quinta-feira, 3 de maio de 2012

Presságio (Prosa)




Eu vi o diabo desembarcar na ilha e trazia nas suas costas a matilha de faces deformadas no mormaço tão denso, tão denso nos seus traços. Nos estilhaços de seus escravos bem pululava um torpe argumento que decompunham os restos ululantes, restos que gemiam de dor, em medo, num desespero desesperançado. São feitos de memórias distorcidas, como bonecas autômatas de um gênio mau. Felizes nas suas festas, olhando estas figuras que brandiam seus  vícios como estandartes, clamando velhas posturas que perdiam-se em vestígios mornos de suas artes. Uma escatológica caricatura de cacofonias inconclusivas, discursos indiretos de velhas mentiras sobrepujando movimentos deteriorados.
Ó! Admirável Mundo Novo, eu vi o diabo desembarcar na ilha e trazia nas suas costas a matilhas de gente que tão bem conhecia...
Em um segundo o mundo tornou-se um corpo imundo, o grotesco mais profundo a rir, a rir de mim desdenhando da verdade mais silente, querendo a atropelar no silêncio ruidoso daquela festa, se dissolvendo no recobrar de minha sanidade. As suas milhares de bocas penetravam naquelas almas conhecidas, e aquela atração estranha, aquele destino eu podia dissolver em asco. Eu, como um rato, me mantive puro pressentindo a tempestade.

Soneto


Soneto

Onde estas, tesouro precioso?
Neste enxame, nestas luminárias,
nestes prédios turvos os colossos?
Onde estás nas turbas solitárias?

Tudo grita um grito de alvoroço,
nesta festa a orgia reacionária
nos arranca os nomes, não sei moço
onde estão as lembranças refratárias.

Neste mundo oscuro em espetáculo,
falsas luzem levam  horizontes
nesta festa cega e ensandecida.

Nisto o tempo erguendo seus tentáculos
leva tudo aquilo que lhe afronte,
toda a identidade destruída...