quarta-feira, 30 de março de 2022
Sou resto - Triolé
domingo, 20 de março de 2022
Rondó
Parece um meio óbvio e infantil, mas eu escrevi ele quando estava bêbado e não me lembro como...
Rondó
Um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
Mas eu sei rimar bebendo
como quem dissolve um sonho
do real e se perdendo
eu componho em plena dor.
O real se vê na angústia
na palavra suprimida
é a verdade que se escuta
nesta a vida a decompor.
Um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
É repetindo a loucura
se contorcendo e fugindo
da beleza que perdura
da mentira e no torpor.
A beleza é a mentira
um espelho que seduz.
É costura que retira
o puz que nos verte a cor.
Um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
Beleza é mal no mundo,
que bajula e que distorce
torturando o mundo imundo
que contorce em pavor.
Reais são as formas impuras
de um cadáver apodrecido,
o ideal mata e tortura,
no enraivecido rancor.
Um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
Se sustenta a rima o logro
de se mentir na estrutura
encadeando no jogo
a procura dum valor.
O rondó cresce sozinho
como um cancer se espalha.
O parasita no ninho,
um canalha com louvor.
Um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
O ritmo que nos prende
na repetição e loucura,
é a realidade que se sente
na candura do terror.
Mas a mais bela crueldade
é saber que por compor
vou enxumar a realidade
pelo horror e para o horror.
E um rondó se faz rimando
e teimando em se perder
no crescer da rima o verso
é perverso de compor.
domingo, 6 de março de 2022
Sacrifício - Rondó
corta o fumo o véu sem cor,
estes rastros que procuro.
sexta-feira, 4 de março de 2022
quinta-feira, 3 de março de 2022
Rondó Marinho
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.
Os afogados na raia,
estão esperando que os vivos
joguem as redes na praia,
serem cativos sem mal.
Sentirem estarem vivos
por mais que a mentira doa
por mais que seja aflitivo
já soa como um bom final.
Tirei meu rondó do mar,
para dar voz ao morto
ao absorto esquecimento
e o sofrimento do sal.
As redes nesta praia brilham
iguais a fantasmas queridos
pescadores que partiram
os perdidos, sem sinal.
Tempestades no horizonte
clareando o mar escuro
vão tornando azul a fronte
de um conjuro divinal.
Tirei meu rondó do mar,
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.
Se os vivos estão festejando
os mortos choram de inveja
o mundo está fervilhando
troveja tal carnaval.
No carnaval se permite
a liberdade da morte,
das regras tudo se omite
na norte de ser banal.
Tirei meu rondó do mar,
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.
Morre na praia a liberdade
de fugir de um mundo frio,
pois é cruel a verdade
como um brio artificial.
O mundo é limiar
de tudo que não seria
tudo morre sem vingar
na poesia em tom infernal.
Tirei meu rondó do mar,
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.
Balanço do mar é eterno
como as juras de paixão
o memento sempiterno
da ilusão fundamental.
Morre no mar esperanças
como morrem afogadas
as memórias das infâncias,
despregadas do varal...
Tirei meu rondó do mar,
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.
E vou arrancando da orla
os afogados, os restos
tal nácar das conchas mortas,
brilho infesto em fé irreal.
E como um louco prostrado
ao fluxo intenso da dor
de esquecer-se e abandonado!
Neste horror irracional...
Tirei meu rondó do mar,
para dar a voz ao morto
ao absorto esquecimento,
e o sofrimento desse sal.