Ismael – El – El
É a primeira vez que Ismael dorme no seu quarto, sua mãe sempre dormirá com ele no colo, sentada, sua cabeça já não aquentava. Ele tinha pouco tempo de história, porém já sabia pronunciar certas palavras: Mamãe, Papai, Meu e por assim vai.
Ismael não gostava nem um pouco disso, ele nunca ficou sozinho antes. E ele não entendia muito bem o porquê disso tudo. As grades, eram o pior, pois o impediam de fugir... Não... Ele não gostava nem um pouco disso.
Sua mãe o beijou na testa e mexeu em seus cabelos, o que o fez cair no sono... Por pouco tempo, pois ele acordou em seguida, e era um breu. Porque que ela fez tudo isso? Porque o deixou assim? Ismael sentia aquela assustadora vastidão além as suas costas, fora do seu campo de visão. Ele sentia-se desprevenido, ele sentia pela primeira vez o medo e o abandono. Como as mães no tempo de Roma, que deixavam as meninas morrerem nas florestas, sem sentir culpa pois elas não viam a crianças morrerem. Muitas ainda acreditavam na possibilidade de talvez uma adoção, caso de Remulo e Romulo, caso de muitos meninos selvagens. Porém Ismael não sabia de nada disso, e nem pensava em ser encontrado, apenas se preocupava com o abandono feito por sua mãe. Ele tinha medo.
Ele ficou com os olhos abertos vendo o pouco o que se podia ver naquele lugar. Ele procurava algo e encontrou, seus olhos pararam em duas bolas vermelhas que piscavam e olhavam para ele. Ele sentiu a respiração, aquelas duas bolas, aqueles dois olhos se aproximavam e ele sentia algo se aproximar, uma umidade... Aquilo puxava o seu cobertor tão devagar, puxava e alguma coisa passava por debaixo dele... Devagar, duas mãos negras se aproximavam de seu rosto, algo branco luzia naquela escuridão, varias pontas, vários dentes...
Sua mãe escutou um chorar vindo do quarto de seu filho. Preocupada, levantou e foi direto correndo em direção ao quarto. Seu marido roncava, como sempre. Ela abriu a porta, ligou a luz, acalmou ele e levou-o para dormir com ela no seu quarto. Melhor assim, ela ainda não tinha tanta confiança dele fora de seu campo de ação. Melhor assim, bem melhor.
Ela viu a janela aberta, não se lembrava dela assim, se lembrava de vela fechada. Resolveu fechar com o trinco. E assim fora.
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