quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Veludo Preto


A juventude sonhada foi perdida nos holofotes, nos velhos outdoors, de uma vida no alto corrompida... Torres e mais torres nesta cidade que um dia já fora primogênita do mar, eu vi em meio à turba o progresso vir... Pareço um esquizofrênico com essas frases soltas, mas eu vi realmente o progresso vir a esta cidade, era uma senhora velha na verdade, como aqueles tipos de rua, gente louca pedindo esmola para quem também não tem... Não, ela era uma arrogante com roupa de veludo preto, tecido caro para um corpo em semi-putrefação, daquelas que olham para crianças brincando na rua com a mesma expressão de quem olha um bando de chimpanzés.

Certo, estou errado, talvez não fosse uma senhora, mas sim bandos e bandos dessas velhas que migram para áreas urbanas, buscando um nicho de concreto para montar seus apartamentos e depois infestarem os parques com seus filhos orgulhosos de não serem diferentes de pombos.

Os pombos geralmente comem os filhotes dos outros passarinhos, pelo que sei, aqueles que estavam ou vieram para lá sozinhos, antes que o cimento crescesse e cobrisse toda a região, regurgitando asfalto e infestando o ar com seus esporos. Diminui os pássaros, vêm os pombos e a área é valorizada no mercado imobiliário, ninhos são destruídos e os velhos moradores são obrigados a ir para as beiradas dos galhos e o destino já me contou várias vezes, de moleques que assaltavam casas que em gerações passadas pertenciam aos seu antepassados. E hoje suas funções são apenas de fornecer os escapes sintéticos para a juventude pombal.

É, eu vi o progresso vir à cidade e era uma senhora magra e pedante com o mercado imobiliário n'uma focinheira e, mudando de assunto, se podia perceber que ela tinha arte do mal olhado, como toda madame tem, as verdadeiras bruxas com seus sabás regados às melhores tendencias dos mais bem remunerados designers. E é tão comum depois que ela, O Progresso, veio à cidade, é tão comum ver, como disse um sabiá amigo meu e pastor, ver as suas amigas se deitando com o demônio, caindo depois como panfletos do alto dos prédios... Você sabe que O Progresso veio à sua cidade quando os jovens começam a se matar ou à se dissolverem por meio de solventes.

O Progresso é admirada por todos, prometendo sapatos ao sapateiro e peixes ao mar, chuva nos dias de tempestade e luz durante o dia e as pessoas lhe acenam com olhos vagos, para depois segui-la pela cidade segurando seu vestido de veludo preto, bordado pelas crianças escravizadas em algum país distante... Você sabe que O Progresso veio à sua cidade quando os velhos são internados e os jovens se esquecem de seus nomes. A juventude sonhada foi perdida nos holofotes, nos velhos outdoors, de uma vida no alto corrompida, na função da velha guerra do dominante contra o dominado, na necessidade da velha lavagem em nome do mercado imobiliário,

nas promessas fúteis e no entorpecente esquecimento.



Meio confuso...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Prédios



Estou sem acesso a internet, voltando às aulas volto a comentar nos blogs e a postar com mais frequência no blog. Queria agradecer a aqueles que visitam e principalmente a aqueles que comentam no meu blog, são vocês que mantêm ele vivo. Bom é isso...

Segue aqui um soneto de um velho e repetido tema...

Abraços.

Os prédios luzem à centenas de vidas,
rotina eterna, são lanternas de mundos.
E as águas rotas dos esgotos imundos
tem toda'as vidas em si refletidas.

E as sombras levam as crianças perdidas,
sabás de gatos, esses berros profundos
sibilam fatos de um mormaço infecundo
que leva todas as infâncias rompidas...

E os prédios luzem, são centenas de almas
no frio negrume carregando tal calma
dos tais silêncios, dos frios assassinatos.

Na noite urbana com centenas de gatos,
co'a torres d'ólhos com as suas multidões
as luzes clamam pelas suas solidões.