Peter Pan é uma peça que atravessa seu tempo. Reverbera como uma teimosia infantil enquanto
vislumbra futuros possíveis nas janelas dos quartos alheios. Sua paixão voyeur em
observar vidas por ele inatingíveis é o sentimento de auto piedade. Auto
piedade, é aquilo que verte e movimenta o corpo eterno daquele que não sabe
brincar o jogo sem estar com o domínio das regras. Tudo é Pan! Peter TUDO, tudo
é ele na terra do nunca. Em uma ilha onde tudo gira em torno dele, ele é a
criança que tem a bola. Olhando janelas
das crianças que crescem, observa , fora do circulo, desejando compreender a
brincadeira. Desejoso da sensação que o orgulho lhe nega, pois Peter Pan é
criança... Uma criança sedutora como a infância, que estende a mão e promete te
alienar de seu mundo. O orgulho impede
seu mundo simples de fragmentar-se, quando ele aprender a dançar no ritmo da dança
Peter sairá da ilha. Mas ele é orgulho, ele é auto piedade, ele é uma ilha.
Peter Pan não é Pan e só não o é enquanto for Peter, pois Peter é orgulho
também, e não perdoa quando o seu berço fora levado pelo vento para o
Parquinho. Mas Peter dança em sua ilha,
se enchendo de si, onde tudo é ele para ele, ele é o maravilhoso e pode
entregar a receita para que se possa fugir de si nele, pois ele é tudo. Peter É
e é a ilha seu parquinho e nela ficou. Mas por mais que ele dance, por mais que ele
recalque a ilha com seus pés, por mais que ele
grite, Peter observa Wendy crescer. Fascinado com tudo aquilo que ela se
torna, Wendy cresce e se torna distante, Peter se torna memória para Wendy e um
fantasma que torna ao seu quarto. O psicopompo já sem significado é outorgado
para sua filha como um brinquedo antigo. Pois nós não podemos mais brincar.
Wendy olha sua filha brincar como Peter a observa na janela de seu quarto, o
desejo de sentir aquilo que não se pode sentir, a dança já sem a música pode-se
imitar os paços mas não dançar. Essa paixão voyeur se contenta na empatia, na
saudade, Wendy outorga Peter á sua filha para manter um laço distanciado com o
passado. Pois Wendy crescera e crescer é
ceder, entrar na roda, sair da Ilha. Sair de sí.
domingo, 13 de outubro de 2019
Soneto
Soneto
“Escrevi uma carta e a deixei por ai
desfazendo na
água d'algum momento,
com mensagens
expostas no relento
de mortalha
brasões em chãos que varri.
São palavras não
ditas, fragmentos
de lembranças
morrendo bem aqui
é um lugar, as
memórias que exauri
formam frases
composta no tormento.
É mortalha e Ulisses
perdeu o destino
como a culpa em
Morfeu, no desatino
de, quem sabe? Querer
comemorar...
É papel que
pensara em preservar
o troféu da
carta morta e só,
meu silêncio
selado torna ao pó.”
domingo, 6 de outubro de 2019
Vazio
Vazio No vazio prolonga o choro mudo, desespero roto toca a tosse como a cria disforme que contorce esperando a dó d'um baque surdo. Fermentando apático e soturno, como um surto, como brio covarde corroendo a úlcera fulgura, um circense inferno sem alarde. Desespero que espelha e especula, vai parindo ratos pela casa, corroendo a cama enquanto durmo. Um silente ruído inoportuno, de quem vela um morto sob a asa, simulacro de mim que cá ulula.
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