Coroa de Sal
São vinte e quatro cartas no baralho,
e o louco tampa o rosto do enforcado.
No mar a corda serve para o mastro
e a proa suicida aponta ao nefasto.
Yo quiero un mar desastro.
Arrancar da culpa o quebranto
e amarrar as mãos d'algum santo;
pendurá-las para um arranjo.
P'ra mostrar ao mundo meu ranço
que me aguarda o acalanto.
De vinte e quatro horas de trabalho
que marcam rasgos feitos pelo malho,
nas costas sal de um choro penitente
e o riso frio de um mundo descontente
vazio de um sol dormente.
Horizonte morto e gongórico
em oceano negro e mercúrico,
liberdade em tino mórbido
vai rasgando em zelo cirúrgico
o cinzentado gelo lógico.
Eu quero o zelo do mar na proa,
respinga espuma em convés e voa.
Morrer olhando pro sol atoa
cristalizando meu sal na roupa,
fazer do sal minha coroa…
Só quero morrer atoa.