2013
Nos contornos cinzas cinze indícios de vida, no alto daquelas torres de
concreto. E no entorno, a tinta finda azul, despercebida no asfalto
daquele escuro mundo infesto. Essa figura está dentro de uma janela e
fulgura em sua torre dentre milhões de torres. Era ela dentro de um
apartamento. Visões que sangram vastidões, era ela em tantas janelas,
transpondo a esperança e o sonho.
Essa dança, na falsa instancia de uma existência adulta. Existência forçada e moldada em uma função aquém, terceira e estranha.
E ela dança e se enleia em exóticos tóxicos dissolvendo-se em sua
existência. Na latência de um Nada num gozo tênue e infesto de imagens.
Engrenagens de algum sabbath oculto que permanece sobre o inferno
empesto sob o asfalto. Do alto, no interno casulo, desconhece o barulho
do mundo sob seus abrolhos. Um inferno.
O inferno fulgura como brasas após um incêndio. Forma-se presente,
frente aos olho vivos como uma escultura. E ele pulsa, nas luzes do que
fora uma cidade, ele pulsa como um parasita sobre a realidade.
E esta, se contorce.
2021
Nos contornos que tornam a torrente turva de indícios de vida, se olharmos naquelas janelas, no brilho fosfóreo, a silhueta. E no entorno a tinta finda azul, despercebida no asfalto escuro e infesto. Silhueta que vibra e pulsa dentro de uma qualquer janela, ela é ela e está onde deve estar. Era ela dentro de um apartamento. Pulsando, como uma aparição, visões que sangram vastidões e vertem sobre as gotas de chuva a memória de morte de nossas juventudes. Era ela janelas, transpondo esperança e sonho, como um peixe demônio. Essa dança, goza a instância de uma inocência distante.
E ela dança e se enleia, se dissolvendo, em gozo, desmanchando-se em reflexos em gotas de vidro.
Na insistência de desejo, fantasia-se na latência de um Nada infesto de imagens. Fantasia-se pois é feita de desejo. É cor, e cor é morte como algodão doce, sob o cheiro de tinta suaviza no desenho de seu corpo, indicia tudo e divisa no empenho de dar-se forma. Seduz, pois é memória, e induz ao medo da perda. Seduz, pois é memória, e induz ao desejo da permanência. Seduz, pois é memória, e induz à dor do consumo. No inferno que fulgura como brasas após um incêndio.
Do alto, trepidando, observa o barulho do mundo sob seus abrolhos. Na varanda de um apartamento se escora, desanda, sem alento e chora. Trepida e se descora, de tez fria. Trepida e se descobre em cores novas. Um inferno, como brasas de um incêndio, mas brilha fosfórea como memória, como desejo e como perda.
Forma-se presente, frente aos olhos vivos e pulsante como o seio de uma cidade, seduz promessas de vida, de poder viver. E pulsa parasita sobre a realidade, e esta... se contorce.