Poeta, simbolista português, da Ilha de S. Miguel, Açores.
Oceano Nox
(A A. de Azevedo Castelo Branco )
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das cousas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais? -
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
A Dor
(Do poeta húngaro Sandor Petöfi)
O que é a dor? Um mar. E a alegria?
Pérola oculta nesse mar fremente.
Quantas vezes a pérola encantada,
Entre as rochas profundas sepultada,
Se dissolve esquecida, lentamente,
E nunca chega a ver a luz do dia?
Tradução de Antero de Quental
Palavras D'um Certo Morto
Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...
Só o espiríto vive: vela absorto
Num fixo, inexoravel pensamento:
“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...
Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia,
Um dia só – no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me,
Como se eu fosse alguem! como se a Vida
Pudesse ser alguem! - logo em seguida
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!
Quinze Anos
Eu amo a vasta sombra das montanhas,
Que estendem sobre os largos continentes
Os seus Braços de rocha negra, ingentes,
Bem como braços colossais de aranhas.
Dalí o nosso olhar vê tão estranhas
Cousas, por esse céu! e tão ardentes
Visões, lá nesse mar de ondas trementes!
E ás estrelas, dalí, vê-as tamanhas!
Amo a grandeza misteriosa e vasta...
A grande idéia, como a flor e o viço
Da árvore colossal que nos domina...
Mas tu, criança, se tu boa... e basta:
Sabe amar e sorrir... é pouco isso?
Mas a ti só te quero pequenina!
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