sexta-feira, 6 de março de 2009

Metro Part.1

Minha intenção não é um trabalho acadêmico nem realmente demonstrar alguma habilidade pessoal, apenas esclarecer algumas dúvidas e expor algumas opiniões. Esta é a parte 1, coisas mais complexas ao meu ver eu vou colocar na segunda parte, no porvir de tempos mais distantes, onde talvez, alguns tenham aprendido ou entendido algo disso tudo. Espero ajudar em algo com isso... Não sou um bom professor.

Em suma, isso não é algo realmente sério, apesar de ter um embasamento didático.

Fontes, livro:

  1. Nossa Gramática, Teoria e Prática de Luiz Antonio Sacconi.
  2. Fotocópias que tirei a muito tempo e não me lembro o nome do livro.
  3. Minha mãe.
  4. Experiências Pessoais, Sistema Nervoso de Geleiras.

O Verso Clássico

A base de tudo, na criação do universo, para que as cadeias de eventos existam, originou-se o tempo.
No dicionário: sm 1. A sucessão de anos, dias, horas, etc., que envolve a noção do presente, passado e futuro. 2.Momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize. 3. Época, estação. 4. As condições meteriológicas. 5. Gram. Flexão indicativa do momento a que se refere a ação ou estado verbal. 5. Mús. Cada uma das partes, em andamentos diferentes, em que se dividem certas peças musicais, como, p.Ex. A sonata.

Pois bem usaremos o tempo na poesia, em todas as formas ali. Porém, um dos elementos que vai ser realmente o tempo da poesia é o metro e o ritmo. O metro(ou “pés”) é o numero de silabas no verso, para que aja assim o ritmo que posteriormente vamos estudar. Eu não vou me ater a nomes bonitinhos pois para mim isso só vai ser útil mais tarde. Antes você deve saber fazer para depois meter banca.

Métro, ou Pés

Começaremos com o mais simples, ao contrário das silabas que aprendemos na escola, ou não, no meu caso. Elas são contadas /as/sim/ al/go/ e/nor/me/men/te/ o/pos/to/ ao que seria o metro poético, /as/sim/ al/go e/nor/me/men/te o/pos/to ao/ ou/tro.

A contagem das silabas métricas se faz auditivamente e obedece certos princípios.

Quando houver vogal no fim de uma palavra e outra no início da palavra seguinte, formando ditongo(sorvete amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado; ou crase: minha alma = minhalma; santo orvalho = santorvalho), conta-se apenas uma silaba.

No verso se faz até a silaba tônica da última palavra, digamos: hi/po//tamo (no caso um esdrúxulo); sau/da/de (grave); es/ta/ções que é então, o agudo. A variação dessas rimas no poema, quando não forçadas, pode dar uma sonoridade um pouco mais rica, mas repito, quando não forçada. Esperimente e veja que tipo de impacto que elas dão.

Em casos de ditongos, em geral formam apenas uma sílaba metrica: Pá/tria/; quei/xu/me/; a/cor/dou.

No caso dos hiatos, se forma o contrário, pois a tônica se encontra depois, logo se sente uma quebra por assim dizer: sa/bi/á, hi/a/to, ru/í/do.

Vamos encandear essa trova:

Es/tu/dan/te/, dei/xe os/ li/vros,
e/ vol/te/-se/ pa/ra/ mim/;
mais/ va/le um/ di/a/ de a/mo/res
que/ dez/ a/nos/ de/ la/tim.

(popular)

Note que são todos sete sílabas métricas, heis ai um heptassílibado, ou rendondilha maior. No terceiro verso, pelo que se dá a entender, no di/a, se encontra uma diérese: que é a transformação de um ditongo em hiato. Esse processo fonético é algo que vamos estudar a seguir. Antes eu recomendo um pouco mais de treino, escrevendo ou encandeando, que é isso que acabamos de fazer com a trova.

  1. A crase; É a fusão de duas vogais numa só. Ex:(mi-nhal-ma = Minha alma; santo orvalho = san/tor/va/lho).
  2. A conhecida elisão(ou sinafela): É a queda da vogal átona final de uma palavra, por exemplo: Canta um = Cantum; minha infância = minhinfância. Quando o poeta não quer usar isso, geralmente costuma-se usar um “-” entre as palavras (canta-um), isso recebe o nome de diálise.
  3. Ditongação: é a junção de uma vogal átona final com uma seguinte, formando ditongo: soverte amargo = sovertiamargo; campo alcacifado = campualcacifado.
  4. Sinérese: é a transformação de um hiato em ditongo, ex: Crueldade = cruel-da-de, violeta = vio-le-ta.
  5. Diérese: é justamente o oposto, vide a trova.
  6. Ectlipse(!!): é a queda de um fonema nasal, para que haja crase ou ditongação. Como dizia camões: (“ Mas co saber se vence que co braço.”) Outro ex: com os = cos; com a = coa; com as = coas.
  7. Aferese: é a queda de sílabas ou de fonemas iniciais, Ex: inda(em vez de ainda), 'stamos (em vez de estamos).
  8. A Símcope: é a queda de um fonema no meio da palavra. Ex: Espr'ança por esperança ou dev'ria por deveria.
  9. Apócope: é a queda de um fonema no final da palavra, Ex: mármor por mármore ou cárcer por cárcere.
  10. Prótese: é a colocação de um fonema no início de uma palavra: Alevantar por exemplo, no lugar de levantar.
  11. Paragoge; é o acréscimo de um fonema no final de uma palavra, Ex: Mártir por mártire, ou cantare por cantar.
  12. Diástole: é a deslocação de um acento para a silaba seguinte: Artifices por arfices, alacre em vez de álacre.
  13. Sístole: é o inverso da diástole; deslocação do acento para a sílaba antérior, Ex:rio ao invéz de Dario, calria ao invés de calmaria.
  14. Métatese: é a transposição de um fonema na própria palavra, Ex: vairo ao invez de rio, cousa por coisa, rosairo por rorio. Usado em maioria apenas por exigências de rima.

O uso desses recurso pode dar uma graça ao seu trabalho, porém, devemos admitir que o exagero pode levar o poema ao inteligível, ou ao excêntrico... Talvez, seja essa a intenção do autor, logo, bom proveito.

Ritmo

O ritmo é a graça da poesia, é dela que se sai o som, podendo lidar com a velocidade o peso e muitas outras cocitas más que o autor-poeta irá descobrir ao longo das eras...

Não vou me ater a coisas como regras na colocação das tônicas ao longo do verso e coisas do tipo, que fique isso ao seu encargo e curiosidade. O que eu irei fazer é apenas dar o empurrãozinho inicial, como à quem monta numa bicicleta pela primeira vez.

“Tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonta...
Meu pai sem ter uma nora!”(popular)

Tan-to -li-mão, - tan-ta – li-ma,(1ª, 4ª, 7ª)
tan-ta- sil-va, -tan-ta a-mo-ra,(1ª, 3ª, 5ª, 7ª)
tan-ta -me-ni-na- bo-ni-ta...(1ª, 4ª, 7ª)
Meu- pai- sem- ter- u-ma – no-ra.(4ª,7ª)

“Já serena desce a tarde,
Já não arde o sol formoso:
Vem saudoso o brando vento
doce alento respirar.”

(Silva Alvarenga, Rondó XX, A Tarde)

- se-re-na- des-ce a -tar-de,(1ª,3ª,5ª,7ª)
- não- ar-de o -sol- for-mo-so:(1ª,3ª,5ª,7ª)
Vem -sau-do-so o -bran-do -ven-to(1ª,3ª,5ª,7ª)
do-ce a-len-to -res-pi-rar.(1ª,3ª,7ª)

Nota-se, se você der ênfase nas tônicas sentirás a sonoridade, o ritmo. Antigamente a música e a poesia eram uma só, dizem, ou talvez, era como os repentistas de hoje, do sul ao norte do país. Justamente as provas vivas de que a poesia não é algo pessoal para ser lido no livro apenas.

Mas, dizem, fora essa mescla separada pelos romanos, como se pode ver, tudo que é ruim veio dos romanos, como o mercado automobilístico por exemplo.

Pois bêm, são as tônicas da palavra e sua colocação ao longo do verso, e sua repetição aos demais, a mudança de ordem, no decorrer do poema, pode gerar uma quebra, boa ou não, dez que devidamente feito. Podendo mudar a velocidade acelerando, ou não.

Lembre-se que na música um dos elementos que a faz ser ela mesma é a repetição, é o que dá a simetria e a perfeição, mas uma musica muito repetida pode vir a ser monótona. Logo um poema muito extenso sem variação no ritmo e no metro pode gerar algo cansativo. A questão é, estude escrevendo e lendo em voz alta, as diferentes possibilidades e misturas e veja a que mais lhe agrada para determinado poema. E muitas outros elementos você pode usar alem, é o que veremos a seguir.

Rimas

As rimas, ao contrário do que a maioria pensa, não é a parte mais importante da poesia. Ela também se resume a repetição. Essa obrigatoriedade de rimas perfeitas aos olhos, está mais para uma histeria parnasiana do que realmente para uma obrigação. Dês que elas não sejam, digamos, fracas como verbos no infinitivo, ou sempre de uma classe gramatical. Mas isso não significa que você não deva usá-las. Mas use-as com moderação. Nimbos, e lindos tem a mesma sonoridade, nisso, elas podem vir a rimar. A mesma coisa que cisne e tisne, que são rimas raras, mas isso não significa que devas usá-las sempre que possível.

A rimas podem estar nas mais variadas localizações possíveis.

Tudo enfim, cabe a criatividade e ao som.

Mas vamos seguir alguns exemplos.

Toantes, Sonantes e aliteradas.

  1. As toantes apresentam identidades somente nas vogais tônicas: lúcido e dilúcido, árvore e pálido, boca e boa.

“Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos pálidas
molho-as. Assim eu as quero levar à boca,
em espírito de humildade, como um cálice
de penitência em que a minha alma se faz boa...” (Manuel Bandeira)

  1. As consoantes são as que rimam de igualdade total a partir da vogal tônica: Menino, tino, albino; casa, asa, brasa; percevejo, desejo e por assim vai.

  1. Aliteradas são as formas que dizem como rudimentar, são as que rimam na primeira consoante. Pode-se encontrar na poesia mais famosa, (Depois do hino nacional e o hino da bandeira.) de nosso pais: A “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.


“Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá;
sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.”

Masculinas e femininas.

  • São as rimas oxítonas as masculinas, e as de palavras paroxítonas são as femininas. Tais denominações, são da poética medieval, dos trovadores galaico-portugueses. As esdrúxulas não tem denominação. A alternância das rimas masculinas e femininas é de rigor na poesia francesa, e como é de se esperar, já fora usada por muitos poetas brasileiros, na belle época, que na época era a classe alta imitar a francesada, hoje todo mundo quer é ser inglês, até mesmo os argentinos.

Pobres, Ricas, Raras e Preciosas

  • As rimas pobres são as rimas provenientes da mesma classe gramatical, ou de palavras comuns. Ex: Pobremente, deprimente. Coração, irmão. Criado, matado. Sonhador, dor. Mar, voltar. E assim por diante.
  • As ricas já são justamente o contrário, com palavras de classes gramaticais diversas, ou as de uso inusitado. Ex: Vibra e libra, fosco e tosco, sonha e fronha, assumes e lumes, dele e aquele.
  • Raras são aquelas de poucas possibilidades de rimas, como tisne e cisne, turco e murco, furco, urco e algumas formas verbais.
  • Preciosas são as rimas artificiais, forjadas com palavras combinadas, tais como múmia com resume-a, pântanos e quebranta-nos, lâmpada e “estampa da”, “lírios e delir e os”. Com criatividade e moderação, é claro.

Localização:

Darei ênfase apenas no momento, às rimas encadeadas e as rimas Iteradas. São as rimas encadeadas as quando a ultima palavra de um verso rima com outra no verso seguinte.

Ex:

“Ouve, ó Glaura, o som da lira,
Que suspira lacrimosa,
Amorosa em noite escura,
Sem ventura, nem prazer.”

Silva Alvarenga

Já as Iteradas são as que se repetem no mesmo verso:

Donzela bela, quem me inspira a lira
um canto santo de fremente amor,
ao bardo o cardo da tremenda senda

estanca arranca-lhe a terrível dor!”

Castro Alves.

Outras Cocitas Mas

Heis aqui alguns exemplos que podem lhe gerar idéias, qualquer elemento usado, se bem usado, tanto figuras de linguagem como qualquer outro meio, pode dar uma graça ao seu poema, como um tempero exótico ou até mesmo como uma cobertura de um bolo.

Calvagamento: Recurso do qual o sentido do verso não finda nesse próprio, como nesses versos de Olavo Bilac: “Pátria, lateja em ti, no teu lenho por onde
Circulo! E sou perfume, e sombra, e sol e orvalho!”

Serve tanto para dar ênfase á uma determinada como também para evitar um certo cansaço em poemas longos, apesar de que sua utilidade pode ter inúmeros fins.

Aliteração: É a repetição de tônicas ou de uma letra.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias de violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas vãs, vulcanizadas” Cruz e Souza.

Nota-se aqui a aliteração com sentido de sugerir o sussurro do vento.


“Sou um mulato nato do litoral” Caetano

Caso das tônicas.

Um comentário:

  1. muito útil este texto, mostra o quão complicado é um belo poema. Admito nunca gostado de poesia (tornei-me um após ler "operário em construção", de vinícius, cerca de 4 anos atrás), vindo a interessar-me mais após maiores contatos com a obra dele 2 anos atrás e após um amigo meu começar a postar seus textos no blog shadxen.blogspot.com. Salvei as dicas, vou tentar praticar um pouco, ver se melhoro.

    Quanto a teu comentário no meu blog, também gosto mais da primeira parte (até o verso "minha esposa, já toda decomposta"), depois disso, realmente perde o pouco ritmo que havia. Tanto que até pensei em não publicar, mas já que tinha feito, postei. A inspiração pra ela foi o cd "the last temptation" do Alice Cooper, que realmente me causou um certo espanto/admiração. Tentei fazer algo do tipo, bem básico, o confronto mundano/profano e um fim simples, bom. Infelizmente, me perdi no meio do caminho...

    Se possível, gostaria que lesse "versos que não deveriam existir" (extraídos de sms's que passei, bêbado, pra uma amiga de minha ex, no dia seguinte ao término) e "vida e amores de joão 8" (que nasceu de uma brincadeira - um desafio sobre rimas - proposto pelo meu amigo do shadxen.blogspot.com) e me dissesse o que achou. Apesar de, na época, não saber nada sobre métrica e ritmo (hoje ainda não o sei bem), gostei bastante do resultado dessas.

    Desculpas pelo longo comentário

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