quarta-feira, 21 de março de 2018

Prosa Poética



Guando aquele anjo desceu ao mundo dos homens percebeu as grandes estruturas de suas cidades mortais. Era de ferro forjado os gigantescos obeliscos de concreto, abertos em pequenos sulcos onde, como abelhas, viviam e perambulavam os mortais, alguns sem nunca pisar no pó de ossos e cilica daqueles vales desvatados pela história mundana.
Seus olhos passaram por rios secos e fontes violadas por canos de latão e alumínio.  Que desciam e subiam como vermes pela superfície arenosa, onde em suas sombras se erguiam barracas de parcos humanos cobertos por uma miríade de panos e plástico.  Onde, como pequenos pulgões na paisagem, extraiam o pouco de água através de arriscadas obturações.
 Seus olhos viram longas valas cobertas de ossos.  Onde o atrito e o tempo formava camadas de uma mórbida geologia. De massacres antigos que hoje serviam para extrair cálcio e húmus.Seres de ferro roíam aquela paisagem grotesca. Formando linhas simétricas, dançando como vermes perfeccionistas se alimentando da derme de um animal  morto.
Esse anjo passou por cidades e cidades vazias, onde o pó cobria o  que antes fora vida.  Onde hoje os escuro é temido, onde infesta uma vida esquia daqueles que no abandono e na fome esqueceram de todo o resto, homens e ratos se devorando. Sob escombros daquilo que não mais reconhecem, estes resquícios do esquecimento perambulam de cócoras por entre ruínas de uma cultura.
Mas o anjo passou por longos desertos de sal. Onde a morte impera á não ser por estranhas figuras secas, tecendo fios entre fendas corroídas, esperando entre o estupor e a fome.  Embarcações alaranjadas pela ferrugem ruíam e gemiam como moribundos cães abandonados.
E quando  este anjo contornou todo o globo, pousou  em um crânio de um gigante esquecido. No alto de uma montanha onde este prodígio descansou em sua última noite. E quando este anjo olhou para aquela paisagem vendo a ruína de nossa espécie simplesmente bateu suas asas para outro planeta, havíamos fracassado no jogo dos cosmos, tornamo-nos ferrugem e poeira. Como tantos outros milhares de globos em um vazio breve...
Outro planeta e outra espécie, pensou o anjo, talvez outra espécie em outro planeta vingue.

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