domingo, 20 de março de 2022

Rondó


Parece um meio óbvio e infantil, mas eu escrevi ele quando estava bêbado e não me lembro como...


Rondó

Um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor.


Mas eu sei rimar bebendo

como quem dissolve um sonho

do real e se perdendo

eu componho em plena dor.


O real se vê na angústia

na palavra suprimida

é a verdade que se escuta

nesta a vida a decompor.


Um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor.


É repetindo a loucura

se contorcendo e fugindo

 da beleza que perdura

da mentira e no torpor.


A beleza é a mentira

 um espelho que seduz.

É costura que retira

o puz que nos verte a cor.


Um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor.


Beleza é mal no mundo,

que bajula e que distorce

torturando o mundo imundo

que contorce em pavor.


Reais são as formas impuras

de um cadáver apodrecido,

o ideal mata e tortura,

no enraivecido rancor.


Um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor.


Se sustenta a rima o logro

de se mentir na estrutura

encadeando no jogo

a procura dum valor.


O rondó cresce sozinho

como um cancer se espalha.

O parasita no ninho,

um canalha com louvor.


Um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor.


O ritmo que nos prende

na repetição e loucura,

é a realidade que se sente

na candura do terror.


Mas a mais bela crueldade

é saber que por compor

vou enxumar a realidade

pelo horror e para o horror.


E um rondó se faz rimando

e teimando em se perder

no crescer da rima o verso

é perverso de compor. 

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