segunda-feira, 1 de junho de 2009

Desterro, Enxame, "Para uma Nata" e Contemporaneidade


Desterro

O Desterro não é cidade
é um estado d'uma existência
purgatório sem consciência,
de fantástica realidade.

Exilados e naufragados
em lestadas embarcados,
peregrinos nas ilusões
pelas sinas de gerações.

Ilha de Santa Catarina
lá perdida em Santa Cruz
onde o asfalto não reduz
lendas em livros... Triste sina...

Que Feitiço desconhecido
em bruxólica de ironia
te levou numa ventania
para mundo tão esquecido?

Onde pesco suas memórias?
Os arquivos engavetados
foram todos remoldados
para novas velhas histórias!

Os anfíbios que se lembram
do caminho deste mundo
foram muitos para o fundo
dos abismos, se perderam...

E nas praias eu fico esperando
enxergar algum boitatá
e no rastro, num além mar
desse horizonte acabe achando.

No transato vivo e presente
em fadórica realidade
tráz da lua, lá tem a cidade
a Desterro de antigamente.


Para uma Nata


Os intelectuais tão mentirosos,
usam de meias verdades nos sapatos,
saltos e plataformas, falsos fatos,
prosas bem lustradas que reluzem,
mas esses “gentlemêns” tão presunçosos,
não passam de uns metidos a avestruzes...

"Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,

Quem têm elas, que assim nos endoidecem,
Têm o que mais as almas apetecem...
Têm o aroma irritante e acre do vício!"
Antero de Quental

Enxame

Nas tempestades as bruxas altivagas
rasgam o céu vão nas nuvens legionárias
elas são aves de breu e de perdição
fatais delícias do inferno missionárias.

Nas tempestades devastam gerações
vão derrubando famílias aos abismos.
Moças, meninas de inveja e de apatia,
rosas de asfalto de podre mecanismo.

Nas tempestades, rasantes pelos nimbos,
vão se espalhando por entre multidões,
formas de vícios, num trago um dissabor,
degenerando emoções em ilusões.

Nas tempestades, nas noites tais criaturas
vão se espalhando num víruz formidável,
elas são tantas, são filhas infelizes
de nossos frutos, óh "mundo admirável".
óh "Admirável Mundo Novo".


Contemporaneidade


Nessas noites frias de Desterro
tantas almas soltas ao léu
no concreto queimam no fel
no torpor de vidas de ferro.

Todas fracas partem ao inferno
na cultura asfáltica e os réus
nesse mundo em tolo escarcéu
se dissolvem nunca despertos.

No Desterro as bruxas 'stão perto
com portões de ferro e rancor
num inferno denso e desperto.

Nesse mundo insano vivemos...
salvai nossas almas Senhor!
Não sabemos o que fazemos.

Acho que vou receber uma crítica ruím a respeito desses poemas, Desterro é o nome antigo de minha cidade, hoje ela é Florianópolis, em homenagem á um homem que mandou matar muita gente aqui: Floriano Peixoto. Ainda bem que foi com o primeiro nome, eu não gostaria de morar numa cidade onde o nome é Peixotópolis. A situação que eu vejo aqui não é de uma cidade de sol e praia, "típica" ilha tropical abaixo do trópico de Capricórnio. Tem algo muito ruim aqui... Além da lavagem cultural é claro, situação densa...
O mundo não anda bem, acho que vou descer no mapa.

Um comentário:

  1. Me amarrei nos poemas, especialmente no "Para uma nata"

    Muito bom, citar Antero com responsabilidade, isso vc fez bem!

    abraços!

    ResponderExcluir