quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fluxo de consciência 1 (tentativa)



Aquele olho, presente em mim, embrenhado entre inteligíveis fluxos de memórias. Como um pequeno caroço térreo em um cérebro formidável. Esse olho, consciente à parte, como uma caixa de Pandora, como um relicário infantil, um estojo da escola.
Como um estojo escolar esquecido pela profanação do cotidiano, sem que a torpe Apatia tenha recortado para algum outro símbolo, alguma outra função banal.
Eu tenho um olho embrenhado em meu cérebro, feito de uma imagem distorcida, como um retrato de meu arquétipo.
Eu sou um arquétipo. O tolo, o desajustado, o gênio excêntrico, o outsider que sempre estampei em meu peito e costurei meus traços com estampas azuis e retalhos escolhidos a dedo. Eu sou um arquétipo, um tolo! Um desajustado! Um gênio excêntrico e um outsider! Eu rasguei o meu peito e costurei meus traços com trapos azuis e retalhos espoliados do medo.  Abri meu peito achando liberar um enxame e as vespas fizeram um ninho ali .
Mas aquele olho, como um brasão arde ainda e versa coisas em minha imagem. Um pequeno talismã frente a ferrugem em minha alma. Um pequeno ponto.
Aquele olho representa a mim, azul e azul como a infância numa tarde de domingo. Sem alivio, luzindo, transparecendo aquele que não entende a brincadeira. Azul de medo e em versos feitos de medo, azul doente e frio como quem morre de medo. Azul de mar,convulso rugindo chamando meus nomes, engolindo e regurgitando a prole de minhas sombras. De Minha Sombra e todo o rastro que deixo na maré, abandonando  e esmerando achar na orla, pedaço  de mim... pedaços de mim..
E tenho um olho… Sem pálpebras, sem iris e aberto embrenhado entre inteligíveis fluxos de memórias, retendo, pulsando imagens, encarando a mim, essa pupila negra e infinda.  Essa pupila interna, portal como um espelho prenhe no humor vítreo.

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