Rondó Sacrifício
Uma vela acesa queima
cera e teima dar-se ao tempo,
um incenso beira ao pó,
brilha só, num fundo escuro.
Olho o mundo nesta treva,
marco um risco neste chão
pra que o sonho não se atreva
dar a ilusão de um futuro.
Rogo ao sono seu silêncio
pelo oco som da noite,
o desejo cá dispenso
no açoite de um esconjuro.
Uma vela acesa queima
cera e teima dar-se ao tempo,
um incenso beira ao pó,
brilha só, num fundo escuro.
Carregando fraco olor
tal farol num mar sem astros,
corta o fumo o véu sem cor,
estes rastros que procuro.
corta o fumo o véu sem cor,
estes rastros que procuro.
Rogo ao vazio sempiterno,
dos abismos, tempestades,
que trague o desejo interno.
Vaidades em que perduro.
Uma vela acesa queima
cera e teima dar-se ao tempo,
um incenso beira ao pó,
brilha só, num fundo escuro.
Onde temo estar disperso,
baixar a guarda e deixar-me
manchar de sangue meus versos
charme do fel que supuro.
Rogo ao medo os pregos, grades,
corrimões de ferro rubro
queimem as minhas vontades,
as que cubro e as que abjuro.
Uma vela acesa queima
cera e teima dar-se ao tempo,
um incenso beira ao pó,
brilha só, num fundo escuro.
Neste quarto, nesta cela
todo o fora desfalece,
fecho todas as janelas
faço a prece meu murmuro.
Rogo ao fogo que desgasta
esse incenso, essa vela.
Que me seja a venda casta
que debela o anelo impuro.
Uma vela acesa queima
cera e teima dar-se ao tempo,
um incenso beira ao pó,
brilha só, num fundo escuro.
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