quarta-feira, 25 de março de 2009

Trovas




Sei qu'ela vive viajando
no olhar distante e nevoento,
mas é que em seus olhos verdes
tem um planeta lá dentro.
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Um soneto tem espaço,
que na trova não tem não,
p'ra conter uma mensagem
sem conter inspiração.
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No gás carbônico dança
a morte, é seu perfume,
perfume do fim, resíduo
que tudo que morre assume.
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E Muy verde são meus pés,
uns mofados e acredite,
já mataram pelo chulé,
traz de volta a sinusite.
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Um sapato, me disseram,
que te acertou, não confunda,
o que levaste meu amigo,
foi-lhe um belo pé na bunda!

A base da trova é ter um achado, ou seja, uma sacada! E a idéia se resume em apenas um quarteto, essa é a trova "moderna", ela é um quarteto de heptassilibados, pode ser tanto um epigrama, quanto apenas uma composição bonita, ou um profundo epitáfio, o esquema de rimas é geralmente abab ou abcb, é algo que me agrada, para ler e decorar e quando a ocasião for válida, citá-las... ou não, por ser demais pernóstico. Mais umas trovas que encontrei por ae... Do livro, já citado aqui, "Humor e Humorismo poesia e versos e: Paródias de poemas famosos" Antologia de Idel Becker 1961 e do segundo volume (pois os demais estão lá na outra casa e me custa ir lá pegar) "Conheça seu Idioma" do Prof. Osmar Barbosa 1967.

Sino, coração da aldeia*,
coração, sino da gente,
um a sentir quando bate
outro a bater quando sente.
(correia de oliveria)

Questão, essa é a versão que o povo preferiu, a original é "sino, coração da igreja,".

Nobreza de nome e casa,
vaidade inútil, à-toa...
O tacho também tem asa:
quem disse que tacho voa?
(P.e Celso de Carvalho)

Vá que se louve a formiga,
e à cigarra se condene...
Mas, quem teceu a intriga
foi cigarra - La Fontaine!
(P.e Celso de Carvalho)
A uma Víbora

Maldosa como ninguém,
finge que reza, na igreja.
porém não reza: pragueja
acrescentando um "amém"...
(Vitor Caruso)

As almas de muita gente
são como um rio profundo:
- Tem a face cristalina
e quanto lodo no fundo!...
(Belmiro Braga)

Na correnteza da vida
és madeira que flutua.
São os outros que te levam
e pensas que a força é tua.
(Hector da Costa Freitas)

A morte é bela enfermeira,
vem sem a gente chamar
e cura sempre as feridas
que ninguém souber curar.
(Djalma Andrade)

A vida é morrer constante;
começou mal se nasceu,
representa cada instante
um tanto que se morreu.
(Afonso Celso)

Tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonita...
Meu pai sem ter uma nora!

Toma lá que te dou eu
a minha grande fortuna:
uma mão cheia de nada,
outra de coisa nenhuma.

Se aonde se morre um homem,
pôr uma cruz é preceito,
tu deves trazer, Maria,
um cemitério no peito.

Coitado do mal-me-quer,
que não faz mal a ninguém,
e todos a desfolhá-lo,
a ver se lhes querem bem!

Você diz que sabe muito,
há outros que sambe mais;
há outros que tiram pomba
do laço que você faz.

As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam;
mas são as rosas que caem...
são os espinhos que ficam...

Eu não quero tomar mate,
quando os ricos 'stão tomando:
quando chega para os pobres
os pauzinhos 'stão nadando.

Tenho tosse no cabelo,
dor de dentes no cachaço,
sinto canseira nas unhas,
não vejo nada de um braço.

Quero cantar, ser alegre
que a tristeza não faz bem;
inda não vi a tristeza
dar de comer a ninguém.
(essas últimas, de origem popular)

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