volume inteiro, ficando longe de países como os Estados Unidos (sete livros por habitante/ano). Sobrariam para os versos as migalhas. O Prêmio Jabuti de Literatura, o mais importante do país, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, seria outra prova desse desinteresse. Nesse ano, apenas 63 livros foram inscritos na categoria poesia, 40 a menos dos 103 inscritos no ano passado. Nas livrarias, a seção de poesia dorme em algum canto obscuro, longe do alcance da visão dos leitores.
Todos esses dados seriam suficientes para indicar que o brasileiro não gosta de poesia. Será? O curioso é que boa parte das pessoas costuma iniciar-se na literatura por meio da poesia, seja em cartas, seja em cantadas extra-literárias para conquistar alguém. Mas o adolescente que se empenha em comover seu par é o mesmo que acha difícil a interpretação poética. Esse é o paradoxo: os poemas são considerados fáceis de fazer e complicados de ler. Como isso? Para muitos jovens, ainda vigora uma idéia romântica de criação. Poesia é pura inspiração, acessório para colocar em cabeçalhos de agenda. Faz parte do kit básico de sedução, ao lado das flores e do ursinho de pelúcia dado para a namorada.
Esse adolescente é o mesmo que tem horror à obrigatoriedade de ler os chamados poetas clássicos nas aulas de literatura – tudo para conseguir passar no vestibular. Aprende datas, o nome dos movimentos, mas não se inspira na leitura dos autores. O conjunto é resumido nos esquemas das escolas literárias e o texto em si termina relegado a um papel secundário. Toda trajetória de um escritor é abreviada a uma fria questão de vestibular. Sobretudo, o sujeito aprende que todos os bons poetas fazem parte do passado, culminando com a geração modernista de 1922 e uns poucos da primeira metade do século XX. Você já percebeu que não há praticamente nenhum poeta consagrado desde então, conhecido e lido como Drummond ou João Cabral?
Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar? Como foi que os leitores perderam o interesse pela poesia? Desconfio que a resposta esteja no fato de que os próprios poetas tenham perdido o interesse pelos leitores. A poesia como um exercício de linguagem, fria, escrita para agradar os professores de semiótica, torna-a cada vez mais distante do interesse dos leitores. Enquanto a poesia narrava uma história, era capaz de ser atraente, compreensível e proporcionar entretenimento, os poetas eram populares. E isso não era sinônimo de sentimentalismo barato, como o ato de despejar emoções no papel sem uma preocupação com a estrutura. O poeta era o equivalente a um músico, que tocava palavras como cordas de um violão.
Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea. Fora daí, ela passou a ser encarada de duas formas: a sentimentalista, à base de trocadilhos fracos, ou a acadêmica, difícil, culta, que atende a interesses universitários e não chega aos ouvidos da gente. Para sair desse impasse, talvez seja a hora de os poetas voltarem a contar histórias. É preciso fugir da armadilha que impõe que a boa poesia seja um exercício de linguagem e que qualquer poeta disposto a narrar a vida das pessoas seja etiquetado como menor. Não foi o público de poesia que desapareceu, como querem alguns teóricos da literatura. O que desapareceu foi a poesia em contato com a vida das pessoas. Talvez ela esteja adormecida, esperando que alguém traga de volta o simples prazer de ler um poema.

Fabrício Carpinejar é jornalista e poeta, autor de Terceira Sede e Um Terno de Pássaros ao Sul, ambos pela editora Escrituras.

Os artigos publicados nesta seção não traduzem necessariamente a opinião da Super.

Frase

“Não foi o leitor que abandonou a poesia. Foi o poeta que abandonou o leitor”

Sobre poesia




Isso foi para um grupo de poesia no facebook. Palavreado e umas discussões que tavam tendo lá. Mas enfim isso expõe um pouco a minha visão sobre as discussões sobre o que se tem escrito ultimamente. Temos muita coisa boa mas temos enxurrada de coisas ruins, e uma idéia de poesia que na minha opinião é mais desconhecimento do que é poesia do que qualquer outra coisa.



Vamos lá, como ta todo mundo dando pitaco eu vou também dar o meu.

1 - Tudo bem escrever poesia e ela não ser boa. Tem de mostrar mesmo, se não tem pessoas que vão ler então na minha opinião não vale a pena escrever. Poesia é comunicação. Ninguém nasce escrevendo que nem um Cruz e Sousa ou um Leminski. Temos o direito de escrever poesias ruins se nos comprometermos em melhorar, aprender.
2 - Pra escrever poesia tem também de ler poesia, e não existe uma estética ruim ou estilo ruim, o que existe são poemas e poesias sem algo mais, sem originalidade. Podes ser o campeão dos trocadilhos ou das rimas mas isso não te faz um poeta.
3 - Todo poema tem o dever e o prazer de ser criticado. Não é algo sublime e subjetivo que o torna intocável, bem pelo contrário, e as criticas tem o dever de serem construtivas, apresentar os lados bons e os aspectos ruins.
4 - Qualquer coisa não é arte, se fosse assim então anularíamos os estudo, a prática e a inspiração.
5 - Eu não vejo diferença de valor entre um poema concreto e um poema de cordel, cada qual é bom em sua maneira.
6 - Apenas causar asco ou choque qualquer um faz, mas comunicar apenas isso além de batido é um tanto quanto de mal gosto. Se não feito de forma adequada parece apenas uma pessoa preguiçosa querendo seguir um caminho fácil. Tanto o grotesco quanto o agradável possuem valor, e o que vai definir é como se trabalhar com eles.
7 - Grande parte das poesias aqui parecem gente chutando cachorro morto. Tentam ser marginais mas não são muito diferentes de um "punk" que vive no bob's. Não quebram nada, não questionam nada e não falam nada além do óbvio.
8 - Antes de escrever temos de ler poesia, outras autores, conhecer sobre. Da marginal até a parnasiana, sem juízo de valor, quanto mais diversidade melhor.
9 - Antes de definirem o que é poesia, para não cair num senso comum que não é nada mais do que encher linguiça, vale a pena ler o que já fora escrito sobre poesia. O que é poesia, de Fernando Paixão é um bom começo, mas vale a pena considerar também a poesia popular, repentistas, cordel, etc.
10 - Falar e falar e não dizer nada, se colocar ou ficar escrevendo sobre escrever poesia éo que mais tem. Tá saturado, tem gente que escreve só sobre isso, poemas assim tão que nem zumbi no facebook, no gargalo.

Tem uma carta do Alexei Bueno que apesar de meio exagerada é uma critica muito interessante, e do carpinejar também. Um segundo.

http://super.abril.com.br/cultura/nao-se-le-poesia-442564.shtml <- br="" l="" n="" o="" poesia="" por="" que="" se="">
http://observatoriodacritica.com.br/polemicas/1998-polemica-do-poeta-alexei-bueno/carta-aberta-aos-poetas-brasileiros-do-poeta-alexei-bueno-no-listas-de-poesia-versao-expandida/ Carta aberta aos poetas brasileiros do Alexei Bueno

Desmoronando Pasárgada - Raescla Oliveira

link da imagem

Desmoronando Pasárgada - Raescla Oliveira

Desmoronando a Pasárgada
do pernambucano Bandeira
desmoronando os muros
da ilusão de Bandeira
ou de qualquer poeta, qualquer homem
que ainda não despertou do devaneio
do “Campo dos Persas”
não há rei!
Não há cama!
Nem há mulher alguma
Que queira deitar contigo
Mata-te, pois não há Pasárgada
Mata-te, pois aqui não é Pasárgada
Desconstrói esse sonho machista
Anda, quebra as paredes de Pasárgada
e mata-te, pois aqui não há recanto para os teus sonhos
não há banho de mar e nem bicicleta
As prostitutas não querem te namorar
Se são bonitas como dizes, que te importa
Porquê ainda permanece a sonhar?
Não há cama!
Não há rei!
Mata-te, pois Pasárgada não nasceu
Morreu nos teus sonhos e dos poetas
Dos falsos poetas jamais conhecedores das mulheres, mas
que estão sempre a descrevê-las
e continuam a esperá-las em camas e em reinos
como o de Pasárgada
Sempre na descrição desses homens
Foram as amantes, as esposas ou as prostitutas bonitas
Morram todos, pois aqui não é Pasárgada
Morram no desabamento da Pasárgada dos seus sonhos
Contracepção e aborto
Zaratustra, os persas, a religião
Proibição
Contraditória Pasárgada, morre nos teus sonhos bobos
Morram todos, pois aqui não é Pasárgada
Morram no desabamento da Pasárgada dos seus sonhos.

Raescla Oliveira

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Jardim


Jardim

Meu jardim tem flores de âmbar,
de demência e dor e desejo
um perfume em flor que revolta
em acordes, sol preso em pejo.

Meu jardim tem dores em flor
nos horríveis tons de ventura
onde o fel se opõe no seu quarto
no frescor após a tortura.

Meu jardim tem flores.
Meu jardim tem flores e frutos.
Meu jardim tem flores e frutos e fome.

Nele reina um perfume de açúcar
onde as moscas morrem se presas,
como um mundo em tenras promessas
onde a dor não tem natureza.

Meu jardim com grandes pilares
que se erguem pelo  sobejo
num marmóreo sujo de sangue.

Um jardim de gozos lunares
onde o sonho em seu cortejo
reina em flor e em cor enxangue.