sábado, 19 de abril de 2014

Lua



Lua

Ah algumas perguntas que ela não responde.
Mas o silêncio responde por ela.
Este seco insensível
guarda.
Segredos de mundos adversos
refletidos sobre minha imagem
desenhada a giz de cera,
aulas na quarta-série.

Só que ela abre antigas portas
d'antes de entrarmos na brincadeira
de nomear o mundo e as coisas.
E corríamos nus, nós dois, sem medo
do sentido oculto.

Mas ah algumas perguntas que ela não responde,
e o desejo apenas transparece
nostalgia, anelo licantropo.
De volta ao colo materno,
sufocar-se.

Latidos assustam, no caminho
que os homens abandonaram.
E quando nos separávamos,
eu submergi

só.

Ler quando souber a hora.




Ler quando souber a hora.


No jardim as feras se libertam,
em máscaras feitas de mármore branco,
liberdade, pássaros na gaiola
cantam luz na sombra e na agonia.

Ela em cabelos de cordas, serpentes,
redes de pesca e barcos naufragando. Pousa deitada nas pedras nuas nua em uma caverna.
É um âmago, um elo com as mais anciãs verdades presentes no mundo dos homens.
Nos mais escuros abismos dos oceanos sereias cantam os mares azuis e oceanos cravejados por mim...
Era uma rainha sedutora.
Ulisses, o que à na lenda de Ulisses?

Verdade conciliadora em grades de ferro bordadas (aquelas faróis, três irmãs e o segredo amargo dos ciclos da lua e do inferno) de cadeados abrirão amargos caminhos (segredos trancados frangalhos mutilados estraçalhados por farpas de ferro) para a marcada verdade do início dos tempos modernos, para a inércia dos tempos para os turbilhões do mar e da tempestade. Há um erro nesse poema.

08/02/2011

sexta-feira, 4 de abril de 2014

25 anos.




25 anos daqui a pouco e ainda continuo perdendo moedas no forro do meu casaco. Um dia vou descobrir como elas vão parar lá. Tenho este casaco verde dês de algum lugar entre os 17 anos. E quando este se tornou inutilizável resolvi guardá-lo como relíquia. Quem sabe, trazê-lo de volta a vida este inverno, brincar um pouco com meu antigo eu.
Abro o armário, tiro ele e dou uma olhada, pude notar além além de uns ovinhos de barata aquela marca de batom que nunca saiu. Me lembro do perfume, Humor e do humor instável da dona, toda aquela instabilidade que me envolvia como um barco na borrasca e depois uma calmaria entre mordidas e beijos de cera quente. Foram 3 anos tempestuosos, deliciosos ou não, onde aprendi a manter minha calma, como uma âncora teimosa.
Mas voltando ao caso do casaco, vasculhando em seus bolsos acho pequenos desenhos com caneta nanquim, pequenos retalhos de mundo que um dia já projetei, fazendo parte de uma estética que me agraciava uma certa aceitação, entrando como alienígena numa nostalgia esquizofrênica sobre os anos 80, numa projeção, como de quem viveu embrenhado nas reminiscências artísticas que educaram as crianças nas décadas seguintes, antes porém, de Tim Burton virar moda. São papeizinhos com olhares em desalento. Poeminhas um tanto problemáticos de quem a murros em ponta de faca procurava aceitar este mundo, amadurecer.
Versos, sonetos e prosas que hoje olho com certo distanciamento, aquele imaturo pouco conseguia imaginar o que lhe esperava, mas eu e ele ainda temos certos tormentos em comum. Músicas e velhos temas que sempre lhe tocam, num fascínio pela vida sendo contido no frio na barriga.
Versos estranhos e parecidos, um desejo e um sentir-se deslocado, uma falta de tino e um ser sem noção impactado pelo deslumbramento da delicia de viver, sentindo ela esvair-se entre os dedos que se desgastam e enferrujam. Ah, o poema, o som e o sabor e o cheiro mas sobretudo a cor das palavras, os tons azuis como o céu que os olhos procuram como último símbolo vivo de liberdade! Azul de mar ou de céu, é sempre aquele em que se pode partir.
Partir e o desejo de ter um porto, criar raízes e voar, pairar entre os mundos que me geraram, na dualidade de uma nostalgia ao passado inatingível e o apego ao presente. Escutar Clube da Esquina, The Cure e Dead can Dance.
Não tem nada mais amargo que sentir o mundo se transformar e nada mais doce que sentir esta mudança. Sentir-se vivo, a roda da fortuna gira, brincamos com o destino e eu faço aniversário este domingo.