Trovas que selecionei e passei a limpo, que foram publicadas no meu blog..
O desamparo real
na agonia do travesseiro
É entupir os teus pulmões
com berros de desespero.
ºººº
A morte vem em seu tempo,
é o ver -se real co'a calma.
Morrer é ver a verdade
se não do corpo, da alma.
ºººº
Os sonhos são me impossíveis.
Impassíveis tal metais
nos dentes. Grade e aparelho
do açaimo de um incapaz.
ºººº
Os outros são tão legais,
normais, banais e mais nada...
Carregam em um segundo
infindas vidas agregadas.
ºººº
Um velho morreu no mar,
n’algum lugar dentre
as vagas,
o frio fisgou-lhe no peito
e aos peixes, dividas pagas.
ºººº
A cena se repetindo,
no tempo como algum trauma,
O Enforcado na estrada,
o sacrifício e sua alma...
ºººº
O varal cá balançando
o tempo está pra brincar,
co’as crianças no quintal
e a fé de que vão voltar...
ºººº
No mundo não tem destino,
não tem regras, nem tem dados,
no mundo não tem respostas,
nem segredos ocultados.
ºººº
O tempo rege com esmero
tudo que morre com ele
todas as perdas, as faltas
todo o vazio é só dele.
ºººº
Onde os destino convergem,
tudo teima um recomeço,
brilha um medo repentino
de ser aquilo que mereço.
ºººº
Sangue reflete o vermelho.
Sobre o sentido da cor.
Como algum cínico espelho.
Como um recado da dor.
ºººº
Este sonho acaba agora,
nada certo, tudo está errado,
quando acordo nesta cama
todo o mundo está trocado.
ºººº
A luz do teu apartamento
é como um velho farol
nas noites mais solitárias,
ou quando falta-me um sol...
ºººº
A luz do teu apartamento
é como um velho farol
nas noites mais solitárias,
ou quando falta-me um sol...
ºººº
A vida geme na forja
em golpes fortes e frios
e o rude ferro faísca,
faísca para o vazio...
ºººº
O rei no trono sentado
cercado pelos seus rostos
enxerga vago e distante
a falta de seus opostos..
ºººº
Um velho e amargo garoto,
no ódio em asco e no medo
perda por pedra cresceu
na torre virou segredo.
ºººº
Pois todo silêncio emerge
de algum latente estouro.
Silêncio de desespero
na espera num matadouro.
ºººº
E os sonhos morrem na praia
e brilham como de espuma
são como falsas promessas
carcaças de coisa alguma.
ºººº
E o Sol! Que ri lá de cima,
é um cínico psicopata,
pois mata tudo que cria
e os queimando os desidrata.
ºººº
E a luz do qual me ilumina
só mostra a nossa desgraça.
É como um sádico artista
que de tudo acha graça.
ºººº
Peter Pan, com meu passado
na Terra do Nunca vive,
em tempos descompassados,
memórias que nunca tive.
ºººº
Não tenhas medo menina,
que o tempo rege a razão,
e a cada vulto que esvai,
seu mundo volta p'ro chão.
ºººº
Coração barco a deriva,
vai nas ondas do desejo,
nas correntes de pessoas
nas tormentas que prevejo
ºººº
Vejo sonhos afogados
pelo asfalto e pelo afeto
retorcido e deformado
pelo gesto do
concreto.
ºººº
Eu vejo o mundo em céu aberto,
num gosto leve de alforria,
é ter um futuro descoberto
ao ser vivo por porfia.
ºººº
Sei que no mundo de estradas,
alguém vai ter por sua sina:
fechar as portas do palco,
luz apagar, fazer faxina..
ºººº
De toda a turba da rua,
escapas d'entre meus dedos,
quereria apenas ao lado
livrar-me destes meus medos.
ºººº
Trovões gritando no arrasto
pelas nuvens compelidos,
com a chuva que se arrama
pelo ar apodrecido.
ºººº
Pelos sapatos suspensos
sinos badalam toadas,
suicidas dançando ao vento
d’umas mentiras contadas.
ºººº
E o tempo esquece co’o tempo
os rostos outrora quentes,
calor de tempos retidos
nos rostos sobreviventes.
ºººº
Suicidas dançam ao vento,
co’as cordas, nós nos cadarços,
desamarrados sapatos,
e fadados no embaraço.