terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Não era um cervo




Eu só quero saber o que fora aquilo, meu Deus. Fora numa quarta. Bruna e eu estávamos à dirigir no caminho para a casa de Camila. Sempre aquelas árvores, brancas e que se contorciam, como, me pergunto, pode haver coisas tão feias como eucaliptos.
Devo confessar que bebi, não muito, mas o suficiente para ainda poder desviar da noiva enquanto metia o carro encima de um casamento. Usavamos cintos de segurança, só não sei se Bruna usava... Estávamos felizes! Eu porque a mão dela estava em minha braguilha. Céus aquilo que era mulher, ancas que fariam qualquer homem feliz por uma eternidade e aqueles lábios grossos, mas bem, sem distração.
Voltando ao ponto, era próximo á meia noite, o sono caiu sobre mim e acordei no solavanco com o carro desgovernado, duas pessoas no vidro do carro, os berros de Bruna e o sangue que não era meu.
Você pode rir por eu dormir numa hora dessas, pode rir, que seja eu não me importo mais, só pensei na hora na merda que eu fiz. Bruna tava em estado de choque e eu um estúpido sem reação. Pensei em dar no pé e cair fora, mas o meu lado políticamente correto impedia que eu deixasse pessoas morrerem na estrada por causa do meu estilo de vida. Lá estavam os dois, um casal de cadáveres já, uma loira gelada e um coroa de terno feito à mão, bom o terno, mas sua cabeça havia estourado embaixo do pneu...
Sentei no encostado na porta do carro procurando algum pouco de auto-controle naquilo que eu mais amava, Bruna ali tremendo no carro... Eu ia ter de fazer todo o trabalho sujo sozinho... Peguei o pano, um trapo qualquer que eu tinha no carro e fui primeiro ver quem era o casal. O sem cabeça tinha carteira, tinha dinheiro e tinha documentos, era da mesma marca que a minha, a carteira com os mesmos cartões de bancos e o mesmo nomes nele. Porra cara, era igual á minha carteira, tinha a porra do meu nome e tudo ali era meu. Eu tava bêbado mas que sei o que estava dizendo, eu comparei, tudo ali! Creio que foi o querido Jhonny Walker que me fez seguir em frente.
Hora do corpo da mulher, eu não queria mexer naquilo... Mas tanto uma curiosidade mórbida como o medo da dúvida me motivaram. Ossos quebrados, eu não ia dormir até aquela mórbida certeza desaparecer, eu não ia dormir de qualquer modo mesmo. Não pude reconhecer o rosto, mas Bruna era loira mas ela parecia mais velha, se não fosse pelos ossos quebrados e pelo sangue podia dizer que ela tinha um quadril bonito, podia, era igual ao quadril... cara isso me contorce o estomago eu tava tendo tesão pelo cadáver da minha mulher... Certo, eu tinha de fazer alguma coisa, graças ao João Caminante tive forças ou pouca ciência da situação e resolvi ter a linda idéia de jogar os cadáveres no mato, mas o que eu faria? Eu seria preso por matar a mim mesmo?  Eu tava confuso, só queria sair dali. Cara, aquele terno era muito bom, eu sempre quis um terno assim e aquele filha da puta usava, cara pensei em levar o terno mas era doentio demais...
Eu tava bêbado porra.
Larguei-me e larguei ela no mato, corri para o carro, Bruna estava graças a Deus inconsciente, liguei o carro e dei partida olhando para trás como se eles fossem correr atrás de mim.
Quando ela acordou, ela me perguntou o que houve e respondi que foi um cervo. “Querido, estamos em Santa Catarina”, “Foi um cervo porra! Foi a porra de um cervo cacete!”. Ela ficou assustada, controlei a respiração e disse, “Querida, desculpa eu te amo, mas me prometa uma coisa?”, “O que?”, “Nunca me peça para usar um terno, nunca me dê um terno feito a mão entendeu?”, “Porque querido”, “Só me prometa isso cacete!”.

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