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sábado, 28 de setembro de 2024

Coroa de Sal


Coroa de Sal

São vinte e quatro cartas no baralho,
e o louco tampa o rosto do enforcado.
No mar a corda serve para o mastro
e a proa suicida aponta ao nefasto.
Yo quiero un mar desastro.

Arrancar da culpa o quebranto
e amarrar as mãos d'algum santo;
pendurá-las para um arranjo.
P'ra mostrar ao mundo meu ranço
que me aguarda o acalanto.

De vinte e quatro horas de trabalho
que marcam rasgos feitos pelo malho,
nas costas sal de um choro penitente
e o riso frio de um mundo descontente
vazio de um sol dormente.

Horizonte morto e gongórico
em oceano negro e mercúrico,
liberdade em tino mórbido
vai rasgando em zelo cirúrgico
o cinzentado gelo lógico.

Eu quero o zelo do mar na proa,
respinga espuma em convés e voa.
Morrer olhando pro sol atoa
cristalizando meu sal na roupa,
fazer do sal minha coroa…

Só quero morrer atoa.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Teimosia


Teimosia

Do cristianismo eu cá gosto
 da dor e do sofrimento 
sentir no tormento o alento 
as lágrimas no meu rosto, 
sê mais vivo quando morto
 na tempestade o conforto 
de diluir decomposto...

Do cristianismo cá esmero 
minha culpa sempiterna
 essa melancolia eterna
qu,ao ser misero impero 
estendo a mão e beijo as chagas,
das castanhas mais amargas
 mais amargas eu as quero...

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Poema


Poema

Eu quero ver sangrar

eu quero ver ferver o mundo e brilhar o fogo

sentir o ar queimar

quero a terra arrasar com sal e sentir seu gosto.


Eu quero ver sangrar

e arder o medo em flor com crescente perfume

sentir a dor reinar

no circo feito em chamas aos berros o lume.


Eu quero ver sangrar 

a dor perene aqui no corpo decompondo

e ver o céu chorar

a dor tempesta e o céu gemer um choro hediondo.


Eu quero ver sangrar

em mim, em mim sangrar o sangue de meu corpo

e queimar, vou gritar

eu só quero viver cá neste corpo morto.


Eu só quero sangrar

esvaziar a dor ao qual luto e reluto

e me despedaçar

e romper os meus músculos em fé resoluto.


Eu quero ver sangrar

meus pés, eu quero ver e perder o meu caminho

para poder salgar

não dar chance ao destino, me arrasto sozinho.


Eu quero ver sangrar

a pele que vou usar até romper os seus fios

e vou me arrembentar

nas pedras em um mar gelado convulso e frio.


Vou sangrar, vou sangrar

e do mundo recuso seu afeto e seu afago,

Quero ver se acabar

queimar Cristo na Cruz com todos os diabos!

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O Mal (releitura)




O Mal

Querem purificar o mundo
das coisas retirando a pele
limpando os ossos do resto
fazendo padrões repetidos.
enxergam tudo pela lógica
d’um único olho protocolar
da mais pesada higiene da
necrofilia mais clean de seu
consultório tão purificado
nós de vós de tu e eles em
um auge d’um Eu supremo.
e o mais moral comensal
onde as estrelas estão sim
apagadas grandes buracos
negros sentem a fome tão
perfeitos é onde o que é o
perfeito não muda onde a
carne se queima p'ra virar
cinzas pois a cinzas serão
imortais restringidas em
seu sumo do sumo exato
perfeito tão asceptico tão
incorruptívela a ordem e o
silêncio como a mente do
ido dos distorcidos dos distorcidos dos distorcidos  dos distorcidos  dos distorc
Fiel. Um santo e o superior.

Único.

sábado, 1 de setembro de 2018

Cidade





Cidade

É tudo tão grande,
como uma estante repleta de doces para o garoto diabético.
Desejo impossível e imprescindível de fato,
comigo
sentado olhando para todas aquelas janelas,
contando as gerações que habitaram formigueiros...

Setenta, oitenta ou noventa
 eu não me importo.
 Mas me conforto com  leve incômodo
 de saber que estas décadas tácitas são de trens
ainda passam por estas paisagens,
cada vez mais distantes como um satélite se desprendendo,
caem no esquecimento assim como eu
 e toda esta torrente
 que acompanho.

Trens de emaranhados sociais
se dissolvem n’um redemoinho delicado
como café solúvel,
perigoso como nylon,
com tantas e tantas linhas paralelas
 que se esfarelam com o passar destas vidas.

Mas é tudo tão grande,
se impondo diante de mim com todas as suas janelas,
meus moinhos de vento estas luzes,
esta paisagem de meu Desterro
com cada e cada janela brilhando
com as procelas de cada vida
se dissolve
nesta paisagem,
dizem que são brasas de um incêndio,
queimam nomes que sibilam que nunca serei aquele que os consumira.
Queimando nomes como lenha para a noite,
como alguém acende  um quarto.

Gaivotas



Eu vejo o sul no olhar das gaivotas,
no gelo azul do céu ao fim das vagas,
o anseio profundo de estar em frias rotas,
sopro fundo de um lar que se apaga.

Memórias vagas, revoam em seus bandos
de asas brancas, cinzindo visões
de Mundos vistos do céu em gerações,
memórias breves de um mar se dissipando.

Eu vejo o gelo no olhar das gaivotas,
(no gelo o anelo do céu com suas nuvens
de branca espuma) e apetecem  as rotas
d’outrora, mares de anis que as seduzem.

Eu quero o mar no olhar das gaivotas,
em tons e ventos aquarelados
pasteis de ideias, perfumes e notas
de um mar real, pois romantizado.


poema de 2009 reescrito.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Oitava-Retorno




Os velhos temas repetem,
tudo reincide em retorno,
as cores vertem de antanho
memórias fincam no entorno
marcando mapas, são pontos
e a infância tece o contorno
e os velhos temas rementem
ao  que reincide um retorno.

Feliz 2018

segunda-feira, 27 de março de 2017

Cainho



Cainho

Eu sinto falta das estrelas
compassadas, no meu caminho,
as pontilhadas na janela.

O brilho rítmico em alinho,
dos postes presos na  rua
de meu destino  em desalinho.

Eu sinto falta e continua
o ensejo ausente de breu!
O asfalto em mim que me insinua...

O brilho em frenesi tão meu...
Anseia o beijo da rua a estrada.
Se anseia a alforria que pereceu...

Mas  sinto a falta que alastrada
conduz na ânsia a culpa e a fome
de encoleirada dor claustrada.

A dor de um cão! Vida que some
na raiva, os dentes cá se estorcem
e rasgam a tez de quem os dome!

Sentir as luzes que distorcem
a vida prenha por perdê la
em sonhos nômades  que sorvem-me!
Eu sinto falta das estrelas!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Poema

Essa mulher sussurra em meu ouvido :
Personagem mortos com o tempo
Raivas à muito diluídas e o medo
um fleuma negro e bile amarga.
O meu medo criado entre violências.
Danos físico e psicológicos

É o que torna fantasmas vivos
como lanternas.  Para um grito
 tormento e meu inferno.
Como um feto parasita
em relação  doentia.

Soube que Hades tem os olhos dela.
Aquele que matou o próprio amor
numa lógica retorcida
também.
Ou aquele que está morto e trabalha.
Aqueles restos de faces costuradas
escrevendo cartas em esmalte vermelho.
Aqueles que sussurram restos de memórias.
Raivas e estímulos viciados. Como fantasmas.
Também
Como aqueles que devoraram a própria carne.
Mente são e corpo são...

Ela tem os olhos dela.
 Como uma jóia.
 Numa caixa de alianças.
Num laço um presente.

Velha infeliz, rubra e cega.
Inchada como um enforcado.
Seca como um fruto de displicência.
Sussurra palavras mofadas.
Viciadas como um vício de linguagem.
Como uma larva solitária endurecendo no cérebro hospedeiro.

Sorri um sorriso morno entorpecido. O horror na verdade e o  medo compulsivo da realidade.
A trava e o bloqueio numa frase repetida.
Repetição de um comportamento.
Fuga como alternativa. Como autopiedade.

Um coral de pólipos louvando sua presença.
Prostrados frente ao abismo.
Sob o  gemido indefinido.

Seu nome.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Ancestro

link da imagem

(outro poema reescrito)
Ancestro

Ela é tão distante
nada
e nada lhe tem sentido,
 no vazio é só sua vontade
e só sua vontade
sobre o Breu fértil
que a gerou.

Em sua imagem e efigie
 os seus olhos,
(um sinal de seus olhos)
 o elo com o Feto
 e a placenta.
Que se consomem.

Ela se chamou Origem uma vez
tão distante,
que o sentido é outro
outras as suas leis.
E sua fome,
sua libido,
sua sede,
seu desejo..
Ecoam como um  lamento.
Por entre nosso mundo,
em outa frequência.
Um choro num cárcere,
nada
e nada lhe tem sentido.

Poema



Reescrevendo poemas antigos.

Poema

Essas coisas, essas coisas
todas quase tolas
 são tênues entre,
entre tudo
 tantas baboseiras
 como, tal agulhas
fincadas
 em cada nervo
 e em cada junta...

No centro, no picadeiro.
Olhares escurecidos,
estavam todos comidos
no asco mais verdadeiro.

E o medo mais sublime
horror mais insondável,
as cracas me rasgando
na borda da piscina.

A pele desprendendo,
me deixa nú, na carne
exposta em sala de aula
com todos os meus brinquedos...

No centro do círculo,
essas coisas, tantas coisas
exposto o ridículo,
eram coisas, eram coisas bobas...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

POEMA



 The Seducer - 1953 --  rené magritte

Achei esse poema em uns arquivos antigos. Depois descubro que ele é na verdade versos de vários outros poemas meus. Em uma ordem que esqueci. Mas o efeito ficou beem estranho.





POEMA

Outros mundos nas esquinas me esperam.

Outras vidas nos faróis me esperam:
mundos ermos e de sóis letargos
brilham fracos nos lençóis da noite,
olhos frios de corações lacrados
na fumaça de um cigarro,
vendo barcos se partirem
como planos naufragados
na ferrugem sucumbirem.

Outras vidas nos faróis me esperam:
como aquelas no jardim de infância,
velhos sonhos que de mim fugiram
vezes voltam já no fim, fragrância
que perpassa num instante,
 velho vento vagabundo
me trazendo aquela estância...
Lá de tempo tão fecundo.

Outras vidas nos faróis me esperam:
Vou-me embora navegar no asfalto,
mares cinzas de concreto armado,
como um lobo na matilha errada
repreender-me no que fiz de errado.