segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Noção




Noção

Eu sei por que sei e por que sei,
eu sei que o destino me guarda
um breve momento que hei
de sempre lembrar e mais nada.

Eu sei por que sei, por que sei!
Que a vida me escreve um romance
e em cada segundo eu sonhei,
em cada migalha de chance.

E o mundo que bem desejei,
se encontra pregado cá em frente!
Eu sei por que sei! Por que sei!
Que nada me vêm de presente.

Mas sei que me aguardam latentes
momentos vindouros, e sei
que sempre serão diferentes,
e sei por que sei, pois eu sei...

que sei por que sei, por que sei!
Que tudo será no imprevisto
igual no que tanto sonhei,
um álbum enfim, jamais visto.

E sei que não sei não, não sei
lidar co’a fortuna da vida
mas sei que em um dia me encontrei
co’a luz me infiltrando a retina.

E soube que esse é o livro
que só, cá sozinho lerei
sozinho no mundo e tão vivo,
eu sei, só eu sei e, só eu sei.

Davi Machado, muito obrigado, logo dou corrente a este selo.
Infelismente estou sem tempo...

Sobre uma crítica que recebi sobre meu trabalho


Sobre a minha poesia e umas críticas que recebi:

Pois bem, eu escrevo em maioria em verso clássico e por isso eu sou conservador, não é? Sou conservador porque não imito essa maioria. Só que eu me julgo livre, eu julgo meu verso livre para escrever como eu quiser.

Gostaria de saber se Olavo Bilac, por exemplo, se julgava preso, acho que não, preso ele se sentiria se fosse obrigado a escrever em verso livre. Pois mais que isso para muitos possa parecer assustador.

Sim eu admito que eu goste de alguns poetas parnasianos tanto quanto gosto de muitos modernos, e isso logo, faz de mim um “conservador”, porque eu fui ler escritores que hoje não se lêem mais por um motivo idiota. Para mim literatura boa é literatura boa não importa a data.

Fui olhado torto porque quis recitar um poema de Cruz e Souza em um recital, no final, por que ele não é um desses clássicos (me refiro clássico aos poetas da semana da arte moderna e outros posteriores,) acredito eu. Do mesmo tipo de poetrarcos da época parnasa, de tantos aqueles que versejavam sem talento, e não aceitavam outra forma de poesia, eu vejo da mesma forma esses poetas-auto-ajuda de hoje.

Esse conceito de que arte não se aprende, ou de que é um artista menor aquele que treina ou estuda, esse tipo de conceito me enoja, pois na arte popular se treina e se estuda também. Considero então como acadêmico metido o cordelista, o repentista e tantos outros? Porque a poesia popular tem metro? Porque eles não são todos versos livre falando sobre o próprio ego? PORQUE A POESIA POPULAR NÂO È ASSIM!!! Esse grupo de pessoas que acham que não se pode criticar e aceitar e que se tem de engolir tudo porque é arte e arte não se entende, sim, esse ai não é popular, é “escritor de panelinha”.

Manuel Bandeira, Cabral, Mario Quintana e Drummond por exemplo são poetas livres porque ele tiveram tanto consciência quanto aprendizado de outras formas de versos e eles estudaram para poder enfim fazer poesia, tem muitos poemas com metro perfeito em Drummond e justamente por ele saber o que fazer e não fazer é que os poemas “livres” dele são BONS! E eles têm um sentimentalismo maduro, assim como o parnaso quis ter em “resposta “ao ultra-romantismo. Por isso esses “modernos” são lidos, diferente de uma quantidade absurda de poetas livres de hoje em dia e da quantidade de poetas do período parnasiano.

Para mim a diferença de Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza, Manuel Bandeira, Araújo Figueredo, Mario Quintana, Antero de Quental, Alvarez de Azevedo, Boca do Inferno e muitos outros, para mim a diferença destes para os tantos outros que existiram por aí é que eles eram livres, pois a liberdade está na diferença, e para mim o verso livre é aquele que sai como o escritor quer, e não como a maioria aceita. Não importa se ele seja aceito ou não, se ele tenha metro ou não, basta que ele se destaque, que o poeta tenha compromisso com sigo mesmo e não com os outros. Basta que ele seja singular.

Sei que isso possa parecer um tanto “conservador” ou “retrógado”, pois assim é que é chamado tudo aquilo que vai contra ao que os conservadores pregam, tudo aquilo que vai contra á linha de pensamento atual.

Eu mando tudo isso ao inferno,
e boa noite.

Verso Livre


O meu verso é livre,
do meu jeito recito,
e enfim o manuscrito,
no meu mundo convive.

O meu verso é solto,
e no metro se forma
e se o quero sem norma
num compasso me envolto.
Pois o faço sem tino,
sem esforço nem rima
e se rima? É a sina,
é sonoro o destino.

Pois meu verso é livre,
e bem voa como quero,
e nem sai como espero
e assim o verso vive...

E se tanto me obrigam
a escrever d’outro jeito,
vou estufando meu peito
se mi balda abominam.

Pois sou livre e meu verso
do meu jeito conservo,
vou escrever como quero
e acabou lero-lero!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Rimas Repetidas


Rimas Repetidas

Em um mar sem estrelas,
em um céu sem espuma
em seu prédio tu apenas
se tornou luz nenhuma.

E no breu da bebida
e no gás, gasolina
a fuligem, tua vida
se perdeu já menina.

Na janela, do prédio
que levou tanta gente:
operários, suicidas
que choviam tão frequentes.

Na janela, no tédio
duma vida de escapes
não tem rumo que escape
do solvente e seu assédio.

Éres dama em castelo,
a fantasma, já podre
não tem príncipe e anelo
pr’outra vida, nem houve.

E n’um mar sem estrelas,
e n’um céu sem espuma
e n’um prédio ela apenas
se tornou luz nenhuma!

domingo, 6 de setembro de 2009

Tormenta


Tormenta

As bruxas estão voando,
e trazem nos seus impulsos
as modas dos outros fusos
de um mundo nos penetrando.

As bruxas estão chegando,
co’as modas e novas drogas,
que trazem no contrabando,
que trazem das novas modas.

No alto lá vão planando,
são sombras no alto e os prédios
são ninhos de seus assédios
ás vidas que vão sugando.

São vidas se transformando,
meninas que são estrangeiras
das terras natais, sereias
do vício que vem chegando.

E as bruxas estão voando,
as bruxas estão no ar,
as bruxas por apagar
o tempo que vai passando.

São mundos se deformando,
num mar que de asfalto afoga
e o fogo da vida logra,
são faces que vão mofando...

As bruxas estão voando,
as mães do pecado e o vício.
Acima do frio bulício,
as bruxas estão voando...

Othon Gama D'eça e Araújo Figueredo


Algo aqui: Othon D’eça, escritor importantíssimo de Santa Catarina, textos retirados do livro “Cinza e Bruma e Poemas Dispersos”; Araújo Figueredo, poeta do qual muito já escrevi sobre, de poesia e vida muito além do natural.

Essa não é uma Desterro que inventei ou que eu quero que seja, é uma Desterro presente na memória da cidade, uma imagem contrária á cidade onde as loiras do interior vem tomar sol para assim serem parte da propaganda de turismo. (Não tenho nada contra o interior de Santa Catarina deixo claro). Mas é que não podemos viver numa cidade que se vê de acordo com os preconceitos que recebe, e sim numa cidade que se vê de acordo com um passado e um presente, e não uma maquilagem neo-liberalista de gente que tenta esconder e apagar para criar um ontem que jamais existiu, que melhor funcione para circular capital.

Por mais que as pessoas pensem ser fascismo divulgar uma imagem contrária ao “PARAÌSO TROPICAL LOIRO”, ou, a ”FLORIPA: CIDADE DA MACONHA E DO SOL E SURF”, eu prefiro tentar passar a Desterro do Mar e da Saudade, e a Desterro das Bruxas e das Brumas. Desterro é uma cidade que poderia ser outra, mas na verdade sofre um verdadeiro etnocídio, um culturicídio ou seja lá que raios, causado por um governo racista que quer tornar aqui uma Maiami, que considera o artista como estorvo do estado.

Peço desculpas por não falar aqui de Mário Quintana e Drummond e de todos os poetas obrigatórios, por mais que eu os leia, prefiro falar, por mais absurdo que seja, de poetas que simplesmente não existem dentro do coletivo, e que merecem sim, um pouco de divulgação, porque são bons, e só não são conhecidos hoje porque simplesmente escreveram e deixaram aquilo que tanto nos perturba nesse admirável mundo novo, eles no deixaram uma identidade.


Caso eu tenha ofendido alguém, espero que me diga, poste aqui um comentário falando o porquê.

Bom acho que é só isso,
Abraços, Marcel Angelo.


Desterro, Alma do Mar e da Saudade...
A Laércio Caldeira

Desterro é o poema de pedra da tranqüilidade...
Nos lentos crepúsculos de agonias cinzentas, parece um lavor antigo num retábulo de opala...
E, sobre a sombra do céu, a sua sombra nas águas, recorda um fresco flamengo num muro de porcelana...
Ao longo do seu cais onde os saveiros, inquietos, suplicando bonança, erguem para Deus os braços vincados pelas driças, a tristeza da Penumbra e da Umidade estira-se como um grande gemido de Melancolia...
Desterro tem a expressão de Santa Tereza de Jesus!...
Pelas manhãs engessadas do Inverno, quando as brumas encanecem as Horas e fazem pensar na doçura sem orlas da Renúncia, ela ensimesma-se num Sonho de vitral e fica absorta, de joelhos, enevoadamente a relembrar...
Então, para alegrá-la, as muretas ondulam, em versos de guipure, ao ritmo do vento, as Canções que vieram rimando do mar alto!...
E as músicas dos sinos evadem-se dos cárceres de bronze, e palpitam entre as neblinas, e elargem-se vibrantes, sobre os telhados e sobre a paisagem, em grandes enciclias brancas e sonoras!...
No entanto é vã essa alegria das águas e das torres...
Desterro é a Tristeza que parou à beira do mar!...
Do Mar sempre enamorado de sua Sombra... vaga... contemplativa... feita das sete dores da Saudade...

Minha Ilha

Bendita sejas pelo tempo afora,
Ilha do meu Amor! Meu verde altar,
Com a contrição de quem vai comungar.

Em ti exalto a imagem de meu lar;
O casarão em que a saudade vela,
A contemplar além, beijando o mar,
A silhueta azul do Cambirela.

E canto as formas túmidas, redondas,
Dos teus morros bordados de esplendores!
A cidade que sonha, ouvindo as ondas,
E os meus velhos amigos pescadores!

Ilha do meu Amor! Bendita sejas,
No que tu mostras e no que sugeres!
Na serena postura das igrejas,
E nos olhos castanhos das mulheres!

E bendito o teu céu cor de safira
e o teu agreste corpo de esmeralda!
E o mar, que em torno a ti de amor suspira,
E lábaros d’espumas ao sol desfralda!

E bendito o teu povo de praieiros,
Que constrói ele mesmo o seu casal;
E fala a velha língua dos troveiros,
Como falava o avô de Portugal!

Cerro os olhos e vejo na lembrança,
O que tu tens de belo e de lendário:
Um regaço de praia onde um barco descansa,
Sob as ramas de um cedro solitário!

Ou então uma fonte, um caminho, um telhado,
Docemente a surgir nos braços do arvoredo.
E refolhos de mato abobadado,
Com chilreios, e sombra, e perfume, e segredo!

OFERENDA

Ilha do meu Amor! Por ti palpita
O mais apaixonado coração!
Tu és a minha verde Sulamita,
A luz do meu olhar e a minha devoção!

(“República” – 09/12/1923)

A Lua e a Ponte

Dorme a cidade junto ao mar tranqüilo,
Onde nadam reflexos em cardumes
E ondeiam sombras efêmeras e estranhas.
Em torno oscilam os longos fios de lumes
Como os festões de um vago peristilo.

É tarde. A noite busca o abrigo das montanhas;
E o vento arisco espalha e amadurece
As maresias verdes do canal.

Passa um grande barco de altas vergas em cruz.

E enorme, redonda, a lua cheia parece,
Entre as duas torres da Ponte Hercílio Luz,
Um luminoso gongo de cristal.
(“O Estado” – 09/07/19577)

Misteriosa

A Tito Carvalho

Ela era esquia e fina, e parecia
Um vaso italiano de cristal.
Toda a gente, na rua, quando a via,
Gostava do seu vulto original.

Era a graça, o perfume que inebria
Dum modo estranho e sobrenatural.
E essa gente, encantada, nem sabia
Se no mundo nascera uma outra igual!

- Donde veio, diziam, flor tão rara?
Qual canto da terra? Que cidade
O seu berço de plumas embalara?

Mas ninguém nunca soube a verdade:
Que essa flor de volúpia desatara
Num humilde casebre da Trindade!

(“República – 27/09/1923)

Trindade é um bairro daqui...



Araújo Figueredo

Em redor da fogueira

Rodam na cana verde as filhas da Vicência,
Vindas do Ribeirão, das últimas Costeiras...
Belas almas febris, de rica florescência,
De seios rebentando em botões de roseiras.

Do diamantino luar na espiritual diluência,
Rodam como visões, graciosas e ligeiras,
Rondam de par em par, em célere cadência,
Em vertigem feliz, alegres e brejeiras.

Fêz –se então um rumor de remos nos toletes...
É que chegam do mar uns rapazes. Foguetes
Esfuziam no espaço... E vozeiam cantigas.

No terreiro do engenho a fogueira crepita...
E, ao vermelho clarão que, em derredor, se agita,
Mais feiticeiras são, agora, as raparigas.



Ilusão

Sopra rijo o nordeste. Anselmo vem à popa
De um leve batelão. Vem, contente, a cantar...
Nem se lembra que está sobre as ondas do mar:
E, destemido, d'água o largo pano ensopa.

A leve embarcação embaraços não topa,
Metida a quilha ao vento... É um pássaro a voar...
Rumo da praia irá, num seio descansar,
De bôjo para cima, embutido de estôpa.

Mas , junto ao Cambirela, onde há um precipício,
Que a tanta gente dá o eterno sacrifício
Da morte, ei-la emborcada, a leve embarcação.

E nunca mais ninguém viu o pobre Anselmo:
Menos quem o tanto amou, e, na luz do santelmo,
Parece vê-lo sempre... E crê nessa ilusão!

Posteriormente vou procurar por Oscar Rosas, vou postar uns poemas de Rodrigo de Haro e tentar achar um bom material sobre o período Ultra Romântico aqui da Ilha.