terça-feira, 30 de abril de 2013

Maré IV




Ocean Rain
by ~bombyaker

Maré IV

Em rostos presos na espuma,
nas rochas despedaçando,
são homens longe de casa,
perdidos se recordando.

Os vultos presos na ondas,
são restos dumas lembranças
sem réstia d'alma alguma
que as margens vezes alcança.

E  cada destes retalhos
na noite, longe fulguram,
em cada respingo d'água
antigos nomes murmuram.

São sopros de barcarolas,
canções de exílio, são versos
silentes velhos recados
de velhos restos imersos.


Marcel Angelo

domingo, 28 de abril de 2013

Velejar

Mais uma poesia minha com este tema, não sei bem o que dizer dela, porém acho que valeu o trabalho... Alias! Como foi publicada aqui, isto já vale como documento... Huauahuahuhauha!

Eu caio em mar vou além dos horizontes,
vou ás geleiras ninguém me espera por lá
espero e conto que um dia tu me contes,
tudo que houver se um dia eu voltar.

Se caso morro em anjo apareço,
se caso vivo eu não te reconheço,
o barco morre e sei que permaneço,
no marco d’horizonte, dês do começo.

E me enterro nas geleiras seculares,
mas volto nem qu’eu venha a enfrentar,
as mais horríveis feras milenares.

Só, eu escapo das jaulas tumulares,
eu volto, eu prometo vou voltar,
como anjo ou sombra hei d’escapar
.

Eu ainda canto ela no banho.
(Poema publicado originalmente em 14/12/2005 :)

LEMBRANÇAS APAGADAS

LEMBRANÇAS APAGADAS

Outros, mais do que o meu, finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho e belo
Que tu, ó Lírio lânguido, singelo,
Guardaste nos teus íntimos recatos.

Que outros se lembrem dos sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e não revelo
E se recordem, com profundo anelo,
Da tua voz de siderais contatos...

Mas eu, para lembrar mortos encantos,
Rosas murchas de graças e quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor saudosa,

Tanto martírio, tanta mágoa e pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal maravilhosa!...

Cruz e Souza

Alma Antiga - Araújo Figueredo




Araújo Figueredo um dos grandes nomes da poesia do Desterro, poeta espirita que infelismente áh de ser apagado em conseguência de preconceitos vigentes...




ALMA ANTIGA

Todo o amaino que encontras nesta cama,
Nestes lençóis tão alvos e aromados,
Vem de uma clara e misteriosa chama
Que te segue, dos tempos já passados...

E não na vês, na delicada trama
Da sorte! Não na vês, nos teus cuidados!
Mas ei-la neste leito; e se derrama
Como por sobre o mar óleos sagrados...

É que, por certo, um dia, um leito deste
A quem, passando num lugar agreste,
Sentira as pernas bambas de fadiga.

E se buscares todos os segredos
Do teu passado, encontrarás os ledos
Florescimentos da tua alma antiga.

Retirado do livro "Ascetério" edição em "Poesias" de 1966

Tarde de Domingo




Tarde de Domingo

Numa noite nublada de domingo,
com The Cure tocando no PC.
Um momento sozinho co’as idéias
perigosas, em meu crânio, eu fui ter...

Bem, faz tempo, eu li num periódico,
que os suicidas se matam no domingo
com freqüência maior que os outros dias.
E o fator mais relevante, é tão lógico:

Solidão nas suas casas, e os vizinhos,
com suas festas, e o resto está lá fora
com suas vidas felizes... E sozinho
se percebe que sua vida se evapora.

Tem um mundo brilhando a cá, lá fora,
na distancia singela de um convite.
E a certeza que isso não lhe existe,
os felizes não enxergam quem descora.


E a janela lhe mostra os apartamentos,
com suas luzes contendo tantas vidas,
que ignoram seu triste sentimento,
que ignoram suas travas e feridas.

E quem sabe, seu corpo se cair,
vai acender as janelas, vai mostrar
que os culpados são eles, vão sentir
num momento a verdade atropelar...

Mas ao certo, ninguém vai entender,
se morrer não irá ter nenhuma ajuda,
e nenhuma janela vai acender...
Esse grito os problemas não muda.

Numa noite nublada de domingo
e um passado remoto se esvaindo
de meu mundo... The Cure... Vá tocando,
nostalgia eu de um mundo se acabando...

Noite de domingo, namorada foi-se embora, The Cure, computador, melancolia... Me faz falta a internet...

Início e fim tirados de um livro...




Início e fim tirados de um livro...

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Romances se esvaem e a vida perdura,
memórias que ficam. Rostos são antes
um velho sabor na boca, distantes...

Ai flor do céu, oh pequena figura,
pequeno botão de rosa, fulguras
o gozo de um mundo novo e gigante,
sentidos vivos, fortes e vibrantes.

Mas tudo enferruja e perde-se o alento,
nos largam sermões, traumas e os problemas...
E a rosa envelhece e ela esmigalha.

Mas nascem os frutos desses momentos
e mesmo que a rosa não seja a mesma
perde-se a vida, ganha-se a batalha.

Tirado do livro Dom Casmurro...
De Machado de Assis

A vida é bela



A vida é bela, feito uma menina com transtornos bipolares. Ela é bela!
E os sentimentos enfim é o que me mantém vivo; Caper Diem ou algo assim. As pessoas me evitam e o mundo gira de costas pra mim, mas eu tenho um mundo todo girando na minha cabeça! E eu posso confrontá-lo com isso, eu posso fazer guerra...
Talvez isso seja esquizophrenia, talvez seja fantasia do DDa. Talvez seja um mundo que há bem no fundo de minha cabeça, e nem pareça que eu seja um Deus, talvez seja.
Eu só sei que meus sentidos são feitos no sentido de suprir esse universo, enchendo-o. Fazendo o disperso garoto cumprir um fado, talvez todos sejam assim e a mim só resta o lado dos derrotados, pois eu tenho tudo e só tenho um papel. Sei fazer um Rondel, sei por um soneto e nada mais...

Alegoria

Alegoria

Eu sou o sopro salino e a ferrugem
como a fome de cracas no abismo.
Um passado perdido em cinismo
pelas bocas que acalmam e iludem.

Como os traumas que cortam, confundem
as memórias em outro realismo,
eu embaralho as cartas, lastimo
cicatrizes que os loucos se nutrem.

Minhas vestes envolvem os loucos
que se perdem em nossos caminhos,
os que ficaram e os “qualquer uns”.

Velo o idoso que varre-se aos poucos
e sou os versos que esvaem-se sozinhos
para os mortos em valas comuns.

Aspiração

Infância perdida n’outra cidade,
menino de rua lá n’outras verdades
de vidas que foram pra ser e nem são.
As vidas possíveis, que nunca virão.

Meu mundo distante n’outras paisagens,
que nunca terei ou verei seus endereços
dos outros de mim em outras roupagens,
os outros de mim que tanto careço.

E findo meu mundo enfim em Desterro,
sem porto nem barco que leve pro Lar
que nem mais existe, uns outros ‘stão lá,
é casa de outros de um mundo terreno.

Um mundo perdido n’outra cidade,
de estranhos rumos e outras verdades
de histórias, destinos de rumos que são
perdidos pra sempre e sei, nunca virão.

E o anelo de ver as outras paisagens
e as vidas de velhos vãos endereços,
os rostos largados, novas roupagens
de rumos que tanto quero e careço.

Mas vejo meu mundo cá no Desterro,
mas inda pergunto-me por meu Lar,
a terra da eterna distancia está lá
tão longe num mar não mais terreno.


Não sei de quando é, mas é provavelmente antigo... Um poema esquecido.

Tempos de faculdades, provas...
Até que escrevi um soneto, mas não ficou bom....

Barca dos Loucos

Barca dos Loucos

Perdi-me nos sonhos embalsamados
e a barba crescendo em meu rosto pálido
só mostra que o tempo findou na treva
perdido, por fim, na mudez de um anjo.

E a morte me espreita e seus lábios pálidos
sibilam futuros de perda e treva.
Mas doce e bonita, tal qual um anjo
sugere-me o alento embalsamado.

E vejo que tudo findou na treva
enquanto sonhava, voavam anjos
na noite de tez embalsamada!
Nos olhos perdidos de um homem pálido!

Meus olhos de desdem veem de um anjo;
perdi-me nos sonhos embalsamados,
tornei-me cárcere! Só mais um pálido
mofando na barca enfim, nas trevas!

Responsabilidades

link

É responsabilidade:
A guarda de tua memória
de um tempo em que enfim perdes-te
seguindo os ventos da história.

É responsabilidade:
Alguém voltar o caminho
que todos partem, eu volto
contando a história sozinho.

É responsabilidade:
Guardar o fogo caseiro,
p’ra quem passar de viagem
p’ra este fim derradeiro.

É responsabilidade:
Enquanto as naus vão partindo
de um mundo inerte e deserto,
alguém ficar assistindo.

Pois neste mundo de estradas,
alguém vai ter por sua sina:
fechar as portas do palco,
luz apagar, fazer faxina...

Maré II


Ocean to Ocean
by ~SorroW-Tiger

Maré II

Eu senti ela no gelo em meus ossos,
trincando cada um,
enquanto, sob um gesto
naus e naus e naus
partiam sobre cantos de sereias.
Com gosto de sal d'além mar,
garotos emergiam homens,
iconoclastas e patricidas.
E eu senti ela no gelo em meus ossos,
movendo torrentes,
para seu colo,
e em seus olhos
os siameses:
fuga e o desejo.


Marcel Anngelo

sábado, 27 de abril de 2013

Anjos




Urban angels...
by ~GrandeOmbre

Anjos


Anjos dançam na calçada,
entre trapos indigentes.
Entre jogos e sujeiras,
tão contentes.

Versos feitos nas infâncias
feito berros de conjuro,
entre fetos acabados
em breu impuro.

Molham vultos retorcidos,
restos velhos os pivetes,
arranhando suas memórias
pelo Letes.

Poças mornas, se dissolvem
pela água nesse asfalto,
é só abismo se se olha
lá do alto.

E bem dançam nas calçadas,
como pássaros sedentos,
ladainhas pro infinito,
firmamento.

Onde eles se constringem,
num esforço natural,
conservando suas memórias
no jornal.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Maré III


Ocean Rain by ~plutonicfluf


Maré III


Um homem velho,
serena
em sonhos dentro de casa, em
ondas da madrugada.


Marcel Angelo