sábado, 29 de junho de 2013

Sonetos antigos em prosa...



Experimentando...


Soneto I

Eu não mais enxergo aquele meu rosto... Todo o meu calor findou e foi perdido lá nos vendavais de velhos desgostos, todos de um futuro estranho e vencido. Traços de um amor ao ontem retido todo num sonhar, ferrugem é o meu gosto e traço, de um homem viajante: estranho e esquecido. Sou o tal  que voltou de um fim decomposto.
Já não mais enxergo aquilo que escrevo, esta má melodia de tempos amigos, neste manuscrito de vis tatuagens. Nem sei se me lembro além do que não devo: linhas que carrego in-derme e comigo numa confusão de mil maquiagens! 

Soneto II

Segunda feira perdida no batente. Domingo esmera a rotina que resiste. E a morte espera tão terna e tão contente tal todo aquele mormaço que resiste.
Vem terça feira, na tarde sempre triste de um outono azul. A marinha cor se sente nas poças d'agua, num blues que bem consiste na luz da noite de fim de expediente.
O bar de sexta, semana que apagada me lembra as quintas já mortes e enterradas, portões fechados p'ra vida ser cigana. E o  vinho no copo descartável se torna o éden de todo miserável na noite opaca do início de semana.

Soneto III

Felizes as pessoas, são todas felizes janelas por brilhar nos prédios, que são vidas distantes a luzir. As vidas refletidas são belas fantasias, são todas boas atrizes. Mas neste mundo cinza imerso em pesticida as luzes por brilhar são todas meretrizes. Perdidas se cortando e escondem cicatrizes fugindo do terror de serem percebidas.
É tudo propaganda entenda a brincadeira. As proles ao cantar o fel mais hedonista, sorriso de amarela estampa corriqueira. As luzes! Ah as luzes! A encantar são apenas... é só luz! Que ainda vai apagar. Sumir vai... da vista! Tal vidas que estão lá e no fim nada reluz ...



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Uma idéia...




Toda palavra tem poder. Toda discurso em certo aspecto afirma e molda uma realidade. O humorista, o jornalista, o bardo, o romancista são, deste modo, os mais poderosos demiurgos.
Se fala isso dês do que conhecemos por ser humano. Este ato, de comunicar-se está imbricado em nossa realidade de modo que se versa enquanto cria. Em suma, estamos o tempo todo afirmando e negando realidades e afirmando nossas concepções.
Se a realidade é formulada pelo modo que significamos e coordenamos ela frente à outras concepções de realidade. Pode-se afirmar, que um tarologo copetente junto com o consulente, não são oraculares mas sim um "mecanismo manejador de universos".

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quantos anos tem este blog?
Lembro-me dês de 2005.

8 anos e sinto que estou ficando velho.

Tenho medo de ir dormir e amanhã ser outro dia.

Namoro uma menina de brasília que tem o sorriso mais lindo que já vi.

E neste momento estou escutando mascara negra na vós de Zé Keti.

Me veem em mente um soneto.


 Cae o sol, como já queimado facho...
 Do lado opposto espia a noite informe...
 Tu me perguntas se isto é bello?. e eu acho.
Gaivotas - Luiz Delfino

Ps: Ontem foi o um marco na revolta do vinagre.

sábado, 8 de junho de 2013

Chá de Hibiscus




Chá de Hibiscus 

Foi como se aquele estranho, ao embaralhar as cartas, tivesse previsto tudo. Antes que o segurassem, conseguiu esconder seus pertences no casaco. Casaco aliás, que mesmo anteriormente amarrado em sua cintura, suavizou as surras e pelo seu aspecto morfético, como se costurado com a pele de ratazanas pré-digeridas, fez com que esta coisa continuasse com o dono. Depois da surra, meio sem saber onde estava, tirava o Louco e na carta invertida o Sol, depois o Enforcado. Louco primeiro pois era a carta ativa e o sol, obviamente inativo, já o enforcado era a questão. Falta agora a conclusão e o consulente.
 Seu nome era Jeremias e ele bebia. Misturando aguardente, chá de hibisco para assim pensar melhor. Acreditava que esta era uma ótima forma de emagrecer, mas no momento esta não era a preocupação, com as cartas apoiadas em sua barriga, sua testa frangia centrada em como sair desta encrenca. Mas, acima de tudo, no porque dela.
 Estava em um barco fuleiro em alto mar. Tudo o que ele tinha, era justamente o que sempre lhe ajudou a pensar. O Louco, era óbvio, já estava respondido: Ele não sabia porra alguma do que fazer e não conseguia lidar com a gravidade da situação, no mar, era o próprio cenário a invocação do arcano: a instabilidade do mar e o abismo oculto era o seu sorriso de ironia. E o Sol invertido apenas afirmava isso.
 Mas e o enforcado? O sacro e o ofício? O sacrifício, a ação mais pura do homem santo? Ou, uma troca de merda. Ele já sabe o que perdeu, mas não é ai que o enforcado entrou. De jeito nenhum. Mas a situação já estava pelo pescoço, nem uma ave no céu, nem uma nuvem, era o azul mortal. Sentir-se-ia mais feliz se fosse um leproso, ou quem sabe um pouco de sífilis? Essas questões, pensou, não importavam no momento, era melhor voltar à realidade.
Resolveu tirar a vez do consulente, apresentou-se o Diabo, bem aquilo fazia sentido, isso deixava as coisas mais claras. É mesmo, agora ele se lembra, andara correndo nu atacando as pessoas às mordidas. Só que não, não era licantropia, pois se não haveria um sentido e não loucura. Mas não, ele não se transformava, era apenas um impulso, de sua cabeça quando esta descia pra baixo ou virava de ponta cabeça? O pentagrama estava invertido? O impulso animalesco foi a prisão da loucura? O irracional...
Mas questionar a natureza do surto não ajudava em nada, em suma: Fora exilado no limiar dos mundos, na representatibilidade da loucura, por estar dominado pelos instintos e terá de sacrificar-se de alguma coisa, em sua plenitude moral, na superação de si. Pois bem, conclusão? Ha! Sim, que bom, a Morte, alguma coisa vai mudar. A libertadora suprema, a grande abertura para o desconhecido. Mas para isso tem de abrir mão de alguma coisa. No meio do nada?
Tinha apenas o chá de hibisco batizado, o tarot, seus tormentos, o barco e o casaco. Achou melhor terminar a garrafa, encher a cara, pensar melhor. Apagar de uma vez, que se dane. Não sentiu a salvação bater em seu barco, uma embarcação maior, com remo desta vez. Mas naquele estado era, enfim, dado como um homem morto, talvez empesteado, não subiriam o “cadáver” que dormia no sono dos tolos. E a morte estava ali, decepcionada, por sorte não havia ninguém embaixo que a visse descer.



 Exercício de frases:Foi como se aquele estranho, ao embaralhar as cartas, tivesse previsto tudo. e por sorte não havia ninguém embaixo que a visse descer.