É a liberdade no gozo e na dor,
esse desejo suicida de um cárcere:
Vê liberdade no fim e na morte,
de todo'os outros, na fuga e no término
de toda a arte, de nós, do trabalho.
Ah um gozar o final sem ser mártir
pela vontade de dar e criar,
as novas formas, á um mundo tão inóspito,
Hefesto e Vênus conduzem o jogo
sexo e trabalho em suor se confundem.
ambos um esforço em gozar no final.
terça-feira, 20 de abril de 2021
Hefesto e Venus
Soneto
Um soneto é caixa de Pandora,
traz os monstros, liberta o infortúnio
numa forma pequena de interlúnio
que em horror e sublime se deflora.
Entre forma e disforme algum conluio
que a violência do ritmo se explora,
toca a dor disforme que devora
na demência em querer algum fortúnio.
É de todos os males o pior:
de gozar e compor na harmonia,
de cantar entre caos e temperança.
E na certa medida se compor,
intrincado desenho de poesia
num capricho teimoso de criança.
terça-feira, 13 de abril de 2021
Rancor
Eu sinto o sal na saliva e nas lágrimas,
e engulo o mal, como devo engolir
o choro e escondo o meu rosto na vala
de medos rotos que tento polir.
Quero chorar, mas jamais tive prática
e falta-me ar, e a linguagem esqueci
tal se'eu esquece-se meu nome na mala
extraviada perde-se ao fugir.
Me falta algo, me falta meu mundo,
e estranho, galgo, vago e vagamundo
não vou chorar sem mar, sem ter o sal.
Perdi meu laço, tal perde-se o nome,
dispar do mundo, sou morto sem fome
muda estátua de cinzas, eu sou o mal.