25 anos daqui a pouco e
ainda continuo perdendo moedas no forro do meu casaco. Um dia vou
descobrir como elas vão parar lá. Tenho este casaco verde dês de
algum lugar entre os 17 anos. E quando este se tornou inutilizável
resolvi guardá-lo como relíquia. Quem sabe, trazê-lo de volta a
vida este inverno, brincar um pouco com meu antigo eu.
Abro o armário, tiro
ele e dou uma olhada, pude notar além além de uns ovinhos de barata
aquela marca de batom que nunca saiu. Me lembro do perfume, Humor e
do humor instável da dona, toda aquela instabilidade que me envolvia
como um barco na borrasca e depois uma calmaria entre mordidas e
beijos de cera quente. Foram 3 anos tempestuosos, deliciosos ou não,
onde aprendi a manter minha calma, como uma âncora teimosa.
Mas voltando ao caso do
casaco, vasculhando em seus bolsos acho pequenos desenhos com caneta
nanquim, pequenos retalhos de mundo que um dia já projetei, fazendo
parte de uma estética que me agraciava uma certa aceitação,
entrando como alienígena numa nostalgia esquizofrênica sobre os
anos 80, numa projeção, como de quem viveu embrenhado nas
reminiscências artísticas que educaram as crianças nas décadas
seguintes, antes porém, de Tim Burton virar moda. São papeizinhos
com olhares em desalento. Poeminhas um tanto problemáticos de quem a
murros em ponta de faca procurava aceitar este mundo,
amadurecer.
Versos, sonetos e prosas que hoje olho com certo
distanciamento, aquele imaturo pouco conseguia imaginar o que lhe
esperava, mas eu e ele ainda temos certos tormentos em comum. Músicas
e velhos temas que sempre lhe tocam, num fascínio pela vida sendo
contido no frio na barriga.
Versos estranhos e
parecidos, um desejo e um sentir-se deslocado, uma falta de tino e um
ser sem noção impactado pelo deslumbramento da delicia de viver,
sentindo ela esvair-se entre os dedos que se desgastam e enferrujam.
Ah, o poema, o som e o sabor e o cheiro mas sobretudo a cor das
palavras, os tons azuis como o céu que os olhos procuram como último
símbolo vivo de liberdade! Azul de mar ou de céu, é sempre aquele
em que se pode partir.
Partir e o desejo de
ter um porto, criar raízes e voar, pairar entre os mundos que me
geraram, na dualidade de uma nostalgia ao passado inatingível e o
apego ao presente. Escutar Clube da Esquina, The Cure e Dead can
Dance.
Não tem nada mais
amargo que sentir o mundo se transformar e nada mais doce que
sentir esta mudança. Sentir-se vivo, a roda da fortuna gira,
brincamos com o destino e eu faço aniversário este domingo.