Eu só quero saber o que fora aquilo, meu Deus. Fora numa
quarta. Bruna e eu estávamos à dirigir no caminho para a casa de Camila. Sempre
aquelas árvores, brancas e que se contorciam, como, me pergunto, pode haver
coisas tão feias como eucaliptos.
Devo confessar que bebi, não muito, mas o suficiente para
ainda poder desviar da noiva enquanto metia o carro encima de um casamento.
Usavamos cintos de segurança, só não sei se Bruna usava... Estávamos felizes!
Eu porque a mão dela estava em minha braguilha. Céus aquilo que era mulher,
ancas que fariam qualquer homem feliz por uma eternidade e aqueles lábios
grossos, mas bem, sem distração.
Voltando ao ponto, era próximo á meia noite, o sono caiu
sobre mim e acordei no solavanco com o carro desgovernado, duas pessoas no
vidro do carro, os berros de Bruna e o sangue que não era meu.
Você pode rir por eu dormir numa hora dessas, pode rir, que
seja eu não me importo mais, só pensei na hora na merda que eu fiz. Bruna tava
em estado de choque e eu um estúpido sem reação. Pensei em dar no pé e cair
fora, mas o meu lado políticamente correto impedia que eu deixasse pessoas
morrerem na estrada por causa do meu estilo de vida. Lá estavam os dois, um
casal de cadáveres já, uma loira gelada e um coroa de terno feito à mão, bom o terno,
mas sua cabeça havia estourado embaixo do pneu...
Sentei no encostado na porta do carro procurando algum pouco
de auto-controle naquilo que eu mais amava, Bruna ali tremendo no carro... Eu
ia ter de fazer todo o trabalho sujo sozinho... Peguei o pano, um trapo
qualquer que eu tinha no carro e fui primeiro ver quem era o casal. O sem
cabeça tinha carteira, tinha dinheiro e tinha documentos, era da mesma marca
que a minha, a carteira com os mesmos cartões de bancos e o mesmo nomes nele.
Porra cara, era igual á minha carteira, tinha a porra do meu nome e tudo ali
era meu. Eu tava bêbado mas que sei o que estava dizendo, eu comparei, tudo
ali! Creio que foi o querido Jhonny Walker que me fez seguir em frente.
Hora do corpo da mulher, eu não queria mexer naquilo... Mas
tanto uma curiosidade mórbida como o medo da dúvida me motivaram. Ossos quebrados,
eu não ia dormir até aquela mórbida certeza desaparecer, eu não ia dormir de
qualquer modo mesmo. Não pude reconhecer o rosto, mas Bruna era loira mas ela
parecia mais velha, se não fosse pelos ossos quebrados e pelo sangue podia
dizer que ela tinha um quadril bonito, podia, era igual ao quadril... cara isso
me contorce o estomago eu tava tendo tesão pelo cadáver da minha mulher...
Certo, eu tinha de fazer alguma coisa, graças ao João Caminante tive forças ou
pouca ciência da situação e resolvi ter a linda idéia de jogar os cadáveres no
mato, mas o que eu faria? Eu seria preso por matar a mim mesmo? Eu tava confuso, só queria sair dali. Cara,
aquele terno era muito bom, eu sempre quis um terno assim e aquele filha da
puta usava, cara pensei em levar o terno mas era doentio demais...
Eu tava bêbado porra.
Larguei-me e larguei ela no mato, corri para o carro, Bruna
estava graças a Deus inconsciente, liguei o carro e dei partida olhando para
trás como se eles fossem correr atrás de mim.
Quando ela acordou, ela me perguntou o que houve e respondi
que foi um cervo. “Querido, estamos em Santa Catarina”, “Foi um cervo porra!
Foi a porra de um cervo cacete!”. Ela ficou assustada, controlei a respiração e
disse, “Querida, desculpa eu te amo, mas me prometa uma coisa?”, “O que?”, “Nunca
me peça para usar um terno, nunca me dê um terno feito a mão entendeu?”, “Porque
querido”, “Só me prometa isso cacete!”.