sábado, 1 de setembro de 2018

Cidade





Cidade

É tudo tão grande,
como uma estante repleta de doces para o garoto diabético.
Desejo impossível e imprescindível de fato,
comigo
sentado olhando para todas aquelas janelas,
contando as gerações que habitaram formigueiros...

Setenta, oitenta ou noventa
 eu não me importo.
 Mas me conforto com  leve incômodo
 de saber que estas décadas tácitas são de trens
ainda passam por estas paisagens,
cada vez mais distantes como um satélite se desprendendo,
caem no esquecimento assim como eu
 e toda esta torrente
 que acompanho.

Trens de emaranhados sociais
se dissolvem n’um redemoinho delicado
como café solúvel,
perigoso como nylon,
com tantas e tantas linhas paralelas
 que se esfarelam com o passar destas vidas.

Mas é tudo tão grande,
se impondo diante de mim com todas as suas janelas,
meus moinhos de vento estas luzes,
esta paisagem de meu Desterro
com cada e cada janela brilhando
com as procelas de cada vida
se dissolve
nesta paisagem,
dizem que são brasas de um incêndio,
queimam nomes que sibilam que nunca serei aquele que os consumira.
Queimando nomes como lenha para a noite,
como alguém acende  um quarto.

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