domingo, 28 de abril de 2013

LEMBRANÇAS APAGADAS

LEMBRANÇAS APAGADAS

Outros, mais do que o meu, finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho e belo
Que tu, ó Lírio lânguido, singelo,
Guardaste nos teus íntimos recatos.

Que outros se lembrem dos sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e não revelo
E se recordem, com profundo anelo,
Da tua voz de siderais contatos...

Mas eu, para lembrar mortos encantos,
Rosas murchas de graças e quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor saudosa,

Tanto martírio, tanta mágoa e pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal maravilhosa!...

Cruz e Souza

Um comentário:

  1. PLUTÃO
    (Olavo Bilac)

    Negro, com os olhos em brasa,
    Bom, fiel e brincalhão,
    Era a alegria da casa
    O corajoso Plutão.

    Fortíssimo, ágil no salto,
    Era o terror dos caminhos,
    e duas vezes mais alto
    Do que seu dono Carlinhos.
    Jamais à casa chegara
    Nem a sombra de um ladrão;
    Pois fazia medo a cara
    Do destemido Plutão.
    Dormia durante o dia,
    Mas, quando a noite chegava,
    Junto à porta se estendia,
    Montando guarda ficava.
    Porém Carlinhos, rolando
    Com ele ás tontas no chão,
    Nunca saía chorando
    Mordido pelo Plutão...
    Plutão velava-lhe o sono,
    Seguia-o quando acordado
    O seu pequenino dono
    Era todo o seu cuidado.
    Um dia caiu doente
    Carlinhos... Junto ao colchão
    Vivia constantemente
    Triste e abatido, o Plutão.
    Vieram muitos doutores,
    Em vão. Toda a casa aflita,
    Era uma casa de dores,
    Era uma casa maldita.
    Morreu Carlinhos... A um canto,
    Gania e ladrava o cão;
    E tinha os olhos em pranto,
    Como um homem, o Plutão.
    Depois, seguiu o menino,
    Segui-o calado e sério;
    Quis ter o mesmo destino:
    Não saiu do cemitério.
    Foram um dia à procura
    Dele. E, esticado no chão,
    Junto de uma sepultura,
    Acharam morto o Plutão.

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