quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Trovas

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Vem-se a tarde, finda o dia
sono espera seu momento,
sonha um traço a alegoria
d’algum velho sentimento.

...

Algum velho sentimento
já cansado na sua idade 

já foi gozo e foi tormento,
mas se foi na tempestade

Banana
Fruta feita sem semente
e que a casca se retira,
tem simbolismo inconsequente,
que certa gente se inspira.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Desejo




Na agua turva um tesouro,
depois do medo o fulgor
com dedos sujos de ouro
acalentando um horror.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Trova

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Sangue reflete o vermelho.
Sobre o sentido da cor.
Como algum cínico espelho.
Como um recado da dor.

...

O sonho
o sonho perfeito
aquele doce
sensível suave e perfeito
bem estar, tão doce
é dor
entre toda a carne exposta
é dor, tenra
pelas unhas e dentes Reais
e aqueles lábios
os avermelhados
aqueles lábios vermelhos do Desejo!

Axioma




Axioma

Tempestade infesta,
esta e toda a cidade
descendo
p'ro esgoto
toda a minha fuligem
que me torna denso
imenso.
Toda a minha cobertura,
está crescendo
dentro do esgoto.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

...




Tem um templo contigo
feito de âmbar e mel
nessa pele.
Contemplo, no sereno
do ar condicionado
perto  da janela
seu corpo em meia luz
desenha-me um farol.
E se anseio enfim, sentir-te
rogo que teu suspiro
em enleio sim, roubar-me
de todo ar.
Me afogue.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Maldita Trova


Malditas

Pois todo silêncio emerge
de algum latente estouro.
Silêncio de desespero
na espera num matadouro.

E os sonhos morrem na praia
e brilham como de espuma
são como falsas promessas
carcaças de coisa alguma.

E o Sol! Que ri lá de cima,
é um cínico psicopata,
pois mata  tudo que cria
e os queimando os desidrata.

E a luz do qual me ilumina
só mostra a nossa desgraça.
É como um sádico artista
que de tudo acha graça.

Maldito mundo que estou
maldito céu que reprova
o  chão maldito que piso
e o giz com que risco a trova!

FIGUEIREDO, Juvêncio de Araújo




NUM SONHO

- Lá vai, velas ao vento, o brigue Flor das Águas;
Lá vai, garbosamente, em procura do Norte.
E alegre chegará? Quem sabe lá das mágoas
da sua gente? E quem já lhe notou a sorte?

Mágoas! Quem nunca as teve? Eu, pelo menos, trago-as
desde o dia fatal em que, olhando a morte,
o meu noivo vagara aflito, envolvido nas fráguas,
dos bruscos vagalhões em terríveis corte;

Assim falava Rosa às queridas amigas...
E dentre o lindo rol das meigas raparigas,
rita pôs-se a cismar na vida de Lourenço.

Vira-o no mar profundo e revolto de um sonho,
nas angústias fatais de um naufrágio medonho,
a gritar e a acenar convulsivamente um lenço.


NA CRUZ
À alma torturada de Carlos de Faria

Quem pregou nessa cruz esses teus frágeis braços?
Quem te lançou à boca a esponja da tortura?
E sobre teu anseio a mudez dos espaços?
E diante dos teus pés uma planície escura?

Quem te rasgou do peito, a execrandos lançados,
todo esse coração onde a tua alma, pura,
sonhava a doce paz bendita dos regaços,
todo o meigo e efluvial clarão de uma ventura?

Ah! Quando o fundo olhar nesses tormentos cravo,
de tudo me recordo, e essas tristezas cavo,
como quem cava o chão frio de um cemitério.

Numa hora de repouso, e de recolhimento,
eu sei o que é a dor, de momento a momento,
passando sobre ti no seu carro funéreo.

AMARGA IRONIA

Eis-me junto de um túmulo fechado,
Onde reclino a fronte quase fria.
Quero escutar, digo eu, a litania
De um coração que aqui jaz enterrado.

Nisso, de dentro, parte um sonho magoado,
De uma profunda e vaga nostalgia.
Quem és? E o som responde-me: - Maria,
A tua filha, o teu amor sonhado!

Um frio, então, tragicamente horrendo,
Passa-me os ossos; e me vai roendo
As carnes que afinal se espedaçavam!

Mas fiquei por saber se o som tristonho
Era o dessa ovelinha, n’algum sonho,
Ou era o dos vermes que de mim zombavam!

ALMA ANTIGA

Todo o amaino que encontras nesta cama,
Nestes lençóis tão alvos e aromados,
Vem de uma clara e misteriosa chama
Que te segue, dos tempos já passados...

E não na vês, na delicada trama
Da sorte! Não na vês, nos teus cuidados!
Mas ei-la neste leito; e se derrama
Como por sobre o mar óleos sagrados...

É que, por certo, um dia, um leito deste
A quem, passando num lugar agreste,
Sentira as pernas bambas de fadiga.

E se buscares todos os segredos
Do teu passado, encontrarás os ledos
Florescimentos da tua alma antiga.


VOLTANDO À TERRA

Dize, por que razão me vens bater à porta,
altas horas da noite, assim de olhar tão triste,
que não sei como, ao vê-lo, a minha alma o suporta,
se há muito tempo já da terra sumiste?

E o que desejas tu, se há muito tempo és morta,
se, com certeza, ao lindo e largo céu subiste
como uma águia de luz, que as amplidões recorta,
e sobe, e por lá fica, e a paz do céu assiste?

E ela, os olhos volvendo, as mãos alevantando,
e abrindo a boca em flor e a cabeça meneando
pôs-se, então, a falar da nossa mocidade...

Disse que à terra vinha, unicamente, apenas,
para às suas unir as minhas grandes penas,
no consolo bendito e humano da saudade.

Cena Real

Rita fora tirar mariscos ao mar-grosso,
Para dar de comer aos pequeinos filhos
Que eram, do seu amor, os mais fortes cadilhos
Numa pobreza atroz, de sombras de arcabouço.

Prendeu um samburá à curva do pescoço,
E buscou do rochedo os últimos rastilhos,
Temendo o grande mar que, em cada vaga, trilhos
Abre a cada momento. E cada vaga é um poço.

Mas uma vaga veio; e mais outras... Montanhas
De água vieram... E treme o seu peito de estranhas,
Profundas emoções! Ei-la, agora, rolando

Por êsse mar revolto! (Ah! Tristíssima cena!)
Com um trapo da saia ela, cheia de pena,
Diz aos filhos adeus, e êstes choram, gritando!...

Suicida

Do bordo do lanchão pôs-se a fitar o espaço,
Que tão cheio de luz se achava! Quantos astros,
Quantos mundos rolando, enlaçados em nastros,
Da eterna vibração, no infinito compasso!

Quis estender ao céu o seu pequeno braço,
Mas recuou porque, muito distante, os rastros
Dêsses mundos de luz lhe dariam cansaços;
E êles não são, por certo, os santelmos mastros...

-Quem pudesse morrer! (Disse êle) e, nesse instante,
Olha as águas do mar e vê um céu faiscante;
E dentro dêsse céu, a gôndola da lua...

Arroja-se de chofre, então, ao mar e morre,
mas, por tôda a enseada, uma lenda ainda corre:
Dizem que a alma do Zé nas ânsias continua...

Ilusão

Sopra rijo o nordeste. Anselmo vem à popa
De um leve batelão. Vem, contente, a cantar...
Nem se lembra que está sobre as ondas do mar:
E, destemido, d'água o largo pano ensopa.

A leve embarcação embaraços não topa,
Metida a quilha ao vento... É um passaro a voar...
Rumo da praia irá, num seio descançar,
De bôjo para cima, embutido de estôpa.

Mas , junto ao Cambirela, onde há um precipício,
Que a tanta gente dá o eterno sacrifício
Da morte, ei-la emborcada, a leve embarcação.

E nunca mais ninguém viu o pobre Anselmo:
Menos quem o tanto amou, e, na luz do santelmo,
Parece vê-lo sempre... E crê nessa ilusão!

A Rendeira

Que lindas rendas faz a saudosa rendeira,
Que horas passa sentada ao correr do portal,
De onde escuta a carriça a chilrear na lareira,
E o canário a chilrear no flóreo laranjal!

Aprecio-lhe o gôsto e a sublime maneira
Com que faz tanta renda, assim, para o enxoval,
Vai casar-se na ermida alegre da ladeira,
E fêz, duma camisa, um lírio original.

No momento em que a vi, a tarde feiticieira
Era uns veios de luz piedosa, espiritual...
E chegava da pesca uma leve baleeira.

Houve, então, um rumor de beijos no quintal...
E em cada humilde e bom olhar dessa rendeira
Cantava a rima azul de um sonho virginal.




FIGUEIREDO, Juvêncio de Araújo. Poesias: edição comemorativa do centenário. Florianópolis: s.n, 1966. 311p.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Bola de Natal



No brilho  líquido como vidro,
de uma bola de natal,
eu vi luzir, encoberto no espaço livre
das férias de fim de ano,
um pequeno pedaço mirrado,
mirrado pedaço pequeno de mim.

domingo, 29 de setembro de 2013

Ok, esta musica entra também no clima do blog...

So Easy by Röyksopp on Grooveshark

Prólogo

 
 link image
Prólogo

Quando eu era um moleque, tinha um futuro cinzelado  e brilhava como as janelas do meu prédio.
Num azul fosfóreo e marinho.  E entre o gelo do sul e as cordas do barco, colecionava amores em minhas cicatrizes
e morreria ébrio no frio de uma navalha.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Paisagem


Paisagem

Vejo monges nas estradas
estão no tempo ancorados,
postes que estranham o tráfego
presos... nas margens curvados.

Vejo, tempos ancorados
presos pelas paredes,
gárgulas nestas  janelas
rostos de inveja em sede.

Vejo meus velhos amigos,
em cada quarto são anelos
sob medos e memórias
sob traumas, pesadelos.

Vejo sonhos afogados
pelo asfalto e pelo afeto
retorcido e deformado
pelo gesto do  concreto.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Trovas


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Eu tenho todos os medos.
Qualquer trauma neste mundo.
E  vejo com olhos turvos,
abismos dos meus segredos.


....

É neste mundo nascendo
que o cosmo pulsa desejo.
e tudo versa um sentido
de lábios presos num beijo...

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ansiedade




Ansiedade

Na janela largada aos humores do vento,
como as bandeiras d'alto dos morros
as cortinas
dançam presas em teu quarto
tal meninas
avoadas e com todo o rubor da natureza.

Presas, sofrendo
querendo voar
cobririam todas as promessas do Horizonte,
externo e terno e extenso e eterno co'os braços todos estendidos!

Querem elas a liberdade de se entregarem aos seus destinos,
filhotes de Nimbus
esperando seu bando
lembrar-se delas e numa tempestade
cobrindo a paisagem vir.
Elas sabem que o vento lhes ensinará a voar,
às duas.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Trovas (Céu, Durma, Conto)


Céu

Em um céu cinza a rotina
cinze o mundo em seu silêncio,
nada finda na surdina,
tudo foge de um consenso.

Eu vejo o mundo em céu aberto,
num gosto leve de alforria,
é ter um futuro descoberto
é ser vivo por porfia.


Conto:

Eu quero o conto perdido,
no silêncio na rotina,
um tema solto e iludido
na vergonha que confina.

Durma:

Durma, pois o mundo afora
vem dum sonho d'outra gente
logo tem a nossa hora,
de ser mundos diferentes.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Ela



Ela dissolvia um halls preto na boca cheia de vódka e tinha um cão chamado Salazar.
Tinha um nome conhecido e um nome que muitos já se esqueceram.
Nome que podiam chamá-la, nome que podiam faze-la sofrer.
Nome que paira sobre um ar de desconforto.
Mas já foi o gozo e a dor de muitos homens e tem um pequeno cemitério por de trás dos tonéis.
Ela os vê brilharem a noite mas ela sabe abrir qualquer animal.
E pode enfiar suas mãos em suas entranhas.
Sabe limpá-los. Torna-los puros e inofensivos.
Arranjar-lhes um lugar. Como já fez em muitos homens.
Lugar dela, um barraco no alto do morro que sabe concertar com qualquer coisa que encontrar.
Ela sabe que ali ninguém mais a incomoda.
Mas ela dá cigarro aos garotos. Mas enterrou aquele que seria um.
Ela já viu o inferno que é o paraíso dos homens.
Ele foi o primeiro de tantos.
Hoje ela tem tantos dentes na boca...
Ela cheira á óleo e ela tem cabeças de bonecas e ela tem uma cadeira de rodas no armário e ela  sente pequenos insetos se remoendo entre os dedos, coçando, fazendo caminhos.
Se sente mãe de tantos.
Ela não tem idade mas tem um nome sempre sussurrado por um pequeno cemitério por trás do tonéis, com cabeças de bonecas. E ela poderia limpá-los assim como aquele que seria um, pois sabe abrir qualquer animal, mas ela os vê brilharem a noite.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Recado





Recado

Derramava ela 
terra alçava ela 
terra mar janela 
erra amar, mas ela 
era mar e é bela. 
te amava ela…

sábado, 3 de agosto de 2013

Duas propostas









Duas propostas

Vou voltar,
com todos os sonhos censurados,
e todos os desejos,
terminar cada conto.
Compor cada verso
com as rimas pensadas.
Num desafio de amor
nas cordas da viola.


Eu vou voltar, pra além mar,
com os meus sonhos censurados,
os meus desejos selados,
cada conto terminar
rima dada, velho fado
em desafio de amor
pelas cordas de viola,
nas mais longa barcarola
pois seja pelo que for,
meu destino desenrola.

sábado, 29 de junho de 2013

Sonetos antigos em prosa...



Experimentando...


Soneto I

Eu não mais enxergo aquele meu rosto... Todo o meu calor findou e foi perdido lá nos vendavais de velhos desgostos, todos de um futuro estranho e vencido. Traços de um amor ao ontem retido todo num sonhar, ferrugem é o meu gosto e traço, de um homem viajante: estranho e esquecido. Sou o tal  que voltou de um fim decomposto.
Já não mais enxergo aquilo que escrevo, esta má melodia de tempos amigos, neste manuscrito de vis tatuagens. Nem sei se me lembro além do que não devo: linhas que carrego in-derme e comigo numa confusão de mil maquiagens! 

Soneto II

Segunda feira perdida no batente. Domingo esmera a rotina que resiste. E a morte espera tão terna e tão contente tal todo aquele mormaço que resiste.
Vem terça feira, na tarde sempre triste de um outono azul. A marinha cor se sente nas poças d'agua, num blues que bem consiste na luz da noite de fim de expediente.
O bar de sexta, semana que apagada me lembra as quintas já mortes e enterradas, portões fechados p'ra vida ser cigana. E o  vinho no copo descartável se torna o éden de todo miserável na noite opaca do início de semana.

Soneto III

Felizes as pessoas, são todas felizes janelas por brilhar nos prédios, que são vidas distantes a luzir. As vidas refletidas são belas fantasias, são todas boas atrizes. Mas neste mundo cinza imerso em pesticida as luzes por brilhar são todas meretrizes. Perdidas se cortando e escondem cicatrizes fugindo do terror de serem percebidas.
É tudo propaganda entenda a brincadeira. As proles ao cantar o fel mais hedonista, sorriso de amarela estampa corriqueira. As luzes! Ah as luzes! A encantar são apenas... é só luz! Que ainda vai apagar. Sumir vai... da vista! Tal vidas que estão lá e no fim nada reluz ...



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Uma idéia...




Toda palavra tem poder. Toda discurso em certo aspecto afirma e molda uma realidade. O humorista, o jornalista, o bardo, o romancista são, deste modo, os mais poderosos demiurgos.
Se fala isso dês do que conhecemos por ser humano. Este ato, de comunicar-se está imbricado em nossa realidade de modo que se versa enquanto cria. Em suma, estamos o tempo todo afirmando e negando realidades e afirmando nossas concepções.
Se a realidade é formulada pelo modo que significamos e coordenamos ela frente à outras concepções de realidade. Pode-se afirmar, que um tarologo copetente junto com o consulente, não são oraculares mas sim um "mecanismo manejador de universos".

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quantos anos tem este blog?
Lembro-me dês de 2005.

8 anos e sinto que estou ficando velho.

Tenho medo de ir dormir e amanhã ser outro dia.

Namoro uma menina de brasília que tem o sorriso mais lindo que já vi.

E neste momento estou escutando mascara negra na vós de Zé Keti.

Me veem em mente um soneto.


 Cae o sol, como já queimado facho...
 Do lado opposto espia a noite informe...
 Tu me perguntas se isto é bello?. e eu acho.
Gaivotas - Luiz Delfino

Ps: Ontem foi o um marco na revolta do vinagre.

sábado, 8 de junho de 2013

Chá de Hibiscus




Chá de Hibiscus 

Foi como se aquele estranho, ao embaralhar as cartas, tivesse previsto tudo. Antes que o segurassem, conseguiu esconder seus pertences no casaco. Casaco aliás, que mesmo anteriormente amarrado em sua cintura, suavizou as surras e pelo seu aspecto morfético, como se costurado com a pele de ratazanas pré-digeridas, fez com que esta coisa continuasse com o dono. Depois da surra, meio sem saber onde estava, tirava o Louco e na carta invertida o Sol, depois o Enforcado. Louco primeiro pois era a carta ativa e o sol, obviamente inativo, já o enforcado era a questão. Falta agora a conclusão e o consulente.
 Seu nome era Jeremias e ele bebia. Misturando aguardente, chá de hibisco para assim pensar melhor. Acreditava que esta era uma ótima forma de emagrecer, mas no momento esta não era a preocupação, com as cartas apoiadas em sua barriga, sua testa frangia centrada em como sair desta encrenca. Mas, acima de tudo, no porque dela.
 Estava em um barco fuleiro em alto mar. Tudo o que ele tinha, era justamente o que sempre lhe ajudou a pensar. O Louco, era óbvio, já estava respondido: Ele não sabia porra alguma do que fazer e não conseguia lidar com a gravidade da situação, no mar, era o próprio cenário a invocação do arcano: a instabilidade do mar e o abismo oculto era o seu sorriso de ironia. E o Sol invertido apenas afirmava isso.
 Mas e o enforcado? O sacro e o ofício? O sacrifício, a ação mais pura do homem santo? Ou, uma troca de merda. Ele já sabe o que perdeu, mas não é ai que o enforcado entrou. De jeito nenhum. Mas a situação já estava pelo pescoço, nem uma ave no céu, nem uma nuvem, era o azul mortal. Sentir-se-ia mais feliz se fosse um leproso, ou quem sabe um pouco de sífilis? Essas questões, pensou, não importavam no momento, era melhor voltar à realidade.
Resolveu tirar a vez do consulente, apresentou-se o Diabo, bem aquilo fazia sentido, isso deixava as coisas mais claras. É mesmo, agora ele se lembra, andara correndo nu atacando as pessoas às mordidas. Só que não, não era licantropia, pois se não haveria um sentido e não loucura. Mas não, ele não se transformava, era apenas um impulso, de sua cabeça quando esta descia pra baixo ou virava de ponta cabeça? O pentagrama estava invertido? O impulso animalesco foi a prisão da loucura? O irracional...
Mas questionar a natureza do surto não ajudava em nada, em suma: Fora exilado no limiar dos mundos, na representatibilidade da loucura, por estar dominado pelos instintos e terá de sacrificar-se de alguma coisa, em sua plenitude moral, na superação de si. Pois bem, conclusão? Ha! Sim, que bom, a Morte, alguma coisa vai mudar. A libertadora suprema, a grande abertura para o desconhecido. Mas para isso tem de abrir mão de alguma coisa. No meio do nada?
Tinha apenas o chá de hibisco batizado, o tarot, seus tormentos, o barco e o casaco. Achou melhor terminar a garrafa, encher a cara, pensar melhor. Apagar de uma vez, que se dane. Não sentiu a salvação bater em seu barco, uma embarcação maior, com remo desta vez. Mas naquele estado era, enfim, dado como um homem morto, talvez empesteado, não subiriam o “cadáver” que dormia no sono dos tolos. E a morte estava ali, decepcionada, por sorte não havia ninguém embaixo que a visse descer.



 Exercício de frases:Foi como se aquele estranho, ao embaralhar as cartas, tivesse previsto tudo. e por sorte não havia ninguém embaixo que a visse descer.

domingo, 12 de maio de 2013

Implosão



Implosão


Escuta-se a turba a clamar dentre meus ouvidos, um zumbido adentro a queimar, que perturba a consciência. É m grito antigo, perene e prenhe de uma angustia eterna, interna, e enferma. Um grito expiatório, um zumbido de pressão, apitando ad eternum. É um estouro aflitivo, sangrando um sumo impulsivo, germinando contido pela matéria. Dentre a miséria do físico ser, um ser limitado, em ser um ser finito pressionado na constrição dos dentes. Numa ânsia explosiva, onde todo um turbilhão se afoga em si, tentando insurgir sobre si! Tentando expandir-se e virar-se pelo avesso! Sangrando pelos ouvidos, olhos, dedos, suor.. Queimando e dissolvido, ressurgindo, regurgitando a devorar-se. Num coro grave e gutural. Tantas almas, tantas vozes algozes que retorcem e gritam tantos nomes, tanta informação vinda de multidões internas e sufocadas. Presas em um corpo, a gritar desesperadas pressionadas pela rotina. Gritando um ruido de nomes e súplicas enquanto este corpo toma um café, só para aguentar o trabalho.

Contraponto



Contraponto

A cidade cheira à liberdade,
onde nomes podem todos agora
serem outros, serem novos por hora
serem velhos, serem d'outras verdades.

Nestas faces, rosto que se ignora,
onde tudo verte mil realidades,
dentro está a rotina estranha beldade
que se esquece, que se mata e não chora.

A cidade cresce e expande por dentro,
se devora, como quem se digladia,
um cardume insano e são e autotrófago.

A cidade brilha todo momento,
e sibilam cantos que de alforria
cá se emerge mundos autotróficos!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Poema Azul


 Starry window by ~Nuteczka

Poema Azul


Eu vi na cortina do meu quarto.
O azul cristalino de um futuro
em tons pastéis e em remendos.

Eu tinha certeza de meu fardo,
em nuvens e em tempos que procuro
pelos jornais remoendo.

Lá nas gravuras costuradas
com ranhuras de tempos presentes
com misturas de traumas e anelos.

Lá nas memórias afogadas
nas fissuras, rotinas frequentes
as que encardem nos pesadelos.

Mesmo lá,
mesmo no fundo mais escuro.
Eu vi gravuras bordadas,
e o azul, tom pastel de um futuro,
com gosto de um anis perturbado,
e de memórias em conserva.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Paisagem



Urban Fairy
by ~El-Rafo

Paisagem


A cidade jorra augúrios de aço,
em cantos sujos, em cantos d'anjos,
erguendo asas sobre o mormaço
ascendendo berros sobre prédios
acendendo lumes entre abraços,
no termor do tempo, do desafeto
no desespero...

Marcel Angelo

terça-feira, 30 de abril de 2013

Maré IV




Ocean Rain
by ~bombyaker

Maré IV

Em rostos presos na espuma,
nas rochas despedaçando,
são homens longe de casa,
perdidos se recordando.

Os vultos presos na ondas,
são restos dumas lembranças
sem réstia d'alma alguma
que as margens vezes alcança.

E  cada destes retalhos
na noite, longe fulguram,
em cada respingo d'água
antigos nomes murmuram.

São sopros de barcarolas,
canções de exílio, são versos
silentes velhos recados
de velhos restos imersos.


Marcel Angelo

domingo, 28 de abril de 2013

Velejar

Mais uma poesia minha com este tema, não sei bem o que dizer dela, porém acho que valeu o trabalho... Alias! Como foi publicada aqui, isto já vale como documento... Huauahuahuhauha!

Eu caio em mar vou além dos horizontes,
vou ás geleiras ninguém me espera por lá
espero e conto que um dia tu me contes,
tudo que houver se um dia eu voltar.

Se caso morro em anjo apareço,
se caso vivo eu não te reconheço,
o barco morre e sei que permaneço,
no marco d’horizonte, dês do começo.

E me enterro nas geleiras seculares,
mas volto nem qu’eu venha a enfrentar,
as mais horríveis feras milenares.

Só, eu escapo das jaulas tumulares,
eu volto, eu prometo vou voltar,
como anjo ou sombra hei d’escapar
.

Eu ainda canto ela no banho.
(Poema publicado originalmente em 14/12/2005 :)

LEMBRANÇAS APAGADAS

LEMBRANÇAS APAGADAS

Outros, mais do que o meu, finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho e belo
Que tu, ó Lírio lânguido, singelo,
Guardaste nos teus íntimos recatos.

Que outros se lembrem dos sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e não revelo
E se recordem, com profundo anelo,
Da tua voz de siderais contatos...

Mas eu, para lembrar mortos encantos,
Rosas murchas de graças e quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor saudosa,

Tanto martírio, tanta mágoa e pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal maravilhosa!...

Cruz e Souza

Alma Antiga - Araújo Figueredo




Araújo Figueredo um dos grandes nomes da poesia do Desterro, poeta espirita que infelismente áh de ser apagado em conseguência de preconceitos vigentes...




ALMA ANTIGA

Todo o amaino que encontras nesta cama,
Nestes lençóis tão alvos e aromados,
Vem de uma clara e misteriosa chama
Que te segue, dos tempos já passados...

E não na vês, na delicada trama
Da sorte! Não na vês, nos teus cuidados!
Mas ei-la neste leito; e se derrama
Como por sobre o mar óleos sagrados...

É que, por certo, um dia, um leito deste
A quem, passando num lugar agreste,
Sentira as pernas bambas de fadiga.

E se buscares todos os segredos
Do teu passado, encontrarás os ledos
Florescimentos da tua alma antiga.

Retirado do livro "Ascetério" edição em "Poesias" de 1966

Tarde de Domingo




Tarde de Domingo

Numa noite nublada de domingo,
com The Cure tocando no PC.
Um momento sozinho co’as idéias
perigosas, em meu crânio, eu fui ter...

Bem, faz tempo, eu li num periódico,
que os suicidas se matam no domingo
com freqüência maior que os outros dias.
E o fator mais relevante, é tão lógico:

Solidão nas suas casas, e os vizinhos,
com suas festas, e o resto está lá fora
com suas vidas felizes... E sozinho
se percebe que sua vida se evapora.

Tem um mundo brilhando a cá, lá fora,
na distancia singela de um convite.
E a certeza que isso não lhe existe,
os felizes não enxergam quem descora.


E a janela lhe mostra os apartamentos,
com suas luzes contendo tantas vidas,
que ignoram seu triste sentimento,
que ignoram suas travas e feridas.

E quem sabe, seu corpo se cair,
vai acender as janelas, vai mostrar
que os culpados são eles, vão sentir
num momento a verdade atropelar...

Mas ao certo, ninguém vai entender,
se morrer não irá ter nenhuma ajuda,
e nenhuma janela vai acender...
Esse grito os problemas não muda.

Numa noite nublada de domingo
e um passado remoto se esvaindo
de meu mundo... The Cure... Vá tocando,
nostalgia eu de um mundo se acabando...

Noite de domingo, namorada foi-se embora, The Cure, computador, melancolia... Me faz falta a internet...

Início e fim tirados de um livro...




Início e fim tirados de um livro...

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Romances se esvaem e a vida perdura,
memórias que ficam. Rostos são antes
um velho sabor na boca, distantes...

Ai flor do céu, oh pequena figura,
pequeno botão de rosa, fulguras
o gozo de um mundo novo e gigante,
sentidos vivos, fortes e vibrantes.

Mas tudo enferruja e perde-se o alento,
nos largam sermões, traumas e os problemas...
E a rosa envelhece e ela esmigalha.

Mas nascem os frutos desses momentos
e mesmo que a rosa não seja a mesma
perde-se a vida, ganha-se a batalha.

Tirado do livro Dom Casmurro...
De Machado de Assis

A vida é bela



A vida é bela, feito uma menina com transtornos bipolares. Ela é bela!
E os sentimentos enfim é o que me mantém vivo; Caper Diem ou algo assim. As pessoas me evitam e o mundo gira de costas pra mim, mas eu tenho um mundo todo girando na minha cabeça! E eu posso confrontá-lo com isso, eu posso fazer guerra...
Talvez isso seja esquizophrenia, talvez seja fantasia do DDa. Talvez seja um mundo que há bem no fundo de minha cabeça, e nem pareça que eu seja um Deus, talvez seja.
Eu só sei que meus sentidos são feitos no sentido de suprir esse universo, enchendo-o. Fazendo o disperso garoto cumprir um fado, talvez todos sejam assim e a mim só resta o lado dos derrotados, pois eu tenho tudo e só tenho um papel. Sei fazer um Rondel, sei por um soneto e nada mais...

Alegoria

Alegoria

Eu sou o sopro salino e a ferrugem
como a fome de cracas no abismo.
Um passado perdido em cinismo
pelas bocas que acalmam e iludem.

Como os traumas que cortam, confundem
as memórias em outro realismo,
eu embaralho as cartas, lastimo
cicatrizes que os loucos se nutrem.

Minhas vestes envolvem os loucos
que se perdem em nossos caminhos,
os que ficaram e os “qualquer uns”.

Velo o idoso que varre-se aos poucos
e sou os versos que esvaem-se sozinhos
para os mortos em valas comuns.

Aspiração

Infância perdida n’outra cidade,
menino de rua lá n’outras verdades
de vidas que foram pra ser e nem são.
As vidas possíveis, que nunca virão.

Meu mundo distante n’outras paisagens,
que nunca terei ou verei seus endereços
dos outros de mim em outras roupagens,
os outros de mim que tanto careço.

E findo meu mundo enfim em Desterro,
sem porto nem barco que leve pro Lar
que nem mais existe, uns outros ‘stão lá,
é casa de outros de um mundo terreno.

Um mundo perdido n’outra cidade,
de estranhos rumos e outras verdades
de histórias, destinos de rumos que são
perdidos pra sempre e sei, nunca virão.

E o anelo de ver as outras paisagens
e as vidas de velhos vãos endereços,
os rostos largados, novas roupagens
de rumos que tanto quero e careço.

Mas vejo meu mundo cá no Desterro,
mas inda pergunto-me por meu Lar,
a terra da eterna distancia está lá
tão longe num mar não mais terreno.


Não sei de quando é, mas é provavelmente antigo... Um poema esquecido.

Tempos de faculdades, provas...
Até que escrevi um soneto, mas não ficou bom....

Barca dos Loucos

Barca dos Loucos

Perdi-me nos sonhos embalsamados
e a barba crescendo em meu rosto pálido
só mostra que o tempo findou na treva
perdido, por fim, na mudez de um anjo.

E a morte me espreita e seus lábios pálidos
sibilam futuros de perda e treva.
Mas doce e bonita, tal qual um anjo
sugere-me o alento embalsamado.

E vejo que tudo findou na treva
enquanto sonhava, voavam anjos
na noite de tez embalsamada!
Nos olhos perdidos de um homem pálido!

Meus olhos de desdem veem de um anjo;
perdi-me nos sonhos embalsamados,
tornei-me cárcere! Só mais um pálido
mofando na barca enfim, nas trevas!

Responsabilidades

link

É responsabilidade:
A guarda de tua memória
de um tempo em que enfim perdes-te
seguindo os ventos da história.

É responsabilidade:
Alguém voltar o caminho
que todos partem, eu volto
contando a história sozinho.

É responsabilidade:
Guardar o fogo caseiro,
p’ra quem passar de viagem
p’ra este fim derradeiro.

É responsabilidade:
Enquanto as naus vão partindo
de um mundo inerte e deserto,
alguém ficar assistindo.

Pois neste mundo de estradas,
alguém vai ter por sua sina:
fechar as portas do palco,
luz apagar, fazer faxina...

Maré II


Ocean to Ocean
by ~SorroW-Tiger

Maré II

Eu senti ela no gelo em meus ossos,
trincando cada um,
enquanto, sob um gesto
naus e naus e naus
partiam sobre cantos de sereias.
Com gosto de sal d'além mar,
garotos emergiam homens,
iconoclastas e patricidas.
E eu senti ela no gelo em meus ossos,
movendo torrentes,
para seu colo,
e em seus olhos
os siameses:
fuga e o desejo.


Marcel Anngelo

sábado, 27 de abril de 2013

Anjos




Urban angels...
by ~GrandeOmbre

Anjos


Anjos dançam na calçada,
entre trapos indigentes.
Entre jogos e sujeiras,
tão contentes.

Versos feitos nas infâncias
feito berros de conjuro,
entre fetos acabados
em breu impuro.

Molham vultos retorcidos,
restos velhos os pivetes,
arranhando suas memórias
pelo Letes.

Poças mornas, se dissolvem
pela água nesse asfalto,
é só abismo se se olha
lá do alto.

E bem dançam nas calçadas,
como pássaros sedentos,
ladainhas pro infinito,
firmamento.

Onde eles se constringem,
num esforço natural,
conservando suas memórias
no jornal.